sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

CONHECER A DEUS É CONHECER A VERDADE


No início desta reflexão ou caminhada espiritual que vamos tentar empreender juntos, precisamos ter uma certeza que deve nos acompanhar. Qual é a nossa visão de Deus? Conforme a idéia que tivermos d’Ele será nossa vida. Se Deus estiver longe da minha vida, certamente eu não poderei obter a verdadeira felicidade.
São João da Cruz no livro da Chama Viva de Amor diz que "Deus é simplicíssimo" e nos ama com seu simplicíssimo Amor. Nós complicamos um pouco a Deus, complicamos toda nossa vida e por isso nós gostamos de falar de coisas difíceis, no entanto a vida é mais transparente, mais simples do que possamos pensar. Nós procuramos criar argumentos teóricos que muitas vezes nos afastam da realidade de nossa vida.
No Evangelho de Lucas (9, 18), Jesus nos diz: "Ora, como estivesse Jesus em oração num lugar afastado, os discípulos estavam com Ele e Jesus os interrogou: Quem sou eu no dizer das multidões?
O mesmo Jesus coloca esta pergunta: Quem sou eu? Esta pergunta nós a encontramos presente em quase toda Sagrada Escritura. O homem tem o desejo de saber aquilo que ele é, a sua identidade, a sua realidade estando em oração. Por esta razão, o retiro é um momento oportuno para nos colocarmos esta pergunta: Quem sou eu? A resposta que nós damos a esta pergunta, faz nascer uma série de consequências para nossa vida, no nosso dia a dia. O retiro não é um curso de teologia dogmática moral nem espiritual. É uma reflexão de coração a coração, numa atitude de simplicidade, de abertura a graça do Senhor para poder descobrir dentro de nós a riqueza que possuímos. Deus se preocupa comigo, Ele quer que eu encontre a verdadeira realização para a qual fui criado: participar de sua existência, de seu amor.       
O catecismo da Igreja Católica, quando fala sobre o homem; diz que o homem é um ser capaz de receber a Deus. De conhecê-lo, amá-lo, de servi-lo aqui na terra, para depois podê-lo gozar em plenitude. Nós somos capazes de conhecer a este Senhor. Santo Agostinho nos recorda que: "O nosso coração está inquieto, anda angustiado, até que não descanse em Deus. Nos criaste por Ti e o nosso coração se sente incompleto até que não encontre novamente a fonte, a nascente de onde ele veio".
Nesta reflexão não vamos fazer perguntas a antropologia, nem a psicologia ou a psicanálise. Não porque não sejam importantes, pelo contrário, mas sabemos de suas limitações para a definição de nosso objetivo. Nós buscamos outras respostas ligadas a caminhada mais profunda do homem, a Fé e ao Amor, que satisfaçam mais ao coração do que a inteligência.
Jesus perguntou quem sou eu no dizer do povo. Quem sou eu no dizer da comunidade, das pessoas que me conhecem? Jesus não ficou satisfeito com as respostas que os discípulos lhe deram. Alguns dizem que tu és João Batista, outros tu és Elias, outros é um profeta que ressuscitou. Jesus não se sentiu bem com isto. Ele continua a interrogar: "E para vós quem eu sou"? Pedro dá uma resposta que satisfaz Jesus, uma resposta que vem do alto, não da teologia, da reflexão, mas do contato experiencial que os discípulos tinham com Jesus. É a partir daí que Pedro pode concluir: "Tu és o Cristo de Deus". Jesus dirá para Pedro que esta resposta não vem da carne, não vem dos sentidos, mas a resposta vem do alto. É o Espírito que te deu esta resposta, portanto o conhecimento de Jesus vem através do Espírito Santo. Quero neste momento vos convidar a fazermos uma oração. Vamos pedir a graça ao Espírito Santo de podermos descobrir quem é Jesus para nós e para nossa comunidade, vamos pedir ao Senhor a Graça de sermos fraternos, de nos amarmos de verdade.
Para conhecer a verdadeira identidade da pessoa humana, precisamos do Espírito Santo, da Sabedoria de Deus através da experiência a luz da Palavra. Fora desta luz o homem anda nas trevas e não encontra o caminho certo. Nós fomos criados por Deus para vivermos uma vida de relacionamento profundo com nossos irmãos. Fomos criados para partilharmos nossa experiência de amor.
Vamos acolher a Palavra que iremos refletir neste momento, que ilumina a nossa identidade humana e espiritual. Segundo Paulo, precisamos acolher a Palavra assim como ela é; como Palavra de Deus. Não é para ser questionada, mas para ser acolhida dentro de nós.
Mateus no capítulo 7, 24 nos recorda a necessidade da escuta e prática da Palavra. São dois verbos que sempre andam juntos na Bíblia. Não há uma escuta solitária e também não há uma prática solitária. As duas andam sempre no mesmo caminho. Aquele que acolhe e pratica a Palavra, é semelhante a um homem prudente, aquele que construiu a sua casa sobre a rocha, caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e precipitaram-se contra aquela casa e ela não desabou, porque estava edificada sobre a rocha. A rocha que é a Palavra,  é a Tradição,  é todo caminho do povo de Israel, são todos os sacramentos, especialmente a Santíssima Eucaristia que é o centro da vida cristã. Aquele que escuta e não pratica a Palavra é semelhante a um homem insensato que construiu a sua casa sobre a areia, sua casa desaba pela  falta de base.
O conhecimento teórico da Palavra não significa santidade. Todo conhecimento adquirido exige prática e vivência. Nos encontramos hoje numa situação muito favorável de conhecimento teórico da Palavra de Deus, da nossa vocação cristã e de nosso ideal. Percebemos, no entanto, a falta de esforço, de perseverança, de construção, de fazer que esta Palavra que a gente conhece se torne carne, se torne vida.
A Fé é a aceitação do Mistério inefável de Deus em nossa vida. O capítulo onze da Carta aos Hebreus é o hino mais belo sobre a Fé. Aí temos uma descrição da Fé, uma manifestação da Fé na vida concreta. "A Fé é substância do que não se vê, é o alimento e o alicerce da nossa Esperança. Sem a Fé é impossível de sermos agradáveis a Deus". Nele são apresentados todos os grandes campeões da Fé, desde Abel até Samuel e os profetas.
Nós queremos acolher a Palavra de Deus nesta dimensão de Fé. Vamos perguntar a Bíblia quem é a pessoa humana. Vamos nos servir de Gn 1, 26-27. Deus vai organizando o universo é carinhoso. Precisamos recuperar a sensibilidade da ternura de Deus, da sua misericórdia, da beleza que Ele opera. A contemplação não é outra coisa que fixar nosso olhar e nosso coração em Deus. É saber sentir nas coisas mais simples da natureza este Deus que está presente. Daí temos uma diferença entre o panteísmo e o cristianismo. O panteísmo faz as coisas deus e o cristianismo crê que as coisas foram feitas por Deus. O panteísmo deifica as coisas. O cristianismo coloca Deus como centro de todas as coisas e no coração dos homens a grande presença divina.
A nova era que está surgindo, é um panteísmo novo, não sabemos captar até que ponto ela é uma ajuda para a descoberta do Senhor, ou até que ponto ela pode prejudicar. Cada coisa criada traz a marca, o carimbo de Deus, precisamos olhar atrás das coisas aonde Ele vai acontecendo, falando e se revelando. Deus está sempre presente porque Ele é eterno. Tudo depende da sensibilidade do homem para perceber mais ou menos a presença de Deus. Os santos sentiram com clareza a presença de Deus. Podemos citar o exemplo do santo padre Pio que se comovia de tal forma ao celebrar a eucaristia convencido do grande mistério que ele celebrava. Deus criou todas as coisas, mas não encontrou comunicação, não encontrou comunhão e para este fim nós fomos criados.
A teologia, neste momento histórico que vivemos parte sempre do mistério trinitário, porque a Trindade é comunhão. Nós não podemos entender a vida humana, religiosa e cristã sem partir da comunhão. Deus não pode ser compreendido sem este aspecto da comunhão, mais do que comunicação. Esta comunhão lidera em toda natureza e em todo universo. Nestas primeiras páginas do Gênesis, Deus tenta entrar em comunhão com as coisas e não consegue, por não ter correspondência, não tem acolhida nesta comunhão que Ele é.
A verdadeira conversão se mede na mudança de nossas relações interpessoais. Não podemos falar no aspecto mecânico ou extraordinário de nossa conversão se não nos avaliarmos sobre a forma de acolhida do principal mandamento nos dado por Jesus Cristo que é a Caridade Fraterna. Preciso amar ao meu irmão. Mesmo que ele seja diferente de mim, mesmo que ele não me ame, eu preciso amar, eu preciso adorar a Jesus presente no fundo do coração de meu irmão.
Gostaria que neste momento nós fizéssemos uma oração pelo nosso irmão, pelo mistério trinitário que ele representa. Este exercício não é fácil, mas é isto que Jesus pede de nós. Eu preciso de uma transformação desde dentro em relação aos meus irmãos.
O verdadeiro amor é exigente por isto que ele é transformante. Eu preciso de uma experiência de transformação para que eu seja realmente feliz.

Padre Giribone - OMIVICAPE

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