quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A TÉCNICA DO OFERECIMENTO


 

A palavra técnica ou tecnologia se refere a um método sistemático para alcançarmos um objetivo. Gostaria de expor algo relacionado com nossa relação com Deus. Algumas vezes me referi aos irmãos da comunidade sobre esta técnica. Tem algo a ver com a “pequena via” de Santa Teresinha que oferecia tudo ao amor misericordioso de Deus. Quando se lê a “História de uma alma” percebemos várias vezes este verdadeiro método de santidade.

A nossa vida é uma peregrinação ao encontro do Criador. Ele nos criou para o eterno convívio com Ele. O que vivemos neste mundo é uma simples preparação para o definitivo. Se oferecermos as nossas contrariedades e dificuldades, ou até os momentos de alegria, estaremos em plena comunhão com o Senhor. Deus permite o sofrimento para que saibamos administrá-lo. Podemos colher muitos frutos de santidade e crescimento espiritual a partir das dificuldades que passamos na vida.

Muitas vezes não encontramos explicação para o que passamos, mas podemos dar um sentido para tudo quando sabemos oferecer. Deus é amor, Ele nos ama sempre, mas quer nos ver mais perfeitos, mais unidos ao seu infinito amor.

Quando oferecemos a Deus o que passamos vamos crescendo no reconhecimento da sua presença em nossas vidas. Desta forma vamos nos “santificando” com a força da Graça de Deus.

Irmãos vamos oferecer tudo ao Senhor e alcançaremos a chave para sermos felizes nesta vida e sermos instrumentos para salvarmos muitas pessoas que dependem de nossa intercessão.


Padre Giribone - OMIVICAPE

sábado, 25 de fevereiro de 2012

"A CADA TENTAÇÃO VENCIDA É UMA GRAÇA RECEBIDA"


 
O tema sobre a conversão é básico neste tempo da Quaresma. Converter-se é entregar-se totalmente a Deus em meio as nossas limitações. Para que a conversão realmente aconteça se fazem necessárias a fé e a humildade. Para reconhecermos o essencial em nossa vida devemos ser humildes e sinceros conosco mesmos. Jesus vence as tentações nos dando exemplo de que quando a vencemos estamos mais abertos a graça de Deus. Elas fazem parte de nossa vida cristã. Mas quando passamos por elas através da força da Palavra de Deus nos tornamos instrumentos fortes de evangelização.


ORAÇÃO:  Concedei-nos, ó Deus onipotente, que, ao longo desta Quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder a seu amor por uma vida santa. Por nosso Senhor Jesus Cristo na unidade do Espírito Santo. Amém.


EVANGELHO (Mc 01, 12-15):
Naquele tempo, o Espírito levou Jesus para o deserto. E ele ficou no deserto durante quarenta dias, e aí foi tentado por Satanás. Vivia entre os animais selvagens, e os anjos o serviam. Depois que João Batista foi preso, Jesus foi para a Galiléia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!”

“Convertei-vos e crede no Evangelho”.

O  sentido desta frase está ligado ao centro da vinda de Jesus. O Evangelho é a boa nova da salvação. Ele sempre será uma novidade para nós. Sempre nos questiona em nossos valores nos levando ao reconhecimento de que embora sejamos limitados, Deus continua nos amando. Quando nos encontramos com Deus que é o sumo bem, somos convidados a mudar de valores. Por esta razão que Jesus Cristo tem poucos amigos pois são poucas as pessoas que realmente querem uma transformação de seus corações. A busca da verdade que supera o mal.
Se formos falar em conversão no sentido físico, veremos que é uma retomada de direção. É uma alteração na trajetória. A conversão no sentido espiritual é a aceitação da realidade de que somos criaturas de Deus e que precisamos nos voltar para Ele. Toda mudança provoca dor e desconforto. Hoje há pouca conversão porque se fica muito nas alegrias momentâneas e se esquece a felicidade verdadeira que é a paz de consciência.
A nossa vida não é uma mera coincidência. O pano de fundo de nossa vida é o amor estável de Deus por todos nós. Quando somos sinceros nos abrimos à verdade que nos tornará realmente livres. Não existe conversão sem sinceridade, sem abertura de coração.
A novidade do Evangelho precisa transformar a nossa vida. Mais do que máquinas e tecnologia precisamos melhorar nossas relações afetivas. Não podemos nos perder no que não é essencial. Esta vida é uma peregrinação rumo à eternidade.
A pessoa humana vale muito mais que um valor monetário. Deus nos criou conforme a sua imagem. Ele nos quer muito e nosso investimento deve ser na prática do amor e da solidariedade. Não existe melhor poupança nesta vida do que fazer o bem, pois este jamais se afastará de nós.
Quantas pessoas que gostariam de retornar de suas situações de enfermidade para dizerem aos que se perdem na superficialidade o que é essencial. Vamos começar aqui e agora a lutar para que este mundo seja mais justo e solidário e que possamos aproveitar todos os valores de nossa vida em direção ao Eterno e não ao transitório. Aproveitemos bem este tempo que o Senhor está nos dando. Ele é precioso para alcançarmos a vida eterna. Temos que lutar para que o Evangelho entre em nossas vidas para sermos um sinal do amor de Deus para todas as pessoas.

“Senhor Jesus queremos entregar a nossa vida em vossas mãos para superarmos nossas limitações e vivermos o amor e a solidariedade dentro do mundo.”

Padre Giribone - OMIVICAPE

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

NOSSA SENHORA DO CARMO



No dia 16 de julho de 1251, Nossa Senhora aparece a São Simão Stock, apresentando a ele o Santo escapulário como uma veste de proteção contra o egoísmo na tentativa de imitar as virtudes da “Cheia de Graça”. Maria está sempre atenta aos seus filhos, ela tem um cuidado todo especial para que eles não se percam nos desvios solicitados pela forma errada de se usar a liberdade.
Para o(a)s carmelitas do mundo inteiro está é a principal solenidade. Nossa Ordem desde o início foi consagrada a Mãe do Salvador. No monte Carmelo (Jardim Florido), os nossos primeiros eremitas alimentaram um grande amor a Mãe de Jesus.
Quando colocamos Maria como modelo de virtude na plena aceitação da vontade de Deus em sua vida, estamos mais próximos do verdadeiro seguimento de Jesus Cristo. A obediência a Deus pela Fé que Maria viveu foi fundamental para a concretização do plano salvífico de Deus.
O verdadeiro devoto de Maria jamais se perderá. O mundo vive na promoção das “relações comerciais”. Infelizmente não temos mais espaço para o fundamental da existência humana, nos perdemos no superficial. Quando vivemos a contemplação e a aceitação do mistério de Deus como Maria viveu, estamos aptos para administrar a nossa vida dando-lhe um sentido solidário que leva a uma vivência comunitária.
Maria pelo seu sim nos favorece a salvação. Ela jamais pensou em sua realização pessoal. Ela quer que todos sejam felizes ao lado de seu Filho Jesus. O Santo Escapulário representa uma profunda delicadeza de Maria que quer ajudar de qualquer forma, seja do modo mais simples possível, aos seus filhos a serem livres do pecado.

“Obrigado Senhor por ter-nos dado a sua Mãe para nos proteger e amparar nesta peregrinação rumo à eternidade...”
 
O Escapulário:

·        Compromete a viver o ideal desta família religiosa que é a amizade íntima com Deus através da oração;

·        Apresenta o exemplo dos santos e santas do Carmelo com os quais se estabelece uma relação familiar de irmãos e irmãs;


·       Expressa a fé no encontro com Deus na vida eterna pela intercessão de Maria e sua proteção.

O Escapulário do Carmo é:

Um sinal "forte" aprovado pela Igreja há vários séculos e representa nosso compromisso de seguir a Jesus Cristo como Maria: abertos a Deus e a sua vontade; guiados pela fé, pela esperança e pelo amor; solidários aos necessitados; orando constantemente e descobrindo a presença de Deus em tudo; um sinal que introduz na família do Carmelo; um sinal que alimenta a esperança do encontro com Deus na vida eterna sob a proteção de Maria Santíssima.

Normas práticas

·        O Escapulário é imposto uma única vez por um sacerdote carmelita ou outra pessoa autorizada. Depois de muito uso pode ser substituído por outro sem a imposição do sacerdote.
·        Pode ser substituído por uma medalha que represente por uma parte a imagem do Sagrado Coração de Jesus, e por outra a da Virgem. Esta medalha é abençoada quando é trocada.
·        O Escapulário é para os cristãos autênticos que vivem conforme as exigências evangélicas, recebem os Sacramentos e professam uma especial devoção a Santíssima Virgem (expressada com a reza cotidiana de ao menos três Aves Marias).

sábado, 18 de fevereiro de 2012

CURA DO PARALÍTICO



VII DOMINGO DO TEMPO COMUM (B)


“NOS TORNAMOS PARALÍTICOS QUANDO NOS ESCONDEMOS DA FACE DE DEUS”.

A Paz do Senhor Jesus Cristo esteja sempre convosco!

Estamos sendo influenciados pelo negativismo no mundo que nos torna paralíticos no crescimento do amor. No evangelho deste próximo domingo Jesus cura um homem de boa vontade que é transportado até ele de uma forma peculiar. Seus amigos levam até a presença de Jesus através de uma fenda no telhado da casa. Eles queriam a cura de seu amigo, sendo que ele também confiou na possibilidade de ser curado por Jesus. Este lhe perdoa imediatamente os seus pecados que é o causador da pior paralisia que a pessoa sofre nesta vida: se esconder da presença de Deus.

ORAÇÃO: Concedei ó Deus todo-poderoso, que, procurando conhecer sempre o que é reto, realizemos vossa vontade em nossas palavras e ações. Por nosso Senhor Jesus Cristo vosso Filho na unidade do Espírito Santo. Amém.


EVANGELHO (Mc 02, 01-12):
Alguns dias depois, Jesus entrou de novo em Cafarnaum. Logo se espalhou a notícia de que ele estava em casa. E reuniram-se ali tantas pessoas, que já não havia lugar, nem mesmo diante da porta. E Jesus anunciava-lhes a palavra. Trouxeram-lhe, então, um paralítico, carregado por quatro homens. Mas não conseguindo chegar até Jesus, por causa da multidão, abriram então o teto, bem em cima do lugar onde ele se encontrava. Por esta abertura desceram a cama em que o paralítico estava deitado. Quando viu a fé daqueles homens, Jesus disse ao paralítico: “Filho, os teus pecados estão perdoados”. Ora, alguns mestres da lei, que estavam ali sentados, refletiam em seus corações: “Como este homem pode falar assim? Ele está blasfemando: ninguém pode perdoar pecados, a não ser Deus”. Jesus percebeu logo o que eles estavam pensando no seu íntimo, e disse: “Por que pensais assim em vossos corações? O que é mais fácil: dizer ao paralítico: ‘Os teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levanta-te, pega a tua cama e anda’? Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem, na terra, poder de perdoar pecados, - disse ele ao paralítico: - eu te ordeno: levanta-te, pega a tua cama, e vai para tua casa!” O paralítico em tão se levantou e, carregando a sua cama, saiu diante de todos. E ficaram todos admirados e louvavam a Deus, dizendo: “Nunca vimos uma coisa assim”.


"Teus pecados estão perdoados. Levanta-te, pega a tua cama e anda”.

A fé é essencial para nossa salvação. O caso que nos é relatado no Evangelho é muito interessante. Percebemos a fé do paralítico e dos homens que querem levá-lo de qualquer forma ao encontro de Jesus na certeza de que ele seria curado. Jesus inicialmente perdoa os seus pecados. Para Ele é mais importante a relação com Deus que o pecado destrói do que um problema físico. Por esta razão é criticado pelos sábios da lei que estavam presentes no local.
Quando nos entregamos totalmente ao Senhor, vencendo todas as barreiras encontramos o sentido último de nossa vida. O paralítico auxiliado pelos seus colegas consegue chegar até Jesus. Este ato de fé é recompensado com sua cura física e espiritual. Somos convidados por Jesus a vencer a grande barreira de nosso comodismo para irmos ao encontro do Senhor vivendo os valores essenciais que Ele nos deixou. Para iniciarmos um projeto de vida que nos faça feliz devemos ir pelo caminho do despojamento. Vencer a barreiras de nossa vida de forma sistemática
É interessante que em um primeiro momento Jesus não olha para a deficiência do homem, mas de sua fé e suas limitações espirituais provocadas pela ação do pecado em sua vida. Quando a pessoa sente em seu coração o efeito da misericórdia divina ela se torna uma nova pessoa. Quando sentimos o amor maior que o Criador sente por nós nos transformamos. Deixamos de amar o corruptível e passamos a amar o incorruptível.
Jesus é condenado por afirmar o poder de perdoar os pecados do paralítico. A relação entre pecado e castigo é tão antiga quanto à história da humanidade. Ainda hoje encontramos pessoas que pensam que sua enfermidade possa ser causada pelos erros que tenham cometido. A dimensão da dor e do sofrimento em nossa existência é muito mais ampla. Estamos dentro do mistério do amor de Deus que exerce uma “mistagogia”, quer nos levar até Ele, de uma forma misteriosa. Muitas vezes o sofrimento e a angústia são instrumentos utilizados por Deus para que aconteça em nossa vida uma profunda transformação de valores. A doença e o sofrimento não são maldições, mas podem ser transformadas em bênçãos conforme nosso oferecimento. Muitos homens e mulheres se santificaram no leito de dor. Vemos na vida de Santa Teresinha como ela soube oferecer sua enfermidade pelos missionários se tornando, após sua morte, padroeira universal das missões sem nunca ter saído do mosteiro.
Juntamente com os pecados, o homem é curado do mal físico que possibilitará a sua autonomia. Uma nova vida. Deus nos quer livres para praticar o bem. Quando utilizamos a nossa liberdade na dimensão de relacionamento com Deus e com o próximo, somos realmente curados, vivemos o amor que traz sentido a nossa vida.
Infelizmente preferimos muitas vezes a crítica que não constrói. Facilmente vemos o lado negativo das pessoas nos esquecendo de nossas próprias falhas. Na realidade somos todos amados por Deus na mesma medida.
Como cristãos somos convidados a participar do processo curativo de Jesus. Hoje precisamos oferecer as pessoas à libertação do egoísmo e da auto-suficiência que leva o homem a sua própria ruína.


“Ajuda-nos Senhor Jesus a sermos seus instrumentos de cura e libertação no meio do mundo.”


Padre Giribone - OMIVICAPE

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

VENI CREATOR SPIRITUS



Este belíssimo e histórico hino ao Divino Espírito Santo deveria ser rezado e cantado por todos os cristãos do mundo inteiro. Ele é uma fonte de Graça para nós. Deveria ser rezado no momento em que clamamos por uma nova Efusão do Espírito Santo.

 



Veni, creator Spiritus,
mentes tuorum visita,
imple superna gratia,
quae tu creasti, pectora.

Qui diceris Paraclitus,
Donum Dei altissimi,
Fons vivus, ignis, caristas
Et spiritalis unctio.

Tu septiformis munere,
Dextrae Dei digitus,
Tu rite promissum Patris
Sermone ditans guttura.

Accende lumen sensibus,
infunde amorem cordibus,
infirma nostri corporis
virtute firmans perpeti.

Hostem repellas longius
Pacemque dones protinus;
Ductore sic te praevio
Vitemus omne noxium.

Per te sciamus da Patrem
Noscamus atque Filium,
Te utriusque Spiritum
Credamus omni tempore.
Amen.



Ó Espírito que suscitais o criado,
penetra os teus fiéis em profundidade,
derrama a plenitude da graça
nos corações que para ti criaste.


És o Consolador e o Advogado,
pelo Pai altíssimo dado aos filhos,
fonte viva, caridade que inflama,
unção que santifica e cura.


Concede a quem te invoca os sete dons,
Tu, dedo da direita do Senhor,
que cumpres as promessas dos profetas
Dotando os lábios de palavra nova.


Ilumina, vivifica as mentes,
nos corações infunde a vontade de amar,
fortifica os cansados membros nossos
com a fiel e doce força tua.


Dispersa e põe em fuga o adversário antigo,
concede logo a paz com alegria,
assim, por ti guiados à verdadeira vida,
evitaremos a sedução do mal.


Faze, reconheçamos o Bom Pai
no rosto de seu Filho feito carne
e a ti, que unes ambos no amor,
ouçamos e louvemos todo o tempo.
Amém.

Este hino ao Espírito Santo é um dos mais antigos e tradicionais da Igreja. O autor hoje considerado mais provável é Rabano Mauro, Abade de Fulda na Germânia e arcebispo de Mogúncia. Que viveu entre o final do século VIII e a primeira metade do século IX. Grande teólogo e conhecedor dos santos Padres. É uma grande forma de oração para obtermos a graça santificante que o Espírito Santo provoca em nós.
Sempre que invocamos com devoção a presença do Espírito Santo há uma transformação em nossa vida. Este hino é completo porque trata de toda a Obra de santificação que Ele realiza em nossa vida. É o hino que nos conduz a plena unidade e a plena verdade da presença de Deus em nossa vida.
Quando descobrimos o Espírito Santo, percebemos o que realmente somos: profundamente amados e perdoados por Deus. Tudo depende de nossa entrega. A fé é um processo de aceitação do mistério da presença de Deus em nossa vida. Quando invocamos o Espírito Santo estamos dizendo que a nossa vida depende de Deus e que só seremos felizes ao seu lado.
Vamos ver o que aconteceu com os discípulos de Jesus Cristo? No capítulo 02 do livro dos Atos dos Apóstolos percebemos uma “transformação” na vida destes seguidores de Jesus. Eles conviveram com Jesus, tiveram a graça de ver muitos milagres (sinais) que Ele havia realizado. Tiveram a valiosa experiência de ver Jesus ressuscitado. Só faltava para eles um grande detalhe: não sabiam o que fazer com esta experiência. Eram medrosos, tímidos, preocupados com o que os outros pudessem dizer deles.
Quando o Espírito Santo se manifestou na vida dos discípulos de Jesus, eles se tornaram Apóstolos, verdadeiros testemunhas da verdade de que “Cristo está Vivo” e presente no meio de nós. As suas vidas se transformaram num testemunho vivo da realidade da ressurreição de Jesus e da nossa futura ressurreição. Aqueles homens medrosos e tímidos desde o momento da efusão do Espírito Santo, se tornaram grandes conhecedores da vontade de Deus. O amor que eles tinham em seus corações era capaz de confundir aos grandes intelectuais de seu tempo.
Será que este fato foi algo que só poderia ter acontecido naquele tempo? Não, hoje devemos pedir uma nova efusão do Espírito Santo de sua graça, que irá criar em nós a verdadeira transformação no nosso jeito de viver e amar. Precisamos passar de um amor particular para um amor universal. O Espírito Santo nos capacita a viver uma realidade nova em nossa vida. Somos pessoas que passamos a Viver Jesus onde estivermos.
Para concluir podemos afirmar que existem dois tipos de felicidade. Uma superficial, que infelizmente a maioria das pessoas hoje está vivendo e uma profunda que só poderá ser possível em nossa vida quando nos transformarmos em novas criaturas pela ação do Espírito Santo. Por esta razão Ele é fonte de vida nova. Uma fonte inesgotável de verdadeira realização que através da oração podemos perceber em nossa vida.
Este hino poderá ser rezado em todas as ocasiões pedindo que sejamos renovados pelo imenso amor que Deus sente por cada um de nós.

 Pe Giribone - OMIVICAPE



quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

CURA E LIBERTAÇÃO



Para obtermos a verdadeira cura e libertação vamos abrir nosso coração ao Divino Espírito Santo para que Ele nos fortaleça e faça ver a realidade de nossa vida totalmente preenchida pelo amor de Deus. Iniciamos esta reflexão afirmando que todos necessitamos de cura e libertação.
Do que precisamos ser curados e libertados? A resposta podemos encontrar no próprio sentido da paixão, morte e ressurreição de Cristo. Se não precisássemos ser libertados e curados Jesus não teria passado tudo que passou para nos salvar e não teria enviado o Espírito Santo para nos auxiliar em nosso processo de santificação.
A primeira cura e por consequência, a primeira libertação acontece quando nos livramos do pecado e de sua ressonância em nossa vida. O maior problema do pecado é o nosso isolamento de Deus, quebra de comunicação, e a desconfiança de que Ele possa nos perdoar e aceitar novamente.
A nossa oração e todo o nosso empenho deve ser aplicado no reconhecimento do amor que Deus tem por nós. O ser humano é uma bomba que quer se sentir amado e amar. Quando fomos amados na nossa infância, na adolescência, na juventude, na fase adulta, enfim, se estamos nos sentindo amados neste momento, estamos em processo de cura e libertação (Lc 15, 11-32).
A nossa vida é um grande mistério, todos temos altos e baixos, momentos de profunda alegria e de profunda decepção. Muitas vezes nos colocamos no centro do mundo, somos egoístas e auto suficientes pensando que somos uma fábrica de realização pessoal. O pecado nos faz fortes, nos estampa uma alegria superficial que é capaz de convencer aos outros e a nós mesmos. Ficamos “anestesiados” em relação ao amor de Deus e passamos a admirar as coisas do mundo e de nossa sensualidade.
O Espírito Santo vem até nós para abrir o verdadeiro horizonte de nossa vida. Jesus nos diz que iremos conhecer a verdade e a verdade nos libertará (Jo 08, 32). Esta libertação é um processo. Inicia nos aspectos morais de nossa vida até chegar ao íntimo de nosso ser, quando nos sentimos moradas de Deus.
Quando olhamos para Jesus com o olhar do filho pródigo (Lc 15, 11ss), estamos abrindo um grande espaço em nosso interior para sermos curados. Quando Jesus curava os doentes olhava para eles especialmente para a abertura ao amor pela Fé. Jesus curava independente da lei judaica, pois para ele era mais importante a salvação da pessoa que um simples cumprir aparente (Lc 14, 01-07). Toda a mensagem de Jesus se relaciona com a cura do egoísmo. Do pensamento que o mundo gira em torno de nosso eu.
A Fé é capaz de nos curar e de curar os nossos irmãos. Somos consagrados a Deus pelo nosso batismo, todos nós exercemos o sacerdócio comum dos fiéis. O cristianismo é bonito pelo seu altruísmo. Somos parte da comunidade daqueles que crêem em Deus Trindade. Não podemos entender Deus sem utilizarmos o verbo sair. Deus saiu de si mesmo para nos criar com a finalidade de participarmos de sua felicidade. Só seremos felizes quando fizermos os outros felizes. Rezar pelos outros também é um método para nos livrarmos de nossas fraquezas e limitações.
Hoje percebemos muitos “cadáveres ambulantes”, pessoas que não sabem sua origem e nem seu fim. Não sabem quem as criou e para o que foram criados. As relações comerciais estão acima das relações humanas deteriorando profundamente o sentido da vida humana. Quando nos perguntamos o que somos e para onde vamos não nos conformamos com o consumismo que nos consome. Para piorar esta situação existe a manipulação da mídia.
Somos cristãos (portadores de Cristo pela nossa vida), dentro de um mundo descristianizado. As vezes podemos até participar ativamente da Igreja, mas estamos longe de viver os valores daquele que é o centro de nossa Fé. Só o amor poderá construir algo em nossa vida. Podemos perceber na recuperação dos dependentes e dos detentos, que a mensagem que eles necessitam é a realidade de que embora tenham cometidos muitas coisas más, ainda são amados por Deus. Nós até poderemos fazer uma tentativa de esquecer o nosso Criador, mas Ele é incapaz de passar um momento sem se lembrar de nós. As nossas dificuldades, do passado, do presente e do futuro devemos “entregar” a Deus. Elas não nos pertencem, estão fora de nós e poderão até servir para a nossa verdadeira realização. Devemos transformar os limões de nossa existência em limonada.
Quando olhamos para os mártires, vemos ao lado de suas figuras ou imagens o instrumento em que foram torturados. Eles abraçam estes instrumentos tão terríveis de uma forma tão afável e carinhosa que nos impressiona. Acredito que devemos olhar para a nossa história da mesma forma, os instrumentos de tortura que podem ser os aspectos negativos de nossa existência, devem ser vistos de uma outra forma. Um dia estaremos todos na eternidade e iremos rir de nossas limitações e ver que muitas vezes valorizamos em nossa vida aquilo que não tinha tanto valor e deixamos de lado o essencial.
Não podemos nos ancorar em nosso passado. Tudo passa, só Deus basta nos diz Santa Teresa por que ficarmos ancorados nas sombras de nossa vida sem vermos o sol do amor que Deus sente por nós?
Diante de Jesus vivo em nossa vida seremos curados. Vamos perceber tudo que nos passou de uma forma diferente. O amor irá absorver todas as nossas limitações. Se estamos amando o Amor nos transforma, buscamos mesmo na noite o essencial e somos transformados por ele.
O olhar para dentro de nós mesmos é essencial para sermos curados. Os dois verbos entrar e sair são fundamentais. Entramos dentro para sairmos para fora. O cristão se realiza no altruísmo e não no egoísmo.
Quando descobrimos que a nossa existência é importante para Deus e para os nossos irmãos nos comprometemos com a realidade. Isto podemos perceber na vida dos grandes personagens do Antigo Testamento. Moisés se compromete com o povo ao ver um judeu ser mal tratado. A compaixão fez com que ele perdesse a honra do Egito para ser um libertador do povo de Israel. A solidariedade nos impulsiona a fazermos o bem e até mesmo nos faz esquecer de nossas limitações. Moisés percebeu desde o início que era profundamente limitado para libertar o povo mas a missão o arrastou a fazer o bem. Elias tem uma profunda contemplação de Deus e não é por isto que não se sente limitado, pede até para morrer diante das dificuldades.
Jesus está presente na Eucaristia, ele quer nos olhar desde dentro, das nossas dificuldades. Quando nos colocamos na presença de Jesus Sacramentado a nossa vida é transformada. A troca de olhares é fundamental, precisamos nos abrir a momentos importantes de adoração em nossa vida. A reforma de toda a realidade, da nossa vocação, de todo nosso trabalho começa quando nos colocamos diante de Jesus.
Só o amor pode nos curar. Sabemos de fatos concretos de pessoas que se curaram após se sentirem amadas. Crianças deficientes que mal sabiam falar e após uma adoção com muito afeto se transformaram. Nós não sabemos amar, confundimos amor com sexo ou exploração da pessoa do outro. O mundo materialista procura materializar os nossos corações. Quando nos materializamos nos afastamos da realidade última de nossa vida, nos afastamos do Eterno.
Quando acontece um acidente não nos importamos com nosso braço quebrado se temos que socorrer alguém que está muito mal em nosso lado. Quando colocamos o nosso olhar no Eterno somos capazes de vencer nossa limitação para vermos o essencial.
A oração é o caminho mais seguro para sermos o que o Senhor quer de nós. Quando nos comunicamos com Ele nossa vida muda e vamos entendendo com misericórdia as limitações de nossos irmãos.

Padre Giribone - OMIVICAPE

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Os sete dons do Espírito Santo



Em síntese: Os dons do Espírito Santo são como “receptores” aptos a captar os impulsos do Espírito mediante os quais o cristão se encaminha para a perfeição em estilo novo ou com a eficácia que o próprio Deus lhe confere. Possibilitam ao cristão ter a intuição profunda do significado das verdades reveladas por Deus assim como de cada criatura. Proporcionam também tomadas de atitude que nem a razão natural nem as virtudes humanas, sujeitas sempre a hesitações e falhas, conseguiriam indicar ou efetivar.
Para ilustrar o que são os dons, pode-se recorrer à imagem de um barco que navega: se é movido a remos, avança lenta e penosamente, com grande esforço para os remadores. Caso, porém, estes desdobram as velas do barco para que capte o sopro dos ventos favoráveis, os remadores descansam e o barco progride em estilo novo segundo velocidade “sobre-humana”. - Ora o barco movido ao sopro do vento que bate contra as velas, é imagem do cristão impelido pelo Espírito, segundo medidas divinas, para a meta da sua santificação.
Os dons do Espírito Santo são sete, segundo a habitual recensão dos teólogos: sabedoria, entendimento, ciência, conselho, fortaleza, piedade, temor de Deus. Para se beneficiar da ação do Espírito Santo, o cristão deve dispor-se de duas maneiras principais: a) cultivando o amor, pois é o amor que propicia afinidade com Deus e, por conseguinte, torna o cristão apto a ser movido pelo Espírito de Deus; b) procurando jamais dizer um Não consciente e voluntário às inspirações do Espírito. Quem se acostuma a viver assim, cresce mais velozmente na sua estatura definitiva e se configura mais fielmente ao Cristo Jesus.
Em nossos dias a renovação da oração e da espiritualidade cristãs apela freqüentemente para a ação do Espírito Santo nos corações. Muitos fiéis se tornam conscientes de que “ninguém pode dizer “Jesus Cristo é o Senhor” senão sob a moção do Espírito Santo” (cf. 1Cor 12, 3), sabem cada vez mais que “todos os que são movidos pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus" (cf. Rm 8, 14). A consciência destas verdades vem despertando cada vez mais a atenção para a teologia espiritual. É, pois, oportuno procurarmos conhecer melhor as maneiras como o Espírito Santo age nos corações, descrevendo os seus dons e o
significado destes na vida dos filhos de Deus.

1. Que são os dons do Espírito Santo?

1. Do inicio, é preciso propor a distinção que a Teologia costuma fazer entre dons e carismas (embora a palavra charisma em grego significa dom).
Por carismas entendem-se graças especiais pelas quais o Espírito Santo torna os cristãos aptos a tarefas e funções que contribuem para o bem ou o serviço da comunidade: assim seriam o dom de profecia, o das curas, o das línguas, o da interpretação das línguas... Os carismas têm por vezes (não sempre) índole extraordinária, como no caso de certas curas ou da glossolalia.
Por dons compreendem-se faculdades outorgadas ao cristão para seguir mais seguramente os impulsos do Espírito no caminho da perfeição espiritual. Os dons e seus efeitos são discretos, não chamando a atenção do público por façanhas portentosas.

2. Para entender melhor o que sejam os dons do Espírito, recorramos a uma analogia:
Quando uma criança nasce para a vida presente, é dotada por Deus de tudo que é necessário à sua existência humana: recebe, sim, um organismo completo e uma alma portadora de faculdades típicas do ser humano. Como se compreende, esse conjunto ainda não esta plenamente desenvolvido quando o bebê vem ao mundo, mas é certo que a criança possui tudo que constitui a pessoa humana.
Ora algo de análogo se dá na vida espiritual. Diz-nos Jesus que renascemos da água e do Espírito Santo pelo batismo (cf. Jo 3, 5). Este renascer importa receber uma vida nova, a vida dos filhos de Deus, trazida pela graça santificante. Essa vida nova tem suas faculdades próprias, que são:

1) as virtudes infusas

a) teologais (fé, esperança, caridade): virtudes que nos põem em contato imediato com Deus;

b) morais (prudência, justiça, temperança, fortaleza): virtudes que orientam o comportamento do cristão frente aos valores deste mundo;

2) os dons do Espírito Santo, "receptáculos" próprios para captar as moções do Espírito Santo.

Importa salientar bem a diferença entre as virtudes infusas e os dons do Espírito Santo.

As virtudes infusas são ditas infusas porque não adquiridas pelo homem. São princípios de reta outorgados ao cristão juntamente com a graça santificante, para que se comporte não apenas como ser racional, mas como filho da Deus, elevado a ordem sobrenatural1. Os critérios de conduta do cristão são as grandes verdades da fé ou da ordem sobrenatural (que nem sempre coincidem com os da razão); por isto é que, ao renascer como filho de Deus, todo homem recebe os respectivos princípios de conduta nova, que são as virtudes infusas. Destas, três se orientam diretamente para Deus (a fé, a esperança e a caridade) e quatro se orientam para o reto uso dos bens deste mundo (prudência, justiça, temperança, fortaleza). Quando o cristão age mediante as virtudes infusas, é ele mesmo quem age segundo moldes humanos, limitados, lutando contra os obstáculos que geralmente a prática do bem encontra; de maneira lenta e trabalhosa o cristão cresce na fé, na caridade, na temperança, na fortaleza..., estando sempre sujeito a contradizer-se ou a cometer um ato incoerente com tais virtudes.
É sobre este fundo de cena que se devem entender os dons do Espírito Santo. Estes podem ser comparados a faculdades novas ou “antenas” que nos permitem apreender moções do Espírito Santo em virtude das quais agimos segundo um estilo novo, certeiro, firme, sem hesitação alguma e com toda a clarividência. Esta afirmação pode-se tornar mais clara mediante algumas comparações:

a) Imaginemos um barco que navega a remos... Adianta-se lentamente e com grande esforço e fadiga por parte dos remadores. Caso, porém, este barco tenha velas dobradas, admitamos que os remadores resolvam desdobrá-las, a fim de captar o vento que lhes é favorável. Em conseqüência, os marujos deixarão de remar, e o mesmo barco será movido a velocidade “sobre-humana”, de maneira nova a muito mais veloz do que quando movido a remos.
Ora o "mover-se a remos" corresponde ao esforço humano (sempre prevenido pela graça) para progredir na prática do bem mediante as virtudes infusas. O “deixar-se mover pelo vento que bate nas velas desdobradas", corresponde ao progresso provocado pela ação direta do Espírito Santo, que move os seus dons (= velas) em nós; progredimos então muito mais rapidamente segundo um estilo novo.
b) Eis outra comparação: admitamos um pintor genial que se dispõe a realizar uma obra-mestra. Para iniciar, ele confia aos discípulos mais adiantados o trabalho de preparar a tela, combinar as cores e esquematizar o quadro. Quando tudo está preparado e começa a parte mais importante da obra, o próprio mestre traça as linhas finíssimas de sua obra, revelando o seu gênio e cristalizando a sua inspiração. - De maneira análoga, o Espírito traça no íntimo de cada cristão a imagem do Cristo Jesus. Os inícios desta tarefa, Ele os realiza mediante a nossa colaboração, permitindo-nos agir segundo os nossos moldes humanos (ou mediante as virtudes infusas). Quando, porém, se trata dos traços mais típicos do Cristo na alma humana, o próprio Espírito assume a tarefa da os delinear utilizando instrumentos especialmente finos a preciosos, que são seis dons.
Exemplificando, diremos: o homem prudente que, para a orientação de seus atos, só dispusesse de suas qualidades naturais e da virtude infusa da prudência, acertaria realmente, mas com grande lentidão, depois de várias tentativas. A prudência humana é insegura e tímida, mesmo quando acerta. - Ao contrário, quem age sob o influxo do dom do conselho, que corresponde à virtude da prudência, descobre de maneira rápida, certeira e firme o que deve fazer em cada caso.
Eis outro exemplo: quando o cristão se eleva, pela luz da fé, ao conhecimento de Deus, ele o faz de maneira imperfeita e laboriosa, recorrendo a imagens que são, ao mesmo tempo, claras e obscuras. - Dado, porém, que o cristão seja movido pelo Espírito mediante os dons de sabedoria e inteligência, ele contempla Deus e seu plano salvífico numa lúcida concatenação de idéias em poucos instantes e com grande sabor espiritual (em vez dos esforços exigidos pela virtude da fé).
As normas das virtudes são diferentes das normas dos dons. Quem age sob o influxo das virtudes, segue a norma do homem iluminado pela luz de Deus. Mas quem age sob o influxo dos dons do Espírito, segue a norma do próprio Deus participada ao homem.

3. Note-se que os dons do Espírito não são privilégio dos santos. Todos os cristãos os recebem no Batismo. Nem são necessários apenas às grandes obras, mas tornam-se indispensáveis à santificação do cristão mesmo na vida cotidiana.
O cristão pode permitir cada vez mais a ação do Espírito Santo em sua vida mediante os dons, caso se dedique especialmente ao cultivo das virtudes (principalmente da caridade) e se torne mais e mais dócil às inspirações do Espírito Santo. A prática do amor é importante, pois é o amor que nos comunica particular afinidade com Deus, adaptando-nos ao modo de agir do próprio Deus.
Procuramos agora penetrar no sentido próprio de cada um dos dons do Espírito.

2. Os dons em particular

A Tradição
cristã costuma enunciar sete dons do Espírito, baseando-se no texto de Is 11,1-3 traduzido para o grego na versão dos LXX:
"(1)Brotará uma vara do tronco de Jessé
E um rebento germinará das suas raízes.
(2)E repousará sobre ele o espírito do Senhor:
Espírito de sabedoria e entendimento,
Conselho e fortaleza,
Ciência e temor de Deus,
(3)Piedade..."
O texto original hebraico, em lugar de piedade, dá a ler; "Sua inspiração estará no temor do Senhor". Enumerando seis ou sete dons do Espírito, o texto bíblico não tenciona esgotar a realidade dos mesmos: estes são tantos quantos se fazem necessários para que o Espírito leve o cristão à perfeição definitiva. Os sete dons enumerados pelo texto dos LXX e pela Tradição vêm a ser, sem dúvida, os principais. Distingamo-los de acordo com a faculdade humana em que cada qual se situa:

Intelecto: ciência, entendimento, sabedoria, conselho.

Vontade: piedade.

Apetite irascível: fortaleza.

Apetite de cobiça: temor de Deus.


2.1. Ciência


A ciência humana perscruta o universo e seus fenômenos, procurando as causas imediatas destes e concatenando-as entre si para ter uma explicação mais ou menos clara da realidade.
Ora o dom da ciência, embora não defina a natureza e as propriedades físicas ou químicas de cada criatura, faz que o cristão penetre na realidade deste mundo sob a luz de Deus, vê cada criatura como reflexo da sabedoria do Criador e como aceno ao Supremo Bem.
Mais: o dom da ciência leva o homem a compreender, de um lado, o vestígio de Deus que há em cada ser criado, e, de outro lado, a exigüidade ou insuficiência de cada qual.

Vestígio de Deus... São Francisco de Assis soube ouvir e proclamar o canto das criaturas ao Senhor. As flores, as aves, a água, o fogo, o sol... tudo lhe era ocasião de contemplar e amar a Deus.
Exigüidade... Toda criatura, por mais bela que seja, é sempre limitada e insuficiente para o coração humano. Este foi feito para o Bem infinito e só neste pode repousar. Percebendo isto após uma vida leviana, muitos homens e mulheres se converterem radicalmente a Deus. Tal foi o caso de S. Francisco Borja (+ 1572), que ao contemplar o cadáver da rainha Isabel, exclamou: "Não voltarei a servir a um senhor que possa morrer!" Tal foi outrossim o caso de S. Silvestre (+ 1267)... Estes cometeram a "loucura" de tudo deixar a fim de possuir mais plenamente uma só coisa: o Reino de Deus ou a presença do próprio Deus.
O dom da ciência ensina também a reconhecer melhor o significado do sofrimento e das humilhações; estes “contra-valores”, no plano de Deus, têm o valor de escola que liberta e purifica o homem. Configuram o cristão a Jesus Cristo, concedendo-lhe um penhor de participação na glória do próprio Senhor Jesus. Se não fora o sofrimento, muitos e muitos homens não sairiam de sua estatura anã e mesquinha,... nunca atingiriam a plenitude do seu desenvolvimento espiritual.

São estes alguns dos frutos do dom da ciência.

2.2. Entendimento ou inteligência

A palavra “inteligência” é, segundo alguns, derivada de intellegere = intuslegere, ler dentro, penetrar a fundo.
Na ordem natural, entendemos (intelligimus) quando captamos o âmago de alguma realidade. Na linha da fé, paralelamente entender é penetrar, ler no íntimo das verdades reveladas por Deus, é ter a intuição do seu significado profundo. Pelo dom do entendimento, o cristão contempla com mais lucidez o mistério da SS. Trindade, o amor do Redentor para com os homens, o significado da S. Eucaristia na vida cristã....
A penetração outorgada pelo dom da inteligência (ou do entendimento) difere daquela que o teólogo obtém mediante o estudo; esta é relativamente penosa e lenta; além do que, pode ser alcançada por quem tenha acume intelectual, mesmo que não possua grande amor. Ao contrário, o dom da inteligência é eficaz mesmo sem estudo; é dado aos pequeninos e ignorantes, desde que tenham grande amor a Deus.
Para ilustrá-lo, conta-se que um irmão leigo franciscano disse certa vez a S. Boaventura (+ 1274), o Doutor Seráfico: “Felizes vós, homens doutos, que podeis amar a Deus muito mais do que nós, os ignorantes!” Respondeu-lhe Boaventura: “ Não é a doutrina alcançada nos livros que mede o amor, uma pobre velha ignorante pode amar a Deus mais do que um grande teólogo, se estiver unida a Deus”. O irmão compreendeu a lição e saiu gritando pelas ruas: “Velhinha ignorante, você pode amar a Deus mais do que o mestre Frei Boaventura!”
O irmão dizia a verdade. Na ordem natural, é compreensível que o amor brote do conhecimento. Na ordem sobrenatural, porém, pode acontecer o inverso: é o amor que abre os olhos do conhecimento. Os que mais amam a Deus, são os que mais profundamente dissertam sobre Ele.
Como frutos do dom do entendimento, podemos enunciar as intuições das verdades da fé que são concedidas a muitos cristãos durante o seu retiro espiritual ou no decurso de uma leitura inspirada pelo amor a Deus. O “renascer da água e do Espírito", a imagem da videira e dos ramos, o “seguir a Cristo” tomam então clareza nova, apta a transformar a vida do cristão.
O dom do entendimento manifesta também o horror do pecado e a vastidão da miséria humana. Por mais paradoxal que pareça, é preciso observar que os santos, quanto mais se aproximaram de Deus (ou quanto mais foram santos), tanto mais tiveram consciência do seu pecado ou da sua distância daquele que é três vezes santo.
Em suma, o dom do entendimento faz ver melhor a santidade de Deus, a infinidade do seu amor, o significado dos seus apelos e também... a pobreza, não raro mesquinha, da criatura que se compraz em si mesma, em vez de aderir corajosamente ao Criador.


2.3. O dom da sabedoria

Na ordem natural do conhecimento, a inteligência humana não se contenta com noções isoladas, mas procura reunir suas concepções numa síntese sistemática, de modo a concatená-las numa visão harmoniosa. A mente humana procura atingir os primeiros princípios e as causas supremas de toda a realidade que ela conhece.
Ora a mesma sistematização harmoniosa ocorre também na ordem sobrenatural. O dom da ciência e o entendimento já proporcionam uma penetração profunda no significado de cada criatura e de cada verdade revelada respectivamente; oferecem também uma certa síntese dos objetos contemplados, relacionando-os com o Supremo Senhor, que é Deus. Todavia o dom que, por excelência, efetua essa síntese harmoniosa e unitária, é o da sabedoria. Esta abrange todos os conhecimentos do cristão e os põe diretamente sob a luz de Deus, mostrando a grandeza do plano do Criador e a insondabilidade da vida daquele que é o Alfa e o Ômega de toda a criação.
Mais: o dom da sabedoria não realiza a síntese dos conhecimentos da fé em termos meramente intelectuais. Ele oferece um conhecimento sápido ou saboroso da verdade1 ...Saboroso ou deleitoso, porque se deriva da experiência do próprio Deus feita pelo cristão ou da afinidade que o cristão adquire com o Senhor pelo fato de mais a mais amar a Deus. Uma comparação ajudará a compreender tal proposição: para conhecer o sabor de uma laranja, posso consultar, intelectual e cientificamente, os tratados de Botânica; terei assim uma noção aproximada do que seja esse sabor. Mas a melhor via para conseguir o objetivo será, sem dúvida, a experiência da própria laranja que se faz pelo paladar. Os resultados do estudo meramente intelectual são frios e abstratos, ao passo que as vantagens da experiência são concretas e saborosas.
Ora, na verdade, os dons da ciência e do entendimento fazem-nos conhecer principalmente por via de amor ou de afinidade com Deus. Todavia é o dom da sabedoria que, por excelência, resulta dessa conaturalidade ou familiaridade com o Senhor. Ele se exerce na proporção da íntima união que o cristão tenha com o Senhor Deus. “O dom da sabedoria faz-nos ver com os olhos do Bem-amado”, dizia um grande místico; a partir da excelsa atalaia que é o próprio Deus, contemplamos todas as coisas quando usamos o dom da sabedoria.
Estas verdades dão a ver quanto nesta vida importa o amor de Deus. É este que propicia o conhecimento mais perspicaz e saboroso do mesmo Deus (o que não quer dizer que se possa menosprezar o estudo, pois, se o Criador nos deu a inteligência, foi para que a apliquemos à verdade por excelência, que é Deus). Aliás, observam muito a propósito os teólogos: veremos a Deus face-a-face por toda a eternidade na proporção do amor com que o tivermos amado nesta vida. O grau do nosso amor, na hora da morte, será o grau da nossa visão de Deus na vida eterna ou por todo o sempre. É por isto que se diz que o amor é o vínculo ou o remate da perfeição (cf. Cl 3, 14). “No ocaso de sua vida, cada um de nós será julgado na base do amor”, diz S. João da Cruz.


2.4. Conselho

Afirmam os teólogos que Deus não deixa faltar às suas criaturas o que lhes é necessário, nem é propenso a dons supérfluos, pois Deus tudo faz com número, peso e medida (cf. Sb 11, 20). Em tudo resplandece a sua sabedoria. Por isto é que Deus é providente, ou seja, Ele providencia os meios para que cada criatura chegue retamente ao seu fim devido.
Ora acontece que, para realizarmos determinada atividade, exercemos um processo mental que tem por objetivo examinar cuidadosamente não só a conveniência dessa atividade, mas também todas as circunstâncias em que ela se deve desenrolar. Muitas vezes esse processo se efetua sem que dele tomemos plena consciência. Quanto, porém, nos vemos diante de uma tarefa rara ou mais exigente do que as de rotina, o processo deliberativo é mais intenso e, por isto, se torna mais consciente; a mente se esforça por ver claro e fazer a opção mais adequada, sem que, porém, o consiga de imediato. Não raro é necessário recorrer ao conselho de outra pessoa mais experimentada.
É por efeito da virtude (natural e infusa) da prudência que cada cristão delibera sobre o que deve e não deve fazer. É a prudência que avalia os meios em vista do respectivo fim.
Pois bem. Em correspondência à virtude da prudência, existe um dom do Espírito Santo, chamado “dom do conselho”. Este permite ao cristão tomar as decisões oportunas sem a fadiga e a insegurança que muitas vezes caracterizam as deliberações da virtude da prudência. Esta por si não basta para que o cristão se comporte à altura da sua vocação de filho de Deus,... vocação que exige simultaneamente grande cautela ou circunspecção e extrema audácia ou coragem. Nem sempre a virtude humana entrevê nitidamente o modo de proceder entre polos antitéticos. A criatura, limitada como é, nem sempre consegue conhecer adequadamente o momento presente, menos ainda é apta a prever o futuro e – ainda – sente dificuldade em aplicar os conhecimentos do passado à compreensão do presente e ao planejamento do futuro. É preciso, pois, que o Espírito Santo, em seu divino estilo, lhe inspire a reta maneira de agir no momento oportuno e exatamente nos termos devidos.

Assim o dom do conselho aparece como um regente de orquestra que coordena divinamente todas as faculdades do cristão e as incita a uma atividade harmoniosa e equilibrada. Imagine-se com que circunspecção (cautela e audácia) um maestro rege os múltiplos instrumentos de sua orquestra: assinala a cada qual o momento preciso em que deve entrar e os matizes que deve dar à sua melodia. Assim faz o Espírito mediante o dom do conselho em cada cristão.
Diz a Escritura que há um tempo exato para cada atividade; fora desse momento preciso, o que é oportuno pode tornar-se inoportuno.
Ora nem sempre é fácil discernir se é oportuno falar ou calar, ficar ou partir, dizer Sim ou dizer Não. Nem as pessoas prudentes, após muito refletir, conseguem definir com segurança o que convém fazer. Ora é precisamente para superar tal dificuldade que o Espírito move o cristão mediante o dom do conselho.


2.5. Piedade

Todo homem é chamado a viver em sociedade, relacionando-se com Deus e com os seus semelhantes. Requer-se que esse relacionamento seja reto ou justo. Por isto a virtude da justiça rege as relações de cada ser humano, assumindo diversos nomes de acordo com o tipo de relacionamento que ela deve orientar: é justiça propriamente dita, sempre que nos relacionamos com aqueles a quem temos uma dívida rigorosa; a justiça se torna religião desde que nos voltemos para Deus; é piedade, se nos relacionamos com nossos pais, nossa família ou nossa pátria; é gratidão, em relação aos benfeitores.
Ora há um dom do Espírito que orienta divinamente todas as relações que temos com Deus e com o próximo, tornando-as mais profundas e perfeitas: é precisamente o dom da piedade. São Paulo implicitamente alude a este dom quando escreve: “Recebestes o espírito de adoção filial, pelo qual bradamos: “Abá, ó Pai” (Rm 8, 15). O Espírito Santo, mediante o dom da piedade, nos faz, como filhos adotivos, reconhecer Deus como Pai.
E, pelo fato de reconhecermos Deus como Pai, consideramos as criaturas com olhar novo, inspirado pelo mesmo dom da piedade..
Examinemos de mais perto os efeitos do dom da piedade. Frente a Deus ele nos leva a superar as relações de “dar e receber” que caracterizam a religiosidade natural; leva a não considerar tanto os benefícios recebidos da parte de Deus, mas, muito mais, o fato de que Deus é sumamente santo e sábio: “Nós vos damos graças por vossa grande glória”, diz a Igreja no hino da Liturgia eucarística; é, sim, próprio de um filho olhar a honra e a glória de seu pai, sem levar em conta os benefícios que ele possa receber do mesmo. É o dom da piedade que leva os santos a desejar, acima de tudo, a honra e a glória de Deus “... para que em tudo seja Deus glorificado”, diz São Bento, ao passo que S. Inácio de Loiola exclama: “... para a maior glória de Deus”. É também o dom da piedade que desperta no cristão viva e inabalável confiança em Deus Pai,... confiança e entrega das quais dá testemunho S. Teresinha de Lisieux na sua doutrina sobre a infância espiritual.

O dom de piedade não incita os cristãos apenas a cumprir seus deveres para com Deus de maneira filial, mas leva-os também a experimentar interesse fraterno para com todos os seus semelhantes. Típico exemplo deste sentimento encontra-se na vida de S. Francisco de Assis: quando este, certo dia, sonhando com as glórias de um cavaleiro medieval, avistou um leproso, sentiu-se impelido a superar qualquer repugnância e a dar-lhe o ósculo que exprimia a fraternidade de todos os homens entre si.
O dom de piedade, tornando o cristão consciente de sua inserção na família dos filhos de Deus, move-o a ultrapassar as categorias do direito e do dever, a fim de testemunhar uma generosidade que não regateia nem mede esforços desde que sirva aos irmãos. É o que manifesta o Apóstolo ao escrever: “Quanto a mim, de bom grado me despenderei, e me despenderei todo inteiro, em vosso favor” (2Cor 12, 15).


2.6. Fortaleza

A fidelidade à vocação cristã depara-se com obstáculos numerosos, alguns provenientes de fora do cristão; outros, ao contrário, do seu íntimo ou das suas paixões. Por isto diz o Senhor que “o Reino dos céus sofre violência dos que querem entrar, e violentos se apoderam dele” (Mt 11, 12).
Ora, em vista da necessidade de coragem e magnanimidade que incumbe ao cristão, o Espírito lhe dá o dom da fortaleza. Esta nem sempre consiste em realizar vultosas e admiradas pelo público, mas não raro implica paciência, perseverança, tenacidade, magnanimidade silenciosas... Pelo dom da fortaleza, o Espírito impele o cristão não apenas àquilo que as forças humanas podem alcançar, mas também àquilo que a força de Deus atinge. É essa força de Deus que pode transformar os obstáculos em meios; é ela que assegura tranqüilidade e paz mesmo nas horas mais tormentosas. Foi ela que inspirou a S. Francisco de Assis palavras tão significativas quanto estas: “Irmão Leão, a perfeita alegria consiste em padecer por Cristo, que tanto quis padecer por nós”.


2.7. Temor de Deus

Para entender o significado desde dom, distingamos diversos tipos de temor: a) o temor covarde ou da covardia; b) o temor servil ou do castigo; c) o temor filial. Este consiste na repugnância que o cristão experimenta diante da perspectiva de poder-se afastar de Deus; brota das próprias entranhas do amor. Não se concebe o amor sem este tipo de temor.
Com outras palavras: as virtudes afastam, sim, o cristão do pecado, ajudando-o a vencer as tentações. Isto, porém, acontece através de lutas, hesitações e, não raro, deficiências. Ora pelo dom do temor de Deus a vitória é rápida e perfeita, pois então é o Espírito que move o cristão a dizer Não à tentação.
O dom do temor de Deus se prende inseparavelmente à virtude da humildade. Esta nos faz conhecer nossa miséria; impede a presunção e a vã glória, e assim nos torna conscientes de que podemos ofender a Deus; daí surge o santo temor de Deus. O mesmo dom também se liga à virtude da temperança; esta modera a concupiscência e os impulsos desordenados do coração; com ela converge o temor de Deus, que, por impulso de ordem superior, modera os apetites que poderiam ofender a Deus.
Os santos deram provas sensíveis de santo temos de Deus. Tenha-se em vista S. Luís de Gonzaga, que, conforme se narra, derramou copiosas lágrimas certa vez quando teve que confessar suas faltas,... faltas que, na verdade, dificilmente poderiam ser tidas como pecados. Para o santo, essas pequeninas faltas eram sinais do perigo de poder um dia afastar-se de Deus. Ora, para quem ama, qualquer perigo deste tipo tem importância.
Eis, em grandes linhas, o significado dos dons do Espírito Santo na vida cristã. São elementos valiosos para o progresso interior, elementos que o Espírito mais e mais utiliza, se o cristão procura amar realmente a Deus e ao próximo e jamais dizer um Não consciente às inspirações da graça.

(1) Sobrenatural não quer dizer portentoso ou maravilhoso, mas designa o que ultrapassa as exigências de qualquer natureza criada,... o que é dado gratuitamente por Deus. É sobrenatural, portanto, a elevação do homem à filiação divina ou à comunhão de vida com o próprio Deus a fim de chegar à visão de Deus face-a-face.

(1) A palavra sabedoria vem do saber, derivado do verbo latino sapere, que significa “ter gosto de...” – O vocábulo português sabor se origina do latino sapor, que é da mesma raiz que sapere”.

(1) Eis o texto de Ecl 3, 1-8:
“Todas as coisas têm o seu tempo, e tudo o que existe debaixo dos céus tem a sua hora.
Há tempo para nascer, e tempo para morrer.
Tempo para plantar, e tempo para arrancar o que se plantou.
Tempo para matar, e tempo para dar vida.
Tempo para destruir, e tempo para edificar.
Tempo para chorar, e tempo para rir.
Tempo para se afligir, e tempo para dançar.
Tempo para espalhar pedras, e tempo para as ajuntar.
Tempo para dar abraços, e tempo para se afastar deles.
Tempo para adquirir, e tempo para perder.
Tempo para guardar, e tempo para atirar fora.
Tempo para rasgar, e tempo para coser.
Tempo para calar, e tempo para falar.
Tempo para amar, e tempo para odiar.
Tempo para a guerra. e tempo para a paz”.


Revista “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Revista nº. 479, Ano 2002, Pág. 163.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

A CURA DO LEPROSO



“A EXPERIÊNCIA COM JESUS CRISTO NOS LIBERTA DOS MALES INTERIORES E EXTERIORES”.

A Paz do Senhor Jesus Cristo esteja sempre convosco!

Jesus cura e salva toda pessoa que se aproxima dele com fé. Ele não resiste ao que recorre a sua ajuda com convicção em seu poder. No evangelho deste domingo percebemos um leproso, excluído da sociedade pela sua doença, mas que vai a Jesus e recebe a graça de ser tocado pelo Senhor. Este toque foi curativo nos dois sentidos: na cura da doença e na discriminação que ela provocava dentro da sociedade. Quando somos “tocados” pelo Senhor a nossa vida muda. Para que isto aconteça temos que lutar contra nós mesmos e sermos dirigidos pela Graça de Deus.


ORAÇÃO: Ó Deus, que prometestes permanecer nos corações sinceros e retos, dai-nos por vossa graça, viver de tal modo, que possais habitar em nós. Por nosso Senhor Jesus Cristo vosso Filho na unidade do Espírito Santo. Amém.


EVANGELHO (Mc 01, 40-45):
Naquele tempo, um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: “Se queres tens o poder de curar-me”. Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele e disse: “Eu quero: fica curado!” No mesmo instante a lepra desapareceu e ele ficou curado. Então Jesus o mandou logo embora, falando com firmeza: “Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou como prova para eles!” Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-lo.

“Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele e disse: Eu quero: fica curado!”

A nossa existência é um grande mistério. Na sua dimensão mais profunda encontramos o amor incondicional de Deus por todos nós. Quando não percebemos esta realidade sobrenatural somos fadados a viver nas margens da nossa vida nos contentando com valores transitórios. Necessitamos ser curados de um mesmo mal que é a auto suficiência em relação ao nosso Criador. É ela a causadora de tantos sofrimentos e angústias. Podemos afirmar que a grande lepra que está disseminada em nossa sociedade é de origem afetiva. As pessoas não reconhecem o amor de Deus por elas. Por este motivo não se amam e acabam não amando com sinceridade os seus irmãos.
A lepra, segundo a lei de Moisés tinha como consequência imediata a exclusão da pessoa da comunidade e o anúncio público a todos do mal que se vivia a fim de evitar a “contaminação”. O leproso era humilhado de duas formas: pela enfermidade e pela separação obrigatória da comunidade (Lv 13, 44-46). Era uma espécie de morto vivo que só esperava a morte para dar fim a sua jornada de sofrimentos e humilhações.
O leproso desta passagem do evangelho teve coragem de se aproximar de Jesus e suplicar. Chegou mais próximo do que a lei permitia na confiança de que seria curado. A condicional “se queres”, afirma o poder de Jesus que é o Cristo que tem os mesmos sentimentos de Deus por ser seu Filho que ama e liberta. Deus deseja muito mais a nossa libertação do que nós mesmos. Ele nos criou para participarmos de sua felicidade.
Hoje poderíamos traduzir esta lepra por outros males que afastam a nossa vida de seu real sentido. O homem jamais será feliz vivendo no individualismo. Somos criados para a vida comunitária e solidária. Há muitos leprosos em todas as camadas sociais que vivem na competição do materialismo. O pior é que muitas pessoas fazem o que é ditado pela Grande Mídia que desvia as pessoas da verdade tornando o ser humano uma máquina de consumo. Só o amor e a fraternidade poderão nos trazer a verdadeira alegria e a paz que tanto almejamos.
Precisamos ter a mesma coragem deste leproso que passou por cima de idéias e rótulos e teve a coragem de pedir sua cura. Só os humildes poderão alcançar a cura. Se formos fortes em nós mesmos, somos fracos em Deus. Ser curado é antes de tudo compreender a verdade que nos tornará realmente livres. O seguimento de Jesus exige amor mais do que só uma racionalidade vazia.
Temos que ter diagnóstico da doença para encontrarmos o tratamento adequado. Contra a lepra do egoísmo só existe o amor experimentado a partir de uma profunda amizade com Jesus.

 “Senhor Jesus, venha nos curar do fechamento em nosso pequeno mundo e fazei que sejamos vossos instrumentos de amorização do mundo”. 

Padre Giribone - OMIVICAPE

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A GRAÇA DE DEUS PRESENTE EM NOSSA VIDA



 

Não existe ninguém que não tenha ouvido falar a palavra graça em algum momento de sua vida. Até mesmo no sentido pejorativo se diz que uma pessoa não tem graça. Esta palavra é confundida com uma alegria espontânea que alguém pode apresentar.
No sentido cristão graça significa o amor permanente que Deus sente por todas as criaturas que Ele pensou antes que existissem e que se mantém até a eternidade. Não podemos fugir do amor que Deus sente por nós. Somos “amaldiçoados” pelo amor de Deus. Mesmo que a gente não queira estamos sobre o olhar amoroso de Deus. Não poderia ser diferente, pois Ele é o nosso Criador e nos ama nesta categoria.
Um pai e uma mãe naturalmente são inclinados a amar seus filhos. Isto que eles só participam da obra da criação. Imagine Deus que é o autor da vida o quanto Ele nos ama? Não se pode explicar de forma quantitativa o quanto Deus nos ama e de sua felicidade quando aceitamos fazer parte de sua vida. Nós seremos santos na medida em que permitirmos que Deus entre em nossa vida. Ele respeita nossa liberdade, deseja que nosso amor seja espontâneo.
Quando fomos batizados recebemos uma “antena”, ou uma nova sensibilidade para percebermos o amor que Deus sente por nós. Podemos afirmar que os cristãos, pela ação contínua do Espírito Santo, se tornam mais sensíveis ao amor de Deus que sempre exigirá sofrimento e renúncia.
Como poderemos responder ao individualismo presente no mundo com a força da Graça de Deus que recebemos? É o nosso testemunho de nos sentirmos amados por Deus que irá transformar o mundo para o altruísmo cristão.
Quanto tempo temos de existência nesta vida? O que faremos para sermos felizes já neste mundo? Tanto São João da Cruz como Santa Teresa de Jesus nos ensinam a entrarmos em nós mesmos e vermos a maravilha que somos. Vivemos ao redor de nosso ser por isto não somos felizes. Não penetramos na profundidade de nosso ser.  A grande crise de relacionamento que o mundo atravessa só será curada se utilizarmos a experiência dos místicos cristãos. Está na hora de nos aprofundarmos na fé e percebermos como somos importantes para Deus.
A leitura da Palavra, a oração, a prática dos sacramentos nos levam a termos uma sensibilidade para percebermos a graça de Deus atuando em nossa vida. Precisamos sentir em nosso coração esta realidade para nos comprometermos com Cristo de forma verdadeira, pois ele nos prometeu que seríamos livres.
Sentimos o sofrimento e a morte rondando a história da humanidade. Não podemos ser pessimistas, mas abrirmos nosso coração para vermos a realidade do amor de Deus presente em nossa história. Somos muito mais do que imaginamos. Somos templos do Espírito Santo e estamos preparados para mudar o mundo colocando amor aonde não existe amor.
Que a mãe de Jesus e todos os santos nos tornem mais sensíveis para percebermos o quanto somos amados por Deus e nos transformarmos em instrumentos de transformação do mundo.


Padre Giribone - OMIVICAPE


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

EFUSÃO DO ESPÍRITO SANTO



O Divino Espírito Santo é a terceira pessoa da Santíssima Trindade. É a força dinâmica do Amor de Deus. Ele está agindo no meio de nós e de forma especial através dos sete sacramentos na Igreja.
Nós somos cristãos porque cremos que entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo não há diferenciação em termos de qualidade, embora cada pessoa tenha sua função e nos ame da mesma forma (ex. dos aros de uma roda).
Poderíamos afirmar que o Espírito Santo é responsável pela manutenção da Graça em nossa vida. Só poderemos amar de verdade, a partir do momento em que Ele livremente puder agir em nossa vida. Ele quer depender da nossa liberdade para nos renovar desde dentro.
Na realidade o Espírito Santo perpassa várias passagens bíblicas, encontrando seu ápice nos santos Evangelhos e nos Atos dos Apóstolos. O Evangelho de Marcos inicia apresentando Jesus como aquele que batiza no Espírito Santo (Mc 1, 8). O batismo de Jesus passa ser o modelo de todo batismo cristão, notam-se dois momentos distintos: a imersão nas águas e o dom do Espírito. Para continuar a missão que Jesus deixou a todos que crêem nele, se faz necessário o poder do Espírito Santo.
A maioria das pessoas já recebeu a graça do Batismo como sacramento. Precisamos agora, renovar esta realidade em nossa vida, pedindo uma nova efusão. Um novo derramamento sobre nós, para que sejamos mais coerentes com a nossa opção por Jesus Cristo e seu Evangelho.
O Batismo no Espírito Santo, ou Efusão é uma oração de súplica para que se renove em nós a graça já recebida no batismo sacramental, para que sejamos fortificados e não nos deixemos enganar pelas alegrias passageiras desta vida. É como o suco de maracujá que precisa ser mexido para que mantenha a essência uniforme em todo ele. Caso contrário ocorre a decantação deixando a essência do suco no fundo do recipiente. É a experiência espiritual pela qual o Espírito Santo, recebido no Batismo, emerge como realidade na consciência do cristão. A partir deste momento nos sentimos perdoados e amados profundamente por Deus. Acontece uma alegria interior.
Nós temos muitos dons para partilharmos com os nossos irmãos, após esta nova experiência no Espírito Santo, o Senhor nos dá uma nova qualificação para melhor ajudarmos na evangelização, na caridade etc.


Quais são os grandes efeitos da Efusão do Espírito Santo em nossa vida concreta?


-  Jesus se torna centro de nossa vida; passamos a viver com, para, por e em Jesus; passamos a VIVER JESUS.
-   Gosto pela Sagrada Escritura.
-   Comunhão Fraterna.
-   Libertação Espiritual.
-   Crescimento dos frutos do Espírito.
-    Redescoberta da Igreja.
-    Reencontro com Maria, Mãe da Igreja.


Quais são as condições para se viver esta nova vida?


a) Pobreza Espiritual - Reconhecimento de nossa total dependência de Deus.
b) Coração de Criança - Desprovido de intelectualismo, orgulho espiritual, espírito crítico e auto-suficiência.
c) Fé Absoluta em Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
d) Desejar Profundamente.

Para receber esta graça a oração de Efusão é feita através da imposição das mãos que é um gesto bíblico muito antigo e também utilizado pelos Apóstolos (At 9, 17). Deve ser realizada com muita humildade e alegria. No Evangelho de João, no capítulo três, Jesus exige um novo nascimento para Nicodemos, este novo nascimento só é possível pela força do Espírito Santo.

Padre Giribone - OMIVICAPE