No início desta reflexão ou caminhada espiritual que
vamos tentar empreender juntos, precisamos ter uma certeza que deve nos
acompanhar. Qual é a nossa visão de Deus? Conforme a idéia que tivermos d’Ele
será nossa vida. Se Deus estiver longe da minha vida, certamente eu não poderei
obter a verdadeira felicidade.
São João da
Cruz no livro da Chama Viva de Amor diz que "Deus é simplicíssimo" e
nos ama com seu simplicíssimo Amor. Nós complicamos um pouco a Deus, complicamos
toda nossa vida e por isso nós gostamos de falar de coisas difíceis, no entanto
a vida é mais transparente, mais simples do que possamos pensar. Nós procuramos
criar argumentos teóricos que muitas vezes nos afastam da realidade de nossa
vida.
No Evangelho de Lucas (9, 18), Jesus nos diz: "Ora,
como estivesse Jesus em oração num lugar afastado, os discípulos estavam com
Ele e Jesus os interrogou: Quem sou eu no dizer das multidões?
O mesmo Jesus coloca esta
pergunta: Quem sou eu? Esta pergunta nós a encontramos presente em quase toda
Sagrada Escritura. O homem tem o desejo de saber aquilo que ele é, a sua
identidade, a sua realidade estando em oração. Por esta razão, o retiro é um
momento oportuno para nos colocarmos esta pergunta: Quem sou eu? A resposta que nós damos a esta
pergunta, faz nascer uma série de consequências para nossa vida, no nosso dia a
dia. O retiro não é um curso de teologia dogmática moral nem espiritual. É uma
reflexão de coração a coração, numa atitude de simplicidade, de abertura a
graça do Senhor para poder descobrir dentro de nós a riqueza que possuímos.
Deus se preocupa comigo, Ele quer que eu encontre a verdadeira realização para
a qual fui criado: participar de sua existência, de seu amor.
O catecismo da Igreja
Católica, quando fala sobre o homem; diz que o homem é um ser capaz de receber a Deus. De conhecê-lo, amá-lo, de
servi-lo aqui na terra, para depois podê-lo gozar em plenitude. Nós somos
capazes de conhecer a este Senhor. Santo Agostinho nos recorda que: "O
nosso coração está inquieto, anda angustiado, até que não descanse em Deus. Nos
criaste por Ti e o nosso coração se sente incompleto até que não encontre
novamente a fonte, a nascente de onde ele veio".
Nesta reflexão não vamos fazer perguntas a
antropologia, nem a psicologia ou a psicanálise. Não porque não sejam
importantes, pelo contrário, mas sabemos de suas limitações para a definição de
nosso objetivo. Nós buscamos outras respostas ligadas a caminhada mais profunda
do homem, a Fé e ao Amor, que satisfaçam mais ao coração do que a inteligência.
Jesus perguntou quem sou eu no dizer do povo.
Quem sou eu no dizer da comunidade, das pessoas que me conhecem? Jesus não
ficou satisfeito com as respostas que os discípulos lhe deram. Alguns dizem que
tu és João Batista, outros tu és Elias, outros é um profeta que ressuscitou.
Jesus não se sentiu bem com isto. Ele continua a interrogar: "E
para vós quem eu sou"? Pedro dá uma resposta que satisfaz Jesus,
uma resposta que vem do alto, não da teologia, da reflexão, mas do contato
experiencial que os discípulos tinham com Jesus. É a partir daí que Pedro pode
concluir: "Tu és o Cristo de Deus". Jesus dirá para Pedro que esta resposta não vem da carne, não vem
dos sentidos, mas a resposta vem do alto. É o Espírito que te deu esta
resposta, portanto o conhecimento de Jesus vem através do Espírito Santo. Quero
neste momento vos convidar a fazermos uma oração. Vamos pedir a graça ao
Espírito Santo de podermos descobrir quem é Jesus para nós e para nossa
comunidade, vamos pedir ao Senhor a Graça de sermos fraternos, de nos amarmos
de verdade.
Para conhecer a verdadeira
identidade da pessoa humana, precisamos do Espírito Santo, da Sabedoria de Deus
através da experiência a luz da Palavra. Fora desta luz o homem anda nas trevas
e não encontra o caminho certo. Nós fomos criados por Deus para vivermos uma
vida de relacionamento profundo com nossos irmãos. Fomos criados para
partilharmos nossa experiência de amor.
Vamos acolher a Palavra que
iremos refletir neste momento, que ilumina a nossa identidade humana e
espiritual. Segundo Paulo, precisamos acolher a Palavra assim como ela é; como
Palavra de Deus. Não é para ser questionada, mas para ser acolhida dentro de
nós.
Mateus no capítulo 7, 24 nos
recorda a necessidade da escuta e prática da Palavra. São dois verbos que
sempre andam juntos na Bíblia. Não há uma escuta solitária e também não há uma
prática solitária. As duas andam sempre no mesmo caminho. Aquele que acolhe e
pratica a Palavra, é semelhante a um homem prudente, aquele que construiu a sua
casa sobre a rocha, caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e
precipitaram-se contra aquela casa e ela não desabou, porque estava edificada
sobre a rocha. A rocha que é a Palavra,
é a Tradição, é todo caminho do
povo de Israel, são todos os sacramentos, especialmente a Santíssima Eucaristia
que é o centro da vida cristã. Aquele que escuta e não pratica a Palavra é
semelhante a um homem insensato que construiu a sua casa sobre a areia, sua
casa desaba pela falta de base.
O conhecimento teórico da
Palavra não significa santidade. Todo conhecimento adquirido exige prática e
vivência. Nos encontramos hoje numa situação muito favorável de conhecimento
teórico da Palavra de Deus, da nossa vocação cristã e de nosso ideal. Percebemos,
no entanto, a falta de esforço, de perseverança, de construção, de fazer que
esta Palavra que a gente conhece se torne carne, se torne vida.
A Fé é a aceitação do
Mistério inefável de Deus em nossa vida. O capítulo onze da Carta aos Hebreus é
o hino mais belo sobre a Fé. Aí temos uma descrição da Fé, uma manifestação da
Fé na vida concreta. "A Fé é substância do que não se vê, é
o alimento e o alicerce da nossa Esperança. Sem a Fé é impossível de sermos
agradáveis a Deus". Nele são apresentados todos os grandes campeões
da Fé, desde Abel até Samuel e os profetas.
Nós queremos acolher a
Palavra de Deus nesta dimensão de Fé. Vamos perguntar a Bíblia quem é a pessoa
humana. Vamos nos servir de Gn 1, 26-27. Deus vai organizando o universo é
carinhoso. Precisamos recuperar a sensibilidade da ternura de Deus, da sua
misericórdia, da beleza que Ele opera. A contemplação não é outra coisa que
fixar nosso olhar e nosso coração em Deus. É saber sentir nas coisas mais
simples da natureza este Deus que está presente. Daí temos uma diferença entre
o panteísmo e o cristianismo. O panteísmo faz as coisas deus e o cristianismo
crê que as coisas foram feitas por Deus. O panteísmo deifica as coisas. O
cristianismo coloca Deus como centro de todas as coisas e no coração dos homens
a grande presença divina.
A nova era que está surgindo, é um panteísmo
novo, não sabemos captar até que ponto ela é uma ajuda para a descoberta do
Senhor, ou até que ponto ela pode prejudicar. Cada coisa criada traz a marca, o
carimbo de Deus, precisamos olhar atrás das coisas aonde Ele vai acontecendo,
falando e se revelando. Deus está sempre presente porque Ele é eterno. Tudo
depende da sensibilidade do homem para perceber mais ou menos a presença de
Deus. Os santos sentiram com clareza a presença de Deus. Podemos citar o
exemplo do santo padre Pio que se comovia de tal forma ao celebrar a eucaristia
convencido do grande mistério que ele celebrava. Deus criou todas as coisas,
mas não encontrou comunicação, não encontrou comunhão e para este fim nós fomos
criados.
A teologia, neste momento
histórico que vivemos parte sempre do mistério trinitário, porque a Trindade é
comunhão. Nós não podemos entender a vida humana, religiosa e cristã sem partir
da comunhão. Deus não pode ser compreendido sem este aspecto da comunhão, mais
do que comunicação. Esta comunhão lidera em toda natureza e em todo universo.
Nestas primeiras páginas do Gênesis, Deus tenta entrar em comunhão com as
coisas e não consegue, por não ter correspondência, não tem acolhida nesta
comunhão que Ele é.
A verdadeira conversão se
mede na mudança de nossas relações interpessoais. Não podemos falar no aspecto
mecânico ou extraordinário de nossa conversão se não nos avaliarmos sobre a
forma de acolhida do principal mandamento nos dado por Jesus Cristo que é a
Caridade Fraterna. Preciso amar ao meu irmão. Mesmo que ele seja diferente de
mim, mesmo que ele não me ame, eu preciso amar, eu preciso adorar a Jesus
presente no fundo do coração de meu irmão.
Gostaria que neste momento nós
fizéssemos uma oração pelo nosso irmão, pelo mistério trinitário que ele
representa. Este exercício não é fácil, mas é isto que Jesus pede de nós. Eu
preciso de uma transformação desde dentro em relação aos meus irmãos.
O verdadeiro amor é exigente
por isto que ele é transformante. Eu preciso de uma experiência de
transformação para que eu seja realmente feliz.
Padre Giribone - OMIVICAPE
Nenhum comentário:
Postar um comentário