sexta-feira, 30 de março de 2012

DOMINGO DE RAMOS



A semana santa se inicia com a Missa dos Ramos. Nela recordamos o fato da entrada de Jesus em Jerusalém. Ele entra para a vitória sobre morte. Seu povo não entendia o significado desta entrada. O sentido da doação máxima que Jesus iria fazer em favor de seu povo e de toda humanidade. A revelação de Deus chega ao seu ápice na pessoa de Jesus Cristo. A nossa libertação só será possível no momento em que aceitarmos a sua pessoa de forma integral. Iniciemos mais esta semana santa recordando o imenso amor de Deus por todos nós e pedindo a graça de uma profunda conversão.

ORAÇÃO: Deus eterno e todo-poderoso, para dar aos homens um exemplo de humildade, quisestes que o nosso Salvador se fizesse homem e morresse na cruz. Concedei-nos aprender o ensinamento da sua paixão e ressuscitar com ele em sua glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo na unidade do Espírito Santo. Amém.


EVANGELHO (Mc 11, 01-10):
Quando se aproximaram de Jerusalém, na altura de Betfagé e de Betânia, junto ao monte das Oliveiras, Jesus enviou dois discípulos, dizendo: “Ide até o povoado que está em frente, e logo que ali entrardes, encontrareis amarrado um jumentinho que nunca foi montado. Desamarrai-o e trazei-o aqui! Se alguém disser: ‘Por que fazes isto?’, dizei: ‘o Senhor precisa dele, mas logo o mandará de volta’”. Eles foram e encontraram um jumentinho amarrado junto de uma porta, do lado de fora, na rua, e o desamarraram. Alguns dos que estavam ali disseram: “O que estais fazendo, desamarrando este jumentinho?” Os discípulos responderam como Jesus havia dito, e eles permitiram. Trouxeram então o jumentinho a Jesus, colocaram sobre ele seus mantos, e Jesus montou. Muitos estenderam seus mantos pelo caminho, outros espelharam ramos que haviam apanhado nos campos. Os que iam à frente e os que vinham atrás gritavam: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito seja o reino que vem o reino de nosso pai Davi! Hosana no mais alto dos céus!”

“Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!”


A entrada jubilosa de Jesus em Jerusalém nos recorda que ele é recebido por aqueles que estão mais abertos ao projeto de Deus. Ele também será condenado nesta mesma cidade por aqueles que não querem se abrir a nova realidade. Por aqueles que preferem à segurança pessoal em vez da insegurança dos que concretizam a vontade de Deus em suas vidas. Os que aceitam a luz rejeitam as trevas e as trevas odeiam a luz. Por isto os seguidores de Cristo sempre serão odiados pela sociedade que é alicerçada na mentira dos bens corruptíveis.
O povo de Israel estava ansioso pela chegada do Messias, o “ungido do Senhor” que traria a verdadeira libertação que esperava. A espera do Salvador, aos poucos foi deteriorada pela influência política e social dos que se serviam da religiosidade do povo para seus benefícios particulares o que vai desencadear na crise que levará Jesus a cruz.
Podemos cair na tentação de julgarmos os judeus por não aceitarem a Jesus, mas a situação que se desenrolava não era tão simples. Os interesses que envolviam a religião muitas vezes forçavam o povo a outras atitudes que não estavam de acordo com a sua originalidade. Dai podemos entender sua dificuldade de assumirem na totalidade o que Jesus lhes apresentava. A sua mensagem envolvia uma transformação muito mais radical do que eles pensavam. Até nos dias de hoje é muito difícil entender a linguagem contraditória do Reino de Deus, do projeto de vida de Deus em relação a cada pessoa humana.
Talvez tenhamos curiosidade para saber o que significa a palavra “hosana” e porque ela é aplicada especialmente neste dia dentro da liturgia. Fizemos uma pesquisa no Dicionário Enciclopédico da Bíblia (Editora Herder de Barcelona), para entendermos com mais profundidade o sentido e o significado desta palavra. É uma palavra hebraica que significa “vem em ajuda, dá-nos a salvação”. Esta palavra se encontra no salmo 118, 25 como forma de oração para pedir a Deus sua ajuda permanente depois da vitória. Na festa das Tendas, “hosana” se converteu em uma oração corrente de súplica e também um grito de louvor. Neste dia se fazia uma procissão com palmas de vários tipos, cantando as orações com a invocação hosana como estribilho. Esta palavra só se encontra no relato da alegre entrada de Jesus em Jerusalém. Todas as fórmulas usadas significam o cumprimento da espera messiânica. Se o povo que recebeu Jesus estava utilizando esta palavra é porque já estava tendo consciência da sua missão. Algumas pessoas do povo, pelos sinais que ele realizava, percebiam uma nova era que se iniciava em sua história.
Jesus vem em nome do Senhor. Ele é o senhor, verbo encarnado que vem aos que se abrem ao novo projeto de salvação. Deus tem uma linguagem paradoxal, que às vezes parece, para nossa lógica contraditória, mas Ele nos vê como criaturas em particular, com a nossa individualidade e na comunidade com os dons que devem ser partilhados. A Jerusalém de hoje é o nosso coração que precisa estar aberto para recebê-lo com alegria.
Vamos neste início da semana santa acompanhar os passos de Jesus que culminará no grande sinal que comprova sua divindade.

 “Senhor Jesus, que possamos vos receber com alegria em nosso coração.”

Padre Giribone - OMIVICAPE

quinta-feira, 29 de março de 2012

O PODER DA ORAÇÃO MATUTINA



Gostaria de iniciar este artigo colocando um testemunho pessoal e depois justificar o sentido do por que deste artigo. Com a graça de Deus pertenci a Ordem Carmelita Descalça de 1982 a 2010. Na realidade hoje não estou na Ordem por ter sido chamado a fundação da Obra Missionária Virgem do Carmo Peregrina. Na Ordem me aprofundei na Oração Teresiana que sem dúvida é um método perfeito para nos mantermos na Presença de Deus como uma tradição desde o profeta Elias.
Devido as minhas atividades paroquiais e outras atividades confesso que estava com dificuldades para fazer o método carmelitano e a oração da liturgia das horas. Foi uma falha que a Divina Providência veio me auxiliar para depois se tornar algo importante para muitas pessoas serem restauradas.
Em uma missa de louvor, após a comunhão, veio em meu coração uma palavra que deveria vir ao Sacrário às cinco horas da manhã. Percebi que era um chamado de Deus e que deveria obedecer. Ao já estava me levantando as 4h30 para sair para caminhar por ordem médica, pois estava diabético. Troquei as caminhadas pela academia e fui para o sacrário da igreja do Carmo aqui em Rio Grande RS, às cinco horas da manhã como sentia que o Senhor me pedia. Ao chegar diante do Sacrário da igreja do Carmo levei a Bíblia, li um trecho da Palavra e meditei por alguns momentos. Ao final pedi uma nova efusão do Espírito Santo. Aos poucos minha vida foi se transformando e outro irmão (Darlen Vaz), quis fazer comigo esta oração.
A comunidade de consagrados da Obra nasceu e se sustenta com a Oração Matutina. Muitas pessoas já foram e serão restauradas por meio dela. É o que percebemos aqui em nossa casa. O acordar cedo é importante. Ele nos coloca a disposição do Senhor. Após esta oração sentimos uma grande alegria em nosso coração. Esta oração é um verdadeiro antídoto contra o egoísmo instaurado no mundo.
Sem oração não existe missão. Seguimos o conceito teresiano de oração como trato de amizade com Aquele que sabemos que nos ama. Esta oração Contemplativa é unida a leitura e reflexão da Palavra de Deus, Adoração ao Santíssimo Sacramento, quando possível, e Efusão do Espírito Santo. Percebemos que sem a oração associada à disciplina não existe crescimento em nossa vida espiritual e nem em nossa ação evangelizadora.

Método de Oração da Obra: Recomendamos além da Santa Missa diária com a frequência do Sacramento da Reconciliação e nossas devoções particulares o nosso método de oração. Pela nossa experiência solicitamos aos nossos missionário(a)s o seguinte método de oração que servirá como um “antídoto” na Fé, na Esperança e na Caridade que irá  combater o imediatismo, o relativismo e o individualismo presentes em nosso mundo.
Devemos levantar uma hora antes de iniciar todas as atividades do dia. Como temos muitas atividades durante o dia, percebemos que a oração matutina é fundamental para nossa vida por esta razão nenhum membro da Obra poderá negligenciar nesta matéria. Vemos o exemplo de Jesus que sempre antes de realizar qualquer atividade ficava longo tempo em oração, inclusive nas primeiras horas da manhã (Mc 1, 35). No sentido prático podemos apresentar como exemplo: se alguém tinha o costume de levantar-se às sete horas de agora em diante deverá se levantar às cinco horas e cinquenta minutos. Pensamos que dez minutos sejam necessários para a higiene pessoal.
A nossa oração poderá ser feita individualmente ou em comunidade no período de uma hora. Esta hora será dividida nestas etapas:

A) Momento de Reconhecimento da Presença de Deus: Ter a certeza da Presença do Senhor. Que Ele está presente com seu amor. Procurar tomar consciência de que este momento é de suma importância para nossa vida, para a Igreja e para nossa Obra. Podemos fazer uma oração espontânea de louvor ou a oração da Cruz Missionária.

B) Momento de Leitura e Reflexão da Palavra de Deus: A Palavra de Deus nos revelará o que o Senhor deseja de nós em nossa vida concreta. Esta leitura poderá ser da Liturgia Diária ou conforme o que a pessoa sentir em seu coração.

C) Momento Contemplativo: Em silêncio deixar-se olhar pelo Senhor e perceber o que Ele deseja através de sua Palavra. Nesta etapa da oração nos comunicamos com Deus no íntimo de nosso coração e descobrimos o que Ele deseja de nós. É nosso diálogo de amizade com aquele que sabemos que nos ama.

D) Momento Carismático: Através da Efusão do Divino Espírito Santo pedimos a coragem de concretizarmos em nossa vida o que Senhor nos inspirou na oração. Se a oração for feita em comunidade a Palavra poderá ser partilhada antes deste momento.

E) Momento Final: Oração do Pai Nosso: Conforme o ensinamento de Jesus rezamos a oração que Ele mesmo nos ensinou. Esta oração deverá ser feita de forma pausada para entendermos exatamente o que estamos rezando.
Oração Mariana: Pedir a intercessão de nossa padroeira a Virgem do Carmo Peregrina em favor da Obra e de seus membros. Se estiver algum sacerdote presente no caso de ser uma oração comunitária ele dará a todos os presentes a bênção sacerdotal.

Padre Giribone - OMIVICAPE


VIRGEM DO CARMO PEREGRINA


 
A imagem da Virgem do Carmo com o título de Peregrina (devido ao acompanhamento que ela fez em várias de nossas missões) foi confeccionada artisticamente pela senhora Maria Josefa Cardoso Kirchhof, minha irmã, em julho de 2001. Ela conseguiu fazer uma cópia de uma imagem belíssima que tínhamos na capela do noviciado no convento da Glória em Porto Alegre RS.
No início de minhas pregações na grande Porto Alegre eu levava uma imagem pequena de Nossa Senhora das Graças e até fiz um hino para ela que nos ajudava em nosso caminhar. Pensei que seria melhor ter uma Virgem do Carmo, pois desejava intensificar a devoção a Virgem Maria do Monte Carmelo especialmente naquele ano que se celebrava os 750º anos de sua aparição a São Simão Stock (16 de julho de 1251).
Nesta imagem foram colocadas algumas jóias de uso pessoal da senhora Maria Josefa. Segundo seu relato a confecção desta imagem foi muito difícil. Ela se sentia humanamente incapaz de fazê-la. Recorreu imediatamente à proteção de Maria para esta grande tarefa. Não tinha quem a orientasse. Sentia que brotava da imagem original o desejo da própria Virgem em querer surgir dali. Isto era o que estimulava a continuar. Teve momentos de verdadeira tribulação. Ao mesmo tempo percebia um desejo da própria Virgem que se continuassem os trabalhos. Foram momentos de sofrimentos e alegrias. Parecia que algo muito importante estava para acontecer justamente pelas dificuldades que se apresentavam. Quando a imagem começou a exercer sua função a senhora Maria Josefa sentiu em seu coração uma grande alegria que invadiu sua alma. Ela dá testemunho que esta imagem é mais obra divina do que humana. Diz que por sua capacidade só poderia fazer 5% dela. As provações quando enfrentadas com coragem se tornam fonte de verdadeira alegria.
Temos um livro de registros onde a imagem já esteve. É interessante que as pessoas ao verem a imagem ficam comovidas e sentem a presença materna de Maria que sempre está a nosso lado nos defendendo de todo o mal e nos encaminhando a obediência ao seu filho Jesus. A figura materna de Maria é fundamental para sermos servos de Deus.
Não poderia ser de outra forma. A Virgem do Carmo Peregrina se tornou a padroeira de nossa Obra Missionária por que ela sempre caminha conosco.



ORAÇÃO A VIRGEM DO CARMO PEREGRINA


VIRGEM DO CARMO PEREGRINA INTERCEDEI POR NÓS NA PEREGRINAÇÃO DESTA VIDA EM DIREÇÃO AO PAI. FAZEI QUE USEMOS SEMPRE COM DEVOÇÃO O SANTO ESCAPULÁRIO QUE É SINAL PERMANENTE DE VOSSA PROTEÇÃO EM MEIO ÀS DIFICULDADES QUE ENFRENTAMOS EM NOSSO CAMINHAR. AJUDAI A TODOS NÓS A CULTIVARMOS A PRESENÇA AMOROSA DE DEUS ATRAVÉS DA EFUSÃO DO ESPÍRITO SANTO EM MEIO À INSTABILIDADE DESTA VIDA. OLHAI COM AMOR PARA OS NOSSOS IRMÃOS ENFERMOS E NECESSITADOS. QUE AS CRIANÇAS, JOVENS E ADULTOS VIVAM SEMPRE EM HARMONIA EM SUAS FAMÍLIAS. QUE TENHAMOS SANTAS E PERSEVERANTES VOCAÇÕES NA IGREJA, NA ORDEM CARMELITA E NA VOSSA OBRA MISSIONÁRIA.


VIRGEM DO CARMO PEREGRINA PEREGRINAI CONOSCO!

 Padre Giribone - OMIVICAPE

NÃO SE APRENDE A GANHAR SEM SE APRENDER A PERDER


 

Com esta frase eu gostaria de iniciar a nossa reflexão. Quando aprendemos a jogar xadrez a cada derrota refletida nós podemos crescer no próximo jogo. As perdas de nossa vida podem se tornar ganhos. A luta contra nosso egoísmo nos torna mais fortes para Deus.
Chegou o momento de refletirmos mais sobre nossa vocação na Igreja e principalmente o que fazer na realidade onde nos encontramos para divulgarmos mais o Cristo Vivo e presente em nossas vidas. Vamos fazer uma reflexão sobre o nosso centro afetivo. O que estamos amando neste momento? Vivemos a seriedade da adesão a Cristo ou num constante deboche das coisas sérias que nos comprometem? Chegou à hora de sermos verdadeiramente líderes. Algum dia fomos chamados por alguém, agora precisamos chamar outras pessoas para seguirem a Jesus. Sem perdermos não ganharemos mais nada. A nossa vida se tornará inútil. O sacramento (graças da Igreja) que recebemos não será mais fonte de santificação para nós.
Na realidade em que nos encontramos precisamos nos voltar para os jovens que são altamente violentados pela grande mídia que quer nos escravizar nos tornando instrumentos vivos das relações comerciais. Quando me ordenei sacerdote, no momento em que estava prostrado por terra na ladainha de todos os santos, ofereci minha vida aos jovens. Pedi ao Senhor que muitos jovens tivessem a graça de conhecê-lo como eu havia conhecido. Que muitos jovens saíssem da sedução do mundo para a verdadeira alegria que só o Senhor pode nos dar.
Nós começamos a morrer quando deixamos de amar. Não podemos perder o entusiasmo pelas coisas de Deus, pois esta vida é uma peregrinação. Não temos morada permanente nesta vida. Falta pouco para deixarmos este mundo e o que levaremos conosco senão o bem que praticarmos nesta vida?
Há muitos jovens e crianças precisando de nós. Nas escolas de nossas paróquias. Nas festas dos diversos locais de diversão de nossa cidade etc. Nós recebemos de graça. Seremos capazes de dar de graça, de perder tempo em salvar outros jovens?
A nossa sociedade está montada hoje na seguinte pirâmide: 1º Relações Comerciais, 2º Mídia Subserviente, 3º Pessoa como meio de compra e de venda. A visão cristã desta realidade é totalmente contrária. A pessoa toma o primeiro lugar por ser criatura amada de Deus. Todos os outros aspectos, inclusive a falsa evolução que hoje está tanto em voga, deve servir à pessoa, deve fazer que nos sintamos felizes, partilhando nossa vida. O ideal cristão na sua essência é altruísta, se coloca em favor do outro. Isto provoca uma grande oposição ao pensamento mundano que é essencialmente egoísta.
Gostaria que cada um fizesse um histórico de sua vida e de sua adesão ao plano de Deus. Estamos no grupo por esporte ou por amor? Estamos dispostos a sofrer por Cristo uma pequena parte do que ele sofreu por nós? Vamos utilizar para isto a técnica das duas árvores. Desenhando duas árvores. Uma positiva e outra negativa. Depois vamos examiná-las, especialmente as suas raízes. O que está de fora da terra e o que está dentro. O que está influenciando a nossa vida? As nossas raízes são muito importantes. Elas nos dão sustentação. Elas crescem conforme a nossa relação com Deus.
Vamos ter muitas perdas para termos muitos ganhos nesta vida. A humildade do que sabe perder lhe prepara para saber ganhar e partilhar. Quando partilhamos somos mais felizes.

Padre Giribone - OMIVICAPE

sábado, 24 de março de 2012

SE O GRÃO DE TRIGO NÃO MORRER FICARÁ SOZINHO


 
As palavras morte e vida são constantes no ensinamento de Jesus. Na realidade uma não coincide com a outra. Nós desejamos “salvar” nossa vida. Desde o momento da tomada de consciência no início desta vida desejamos alcançar a felicidade. Queremos que ela nunca se extinga. Experimentamos em nosso dia a dia momentos de felicidade que nos trazem muita alegria. Mas também vivemos momentos de sofrimento e angústia. Estes sofrimentos quando oferecidos a Deus são causa de nossa santificação. Só a adesão ao projeto de Deus poderá nos trazer a felicidade interior (paz), que nem sempre coincide com as alegrias exteriores. Devemos examinar as consequências daquilo que vamos fazer para não nos arrependermos no futuro. Quando praticamos o bem temos como resposta o bem que nos traz a alegria profunda que é fruto do amor de Deus em nós.

 EVANGELHO (Jo 12, 20-33):
Naquele tempo, havia alguns gregos entre os que tinham subido a Jerusalém, para adorar durante a festa. Aproximaram-se de Filipe, que era de Betsaida da Galiléia, e disseram: “Senhor, gostaríamos de ver Jesus”. Filipe combinou com André, e os dois foram falar com Jesus. Jesus respondeu-lhes: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade eu vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto. Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém me quer servir, siga-me, e onde eu estou estará também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará. Agora sinto-me angustiado. E que direi? Pai, livra-me desta hora? Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. Pai, glorifica o teu nome!” Então veio do céu uma voz: “Eu o glorifiquei e o glorificarei de novo!” A multidão que lá estava e ouviu, dizia que tinha sido um trovão. Outros afirmavam: “Foi um anjo que falou com ele”. Jesus respondeu e disse: “Esta voz que ouvistes não foi por causa de mim, mas por causa de vós. É agora o julgamento deste mundo. Agora o chefe deste mundo vai ser expulso, e eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim”. Jesus falava assim para indicar de que morte iria morrer.

“Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto. Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna”.

A proposta de Jesus é sempre um questionamento para nós. Jesus renuncia a si mesmo para nos salvar. Se quisermos ser seus discípulos precisamos deixar nossos projetos particulares para assumirmos um amor universal. O cristão não se preocupa somente com sua felicidade particular. Quer que todos sejam felizes. A linguagem de Deus é sempre paradoxal em relação a nossa pequena visão da realidade. Os pequenos apegos nos levam à busca de nós mesmos e nos afastam da concretização do Reino em nossa vida. A pior conseqüência deles é que nos tornamos escravos e alienados. O consumismo acaba nos consumindo.
O tema sobre a morte sempre preocupou e questionou o ser humano em sua história. Com a vinda de Jesus os diversos questionamentos tiveram uma única resposta: Deus nos criou para participarmos de sua felicidade. Esta existência mortal é uma preparação para a vida definitiva. A morte é a porta que conduz à vida. Esta morte é sistemática. Acontece em vários momentos de nossa vida quando renunciamos a nós mesmos para fazermos a vontade de Deus. A cada renúncia que vamos vivendo nos abrimos a uma nova consciência. Começamos a entender o que Deus quer de nós.
São João da Cruz em seus escritos nos traz uma mensagem muito importante: Quando queremos abraçar o Tudo, precisamos abraçar o Nada. A renúncia de nós mesmos é essencial para sabermos quem nós somos. Jesus nos fala do grão de trigo que precisa morrer para perfilhar em outros vegetais que produzirão muito mais frutos do que se ele ficasse preso em sua pequena existência. Aí encontramos a raiz da verdadeira felicidade que o homem “moderno” se esqueceu completamente por confiar mais em si no que no Criador.
A morte e o sofrimento não são queridos por Deus. Surgiram como conseqüência do pecado. Deus se aproveita deles como meios de santificação, de reconhecimento do essencial. Todos se questionam diante da morte: os sábios, os ricos, os pobres. A morte é um ensinamento para os que confiam em suas próprias forças deixando Deus de lado. Os cristãos chamam a morte de irmã porque é por meio dela que iremos passar para vida definitiva junto com Deus e todos os santos. Não seremos mais escravos do relativismo imposto pelo mundo presente que se fere a si mesmo. O mundo produz infelicidade para si e para os outros. Procura costurar as coisas boas de Deus com falsos valores.
Jesus, para nos salvar passou também pela experiência da morte que não foi definitiva para Ele como não será definitiva para nós. Fomos criados para a eternidade. Por esta razão precisamos saber selecionar os valores e participarmos da missão salvífica de Jesus através de nossa colaboração com a missão de evangelizarmos a todos os povos e a todos os ambientes. Para que isto aconteça vamos passar pela cruz e pelo sofrimento momentâneo na certeza da paz definitiva.
Os gregos quiseram “ver Jesus”. Precisamos de uma amizade histórica com o Senhor para vencermos os nossos egoísmo e vê-lo na realidade e em todos os nossos irmãos especialmente os mais necessitados. Quando vemos Jesus somos obrigados a segui-lo dentro da realidade onde nos encontramos. A missão está sempre relacionada com a revelação. Deus se revela para nos enviar como instrumentos de salvação para os nossos irmãos. O seguimento de Jesus não é uma teoria, precisa passar pelo coração, pelo centro afetivo de nossa vida.
Deus quer que façamos desta existência mortal um processo de preparação para a vida definitiva vencendo aos poucos as nossas limitações. Neste tempo da quaresma precisamos recorrer ao sacramento da reconciliação. Pelo perdão de Deus saberemos nos perdoar e perdoar os nossos irmãos.

“Senhor Jesus, que possamos aceitar a realidade do sofrimento que devemos passar nesta vida para experimentarmos a verdadeira alegria que vem de ti”.

Padre Giribone - OMVICAPE

sexta-feira, 23 de março de 2012

DEVOÇÃO A VIRGEM DO CARMO PEREGRINA


 
A imagem da Virgem do Carmo com o título de Peregrina (devido ao acompanhamento que ela fez em várias de nossas missões) foi confeccionada artisticamente pela senhora Maria Josefa Cardoso Kirchhof, minha irmã, em julho de 2001. Ela conseguiu fazer uma cópia de uma imagem belíssima que tínhamos na capela do noviciado no convento da Glória em Porto Alegre RS.
No início de minhas pregações na grande Porto Alegre eu levava uma imagem pequena de Nossa Senhora das Graças e até fiz um hino para ela que nos ajudava em nosso caminhar. Pensei que seria melhor ter uma Virgem do Carmo, pois desejava intensificar a devoção a Virgem Maria do Monte Carmelo especialmente naquele ano que se celebrava os 750º anos de sua aparição a São Simão Stock (16 de julho de 1251).
Nesta imagem foram colocadas algumas jóias de uso pessoal da senhora Maria Josefa. Segundo seu relato a confecção desta imagem foi muito difícil. Ela se sentia humanamente incapaz de fazê-la. Recorreu imediatamente à proteção de Maria para esta grande tarefa. Não tinha quem a orientasse. Sentia que brotava da imagem original o desejo da própria Virgem em querer surgir dali. Isto era o que estimulava a continuar. Teve momentos de verdadeira tribulação. Ao mesmo tempo percebia um desejo da própria Virgem que se continuassem os trabalhos. Foram momentos de sofrimentos e alegrias. Parecia que algo muito importante estava para acontecer justamente pelas dificuldades que se apresentavam. Quando a imagem começou a exercer sua função a senhora Maria Josefa sentiu em seu coração uma grande alegria que invadiu sua alma. Ela dá testemunho que esta imagem é mais obra divina do que humana. Diz que por sua capacidade só poderia fazer 5% dela. As provações quando enfrentadas com coragem se tornam fonte de verdadeira alegria.
Temos um livro de registros onde a imagem já esteve. É interessante que as pessoas ao verem a imagem ficam comovidas e sentem a presença materna de Maria que sempre está a nosso lado nos defendendo de todo o mal e nos encaminhando a obediência ao seu filho Jesus. A figura materna de Maria é fundamental para sermos servos de Deus.
Não poderia ser de outra forma. A Virgem do Carmo Peregrina se tornou a padroeira de nossa Obra Missionária por que ela sempre caminha conosco.



ORAÇÃO A VIRGEM DO CARMO PEREGRINA


VIRGEM DO CARMO PEREGRINA INTERCEDEI POR NÓS NA PEREGRINAÇÃO DESTA VIDA EM DIREÇÃO AO PAI. FAZEI QUE USEMOS SEMPRE COM DEVOÇÃO O SANTO ESCAPULÁRIO QUE É SINAL PERMANENTE DE VOSSA PROTEÇÃO EM MEIO ÀS DIFICULDADES QUE ENFRENTAMOS EM NOSSO CAMINHAR. AJUDAI A TODOS NÓS A CULTIVARMOS A PRESENÇA AMOROSA DE DEUS ATRAVÉS DA EFUSÃO DO ESPÍRITO SANTO EM MEIO À INSTABILIDADE DESTA VIDA. OLHAI COM AMOR PARA OS NOSSOS IRMÃOS ENFERMOS E NECESSITADOS. QUE AS CRIANÇAS, JOVENS E ADULTOS VIVAM SEMPRE EM HARMONIA EM SUAS FAMÍLIAS. QUE TENHAMOS SANTAS E PERSEVERANTES VOCAÇÕES NA IGREJA, NA ORDEM CARMELITA E NA VOSSA OBRA MISSIONÁRIA.


VIRGEM DO CARMO PEREGRINA PEREGRINAI CONOSCO!

Padre Giribone - OMIVICAPE

sábado, 17 de março de 2012

JESUS E NICODEMOS


 

O seguimento de Jesus tem como consequência uma aceitação plena de seus valores em nossa vida. Percebemos no diálogo com Nicodemos que a vida de Jesus passa a ser um exemplo, um modelo de fé para todo aquele que crê. Jesus será levantado da terra, morto na cruz e ressuscitado, para que todo aquele que o olhar, especialmente para os seus valores possa alcançar o prêmio da vida eterna. O seguimento de Jesus não é algo relativo em nossa vida, é uma doação de todo nosso ser na prática efetiva do bem no meio do mal instituído na sociedade. Seguir a Jesus é um grande desafio. Somos tentados a viver no egoísmo e a proposta de Jesus sempre nos questiona na busca do bem comum. Enfrentamos duas forças que lutam entre si. O egoísmo e o altruísmo. Perder é ganhar e ganhar tudo é perder tudo.



EVANGELHO (Jo 03, 14-21):

Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: “Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna. Pois Deus amou tanto o mundo, que deu Filho unigênito para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas  para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê, não é condenado, mas quem não crê, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito. Ora, o julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más. Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas. Mas quem age conforme a verdade aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus”.

“Deus amou tanto o mundo, que deu Filho unigênito para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna”.

Neste quarto domingo da Quaresma Jesus em seu diálogo com Nicodemos afirma sua missão. Quando cremos em Deus, procuramos, dentro das nossas limitações, fazer a sua santa vontade. Não seremos felizes seguindo nossos planos particulares se não colocarmos o que Deus deseja de nós em primeiro lugar. O jejum, a esmola e a oração são meios para podermos sentir o essencial em nossa vida. O sofrimento oferecido nos leva a entender o quanto somos amados por Deus.
A opção por Jesus inclui uma atitude de Fé, Esperança e Caridade. Crer nele nos leva a uma atitude de esperança na vivência da caridade que será a consequência dos que acreditam no seu projeto.
Quando cremos em Deus passamos a ter os mesmos sentimentos. Esquecemo-nos de nosso pequeno mundo egoísta e de nossas pequenas alegrias superficiais para buscarmos a verdadeira felicidade que ocorre na partilhada de nossos bens espirituais e materiais com todos os nossos irmãos. Crer em Deus inclui a prática do bem imediato. Quem obedece a Ele está disposto a remar contra a correnteza do mal que infelizmente impera na humanidade dividida pelo desejo de prazeres momentâneos.
Percebemos nesta passagem do diálogo de Jesus com Nicodemos, que Jesus fala dos que aceitam e dos que negam o projeto de Deus. A Fé é um processo de aceitação da vontade misteriosa de Deus em nossa vida. Os que acreditam em Deus estão mais próximos da luz. Estão recebendo a radiação do amor de Deus com mais intensidade. Embora ela exista da mesma forma para todos. Por esta razão na administração de nossa existência não podemos medir esforços para nos direcionar até Deus e seus valores.  Somos obrigados a praticar aquilo que cremos. Não podemos dizer que acreditamos em Deus e em seu projeto de amor se as nossas ações não estão de acordo com o que professamos.
Quem pratica o mal odeia a luz. A luz é a verdade que questiona nossas ações. Quando estamos acomodados em nossos pecados criamos outro tipo de sensibilidade que nos faz “insensíveis” ao amor de Deus. Por esta razão percebemos que a única religião que é perseguida é a católica por deter a verdade do Cristo que não se mistura com a mentira do mundo. É comum a expressão de cristãos que dizem não se confessarem porque não tem nenhum pecado. Quando não temos luz em uma peça de nossa casa, por exemplo, não podemos perceber a sujeira que pode estar depositada em cima dos móveis do recinto. A prática do bem sempre nos questiona e nos leva à conversão.
Jesus será pregado na Cruz para olharmos para Ele. Termos Ele como exemplo para nossas vidas. As serpentes no deserto picavam o povo que havia se afastado do projeto de Deus, eram duros de coração. Hoje somos picados por diversos “meios” que nos afastam da verdade e destroem nossas relações. Quando o povo de Israel olhava para a serpente pendurada em uma haste, eram curados imediatamente. O Cristo crucificado é o maior espetáculo que podemos assistir em nossa vida. Somos curados do egoísmo quanto sentimos que Deus é solidário conosco. Jesus relativiza aquilo que pensamos ser absoluto em nossa vida. E coloca o Absoluto de Deus em primeiro lugar em detrimento do que não é essencial.
Nunca podemos esquecer que somos peregrinos nesta vida. Estamos todos a caminho da eternidade. Devemos construir um mundo novo mais solidário valorizando de forma correta a grande dedicação que Deus tem pelos seus filhos.

“Senhor Jesus, que o grande sinal da sua cruz redentora transforme nossa vida”.

Padre Giribone - OMIVICAPE

sexta-feira, 16 de março de 2012

O PODER DA ORAÇÃO MATUTINA


 
Gostaria de iniciar este artigo colocando um testemunho pessoal e depois justificar o sentido do por que deste artigo. Com a graça de Deus pertenci a Ordem Carmelita Descalça de 1982 a 2010. Na realidade hoje não estou na Ordem por ter sido chamado a fundação da Obra Missionária Virgem do Carmo Peregrina. Na Ordem me aprofundei na Oração Teresiana que sem dúvida é um método perfeito para nos mantermos na Presença de Deus como uma tradição desde o profeta Elias.
Devido as minhas atividades paroquiais e outras atividades confesso que estava com dificuldades para fazer o método carmelitano e a oração da liturgia das horas. Foi uma falha que a Divina Providência veio me auxiliar para depois se tornar algo importante para muitas pessoas serem restauradas.
Em uma missa de louvor, após a comunhão, veio em meu coração uma palavra que deveria vir ao Sacrário às cinco horas da manhã. Percebi que era um chamado de Deus e que deveria obedecer. Ao já estava me levantando as 4h30 para sair para caminhar por ordem médica, pois estava diabético. Troquei as caminhadas pela academia e fui para o sacrário da igreja do Carmo aqui em Rio Grande RS, às cinco horas da manhã como sentia que o Senhor me pedia. Ao chegar diante do Sacrário da igreja do Carmo levei a Bíblia, li um trecho da Palavra e meditei por alguns momentos. Ao final pedi uma nova efusão do Espírito Santo. Aos poucos minha vida foi se transformando e outro irmão (Darlen Vaz), quis fazer comigo esta oração.
A comunidade de consagrados da Obra nasceu e se sustenta com a Oração Matutina. Muitas pessoas já foram e serão restauradas por meio dela. É o que percebemos aqui em nossa casa. O acordar cedo é importante. Ele nos coloca a disposição do Senhor. Após esta oração sentimos uma grande alegria em nosso coração. Esta oração é um verdadeiro antídoto contra o egoísmo instaurado no mundo.
Sem oração não existe missão. Seguimos o conceito teresiano de oração como trato de amizade com Aquele que sabemos que nos ama. Esta oração Contemplativa é unida a leitura e reflexão da Palavra de Deus, Adoração ao Santíssimo Sacramento, quando possível, e Efusão do Espírito Santo. Percebemos que sem a oração associada à disciplina não existe crescimento em nossa vida espiritual e nem em nossa ação evangelizadora.

Método de Oração da Obra: Recomendamos além da Santa Missa diária com a frequência do Sacramento da Reconciliação e nossas devoções particulares o nosso método de oração. Pela nossa experiência solicitamos aos nossos missionário(a)s o seguinte método de oração que servirá como um “antídoto” na Fé, na Esperança e na Caridade que irá  combater o imediatismo, o relativismo e o individualismo presentes em nosso mundo.
Devemos levantar uma hora antes de iniciar todas as atividades do dia. Como temos muitas atividades durante o dia, percebemos que a oração matutina é fundamental para nossa vida por esta razão nenhum membro da Obra poderá negligenciar nesta matéria. Vemos o exemplo de Jesus que sempre antes de realizar qualquer atividade ficava longo tempo em oração, inclusive nas primeiras horas da manhã (Mc 1, 35). No sentido prático podemos apresentar como exemplo: se alguém tinha o costume de levantar-se às sete horas de agora em diante deverá se levantar às cinco horas e cinquenta minutos. Pensamos que dez minutos sejam necessários para a higiene pessoal.
A nossa oração poderá ser feita individualmente ou em comunidade no período de uma hora. Esta hora será dividida nestas etapas:

A) Momento de Reconhecimento da Presença de Deus: Ter a certeza da Presença do Senhor. Que Ele está presente com seu amor. Procurar tomar consciência de que este momento é de suma importância para nossa vida, para a Igreja e para nossa Obra. Podemos fazer uma oração espontânea de louvor ou a oração da Cruz Missionária.

B) Momento de Leitura e Reflexão da Palavra de Deus: A Palavra de Deus nos revelará o que o Senhor deseja de nós em nossa vida concreta. Esta leitura poderá ser da Liturgia Diária ou conforme o que a pessoa sentir em seu coração.

C) Momento Contemplativo: Em silêncio deixar-se olhar pelo Senhor e perceber o que Ele deseja através de sua Palavra. Nesta etapa da oração nos comunicamos com Deus no íntimo de nosso coração e descobrimos o que Ele deseja de nós. É nosso diálogo de amizade com aquele que sabemos que nos ama.

D) Momento Carismático: Através da Efusão do Divino Espírito Santo pedimos a coragem de concretizarmos em nossa vida o que Senhor nos inspirou na oração. Se a oração for feita em comunidade a Palavra poderá ser partilhada antes deste momento.

E) Momento Final: Oração do Pai Nosso: Conforme o ensinamento de Jesus rezamos a oração que Ele mesmo nos ensinou. Esta oração deverá ser feita de forma pausada para entendermos exatamente o que estamos rezando.
Oração Mariana: Pedir a intercessão de nossa padroeira a Virgem do Carmo Peregrina em favor da Obra e de seus membros. Se estiver algum sacerdote presente no caso de ser uma oração comunitária ele dará a todos os presentes a bênção sacerdotal.

Padre Giribone - OMIVICAPE


quarta-feira, 14 de março de 2012

ESPÍRITO SANTO NA FAMÍLIA


 

O Espírito Santo é a terceira pessoa da Santíssima Trindade, responsável pela nossa santificação. Ele provoca em nós um grande entusiasmo pelas coisas de Deus. Quando um homem e uma mulher assumem o compromisso matrimonial ocorre uma consagração de um para com o outro. Por esta razão quando o sacramento do matrimônio se concretiza só há felicidade para os cônjuges através da união. Aliás esta palavra (cônjuge), vem da atividade agrícola onde os bois puxam juntos na mesma reta a ganga de madeira. Um não pode puxar na frente do outro, mas ambos devem fazer a mesma força. Isto é bem sugestivo para se saber que no casamento os dois devem sempre caminhar juntos. Quando se fala em separação, o Espírito Santo se afasta, Ele não está presente quando cada um quer fazer a sua vida independente. Deus não quer competição, mas sim colaboração e solidariedade.
Se formos ver o que aconteceu na transformação apostólica, iremos perceber que após a experiência de pentecostes, os discípulos medrosos se transformaram em homens cheios de sabedoria, que sabiam exatamente o que lhes havia sucedido. O Espírito Santo nos traz o verdadeiro discernimento, ou seja, passamos a ver com clareza o objetivo de nossa existência. No matrimônio ele passa a ser o óleo lubrificante que mantém a chama de amor dentro da família.
O Espírito Santo nos revela que somos Filhos muito amados de Deus, que precisamos viver cada vez mais um grande amor universal. Quando o Espírito Santo começa a ser invocado mais vezes dentro de nossas famílias, surge um novo horizonte. Mesmo com a perseguição explícita do comércio que tenta destruir as famílias pela força da grande mídia. Os seguidores de Cristo querem algo diferente. Uma vida de pureza que trás uma grande alegria interior um milhão de vezes melhor do que o egoísmo implantado na sociedade.
O Espírito Santo é responsável pela difícil tarefa de abrir nossos corações e nos conduzir a verdadeira liberdade dos filhos de Deus. Gostaria neste momento de perguntar a todos: O que é a liberdade? É fazer o que dá na cabeça? Ser livre realmente é saber o que somos e agirmos conforme nossa identidade. Ser livre é deixar-se amar por Deus, deixar que Ele nos transforme em novas criaturas. Ser livre é obedecer a Deus, pois Ele é o único que pode responder qual é o sentido último de nossas vidas que é viver para sempre com Ele.
Parece que eu estou enchendo vocês de dúvidas. O que é este tal de amor universal?  Vocês certamente ouviram falar de Santa Teresinha. Pois ela é um exemplo de amor universal. Ela viveu toda sua vida amando a todos, mesmo aqueles que ela não conhecia. O Espírito Santo nos capacita a viver uma realidade nova em nossa vida. Somos pessoas que passamos a “Viver Jesus” onde estivermos. Isto significa que nos tornamos “agentes do bem” dentro do ambiente negativo do mundo.
O Espírito Santo é responsável pela manutenção da Graça em nossa vida. Só poderemos amar de verdade, a partir do momento em que Ele estiver em nossa vida. Já recebemos a graça do Batismo como sacramento, precisamos agora, renovar esta realidade em nossa vida, pedindo uma nova efusão, um novo derramamento sobre nós, para que sejamos mais coerentes com a opção por Jesus Cristo.
O Batismo no Espírito Santo é uma oração de súplica para que se renove em nós a graça já recebida no batismo sacramental, para que sejamos fortificados e não nos deixemos enganar pelas alegrias passageiras desta vida. É a experiência espiritual pela qual o Espírito Santo, recebido no Batismo, emerge como realidade na consciência do cristão. Possuímos muitos dons para partilharmos com os nossos irmãos, após esta nova experiência no Espírito Santo, o Senhor nos dá uma nova qualificação para melhor ajudarmos na evangelização, na caridade etc.
Quais são os grandes efeitos da Efusão do Espírito Santo em nossa vida concreta especialmente dentro da vocação do Matrimônio? Jesus se torna centro de nossa vida; passamos a viver com, para, por e em Jesus; passamos a VIVER JESUS. Surge um novo gosto pela Sagrada Escritura, um desejo de Comunhão Fraterna, uma Libertação Espiritual, um Crescimento dos frutos do Espírito, uma Redescoberta da Igreja e o Reencontro com Maria, Mãe da Igreja. No sacramento do matrimônio especialmente há uma renovação constante. Uma alegria que brota do fundo do coração dos esposos. Sem oração e respeito não existe como manter a família. O Espírito Santo mantém a força inicial de quando abraçamos a nossa vocação.

Padre Giribone - OMIVICAPE

sábado, 10 de março de 2012

“JESUS VEIO REALIZAR A VONTADE DO PAI”.


As atitudes de Jesus só poderão ser entendidas no momento em que percebemos o grande objetivo de sua vinda até nós. A ressurreição de Jesus é o fato mais importante para o cristianismo. Nela temos a certeza da nossa futura ressurreição. Jesus é radical em relação ao Templo de Jerusalém que era consagrado ao culto de Javé. Ele não admite mistura de objetivos nas coisas de Deus. Não podemos buscá-lo em seguranças econômicas. O verdadeiro culto é um exercício de abertura ao amor de Deus que muitas vezes é vivido no sofrimento e na miséria. O tempo da quaresma é um convite a uma abertura profunda a graça de Deus vivida no amor solidário.



EVANGELHO (Jo 02, 13-25):

Estava próxima a páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. No templo, encontrou os vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas que estavam aí sentados. Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. E disse aos que vendiam as pombas: “Tirai isto daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!” Seus discípulos lembraram-se, mais tarde, que a escritura diz: “O zelo por tua casa me consumirá”. Então os judeus perguntaram a Jesus: “Que sinal nos mostras para agir assim?” Ele respondeu: “Destruí este templo, e em três dias o levantarei”. Os judeus disseram: “Quarenta e seis anos foram precisos para a construção deste santuário e tu o levantarás em três dias?” Mas Jesus estava falando do templo do seu corpo. Quando Jesus ressuscitou, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e acreditaram na escritura e na palavra dele. Jesus estava em Jerusalém durante a festa da páscoa. Vendo os sinais que realizava, muitos creram no seu nome. Mas Jesus não lhes dava crédito, pois ele conhecia a todos; e não precisava do testemunho de ninguém acerca do ser humano, porque ele conhecia o homem por dentro.

 

“Que sinal nos mostra para agir assim?” Ele respondeu: “Destruí este templo, e em três dias o levantarei”.

A ressurreição de Jesus é o grande sinal da autenticidade de sua missão. Jesus é o Messias, o Consagrado, o Filho de Deus que irá restaurar todas as coisas não só para os judeus, mas para todos os que aceitarem a Boa Nova da Salvação.
Esta passagem do evangelho sempre nos causa certa preocupação em relação ao uso dos bens materiais, especialmente o que é relacionado ao culto. O templo de Jerusalém era o local privilegiado da manifestação de Deus. Ele representava toda unidade do povo de Israel. A atitude radical de Jesus relativiza o templo material e coloca a sua pessoa em primeiro lugar. Jesus representa cada um de nós neste momento. Deus quer habitar em nosso coração. Quer fazer parte de nossa intimidade. Muitas vezes transformamos nossa relação com Deus em algo formal e nos esquecemos que Ele é nosso amigo que caminha conosco em todos os momentos de nossa existência. O diálogo com Deus pode ser feito em qualquer lugar. A oração nos faz conhecer qual o plano de Deus em relação a nossa vida e nos dá coragem para concretizá-lo dentro da realidade que vivemos.
A afirmação do evangelho de que Jesus conhecia o homem por dentro nos faz refletir na grandiosidade de Deus em relação as suas criaturas. Somos muito importantes para o nosso Criador, somos a obra prima de seu amor. O pessimismo implantado pela sociedade em nossos corações já não consegue nos influenciar. Tornamo-nos novas criaturas, livres na força da certeza do amor do Senhor. Esta é a verdade que nos levará a liberdade e a paz. Não nascemos para sermos escravos da imposição das relações comerciais instigada pela “grande mídia”.
Deus é eternamente solidário conosco. Ele não nos cobra nada. Devemos ter esta mesma atitude em nossa vivência religiosa. O dízimo é uma responsabilidade fundamental quando é direcionado no sentido verdadeiro, mas não pode fazer parte da essência de nossa pregação. É uma oferta de nossa generosidade, de nossa boa vontade de ver as coisas de Deus progredirem para o bem do próximo.
Muitas pessoas querem utilizar o sentido religioso para enriquecer. Deixam a conversão pela ganância o que as coloca fora do plano de Deus. O dinheiro precisa ser nosso servo e não podemos servir ao dinheiro. Ele deve ser utilizado para a nossa manutenção porque infelizmente o homem não foi capaz de criar outro tipo de valor para sua sobrevivência. Os cristãos católicos devem estudar mais a doutrina da Igreja para não caírem em nenhum embuste de prosperidade imediata pregada pelas falsas religiões. Nós temos tudo. Os sete sacramentos são os sinais visíveis da presença de Cristo em nosso meio através da ação do Espírito Santo dentro da Igreja.
A ressurreição de Jesus vai ser a confirmação de tudo o que ele afirmou sobre a sua pessoa. Um dos motivos graves que levaram Jesus a ser condenado à morte foi a relativização do templo que era um “centro comercial” muito importante para os judeus. Beneficiava a vida de muitas pessoas no sentido econômico. A casa de Deus não é um comércio, mas lugar de paz e alegria.
Ser pobre significa ser solidário tanto com os bens materiais como espirituais. Devemos saber que o que temos não nos pertence. Somos parte de uma grande comunidade onde o bem que fizermos irá influenciar na vida de todas as pessoas.

 
 “Senhor Jesus que o nosso amor se volte para todos que necessitam de nossa solidariedade”.

Padre Giribone - OMIVICAPE

quarta-feira, 7 de março de 2012

A LEITURA DO AVESSO


  
Talvez vocês estejam se perguntando sobre o título deste artigo. Vamos começar com a seguinte história. Uma mãe estava bordando um belo bordado em uma tela. De repente vem seu filhinho de quatro anos e se aproxima dela vendo o bordado do avesso por ser muito baixo. Ele pergunta para sua mãe que coisa feia e horrível ela está fazendo? A mãe então abaixa o bordado e mostra o lado direito do bordado para a criança que se surpreende com a beleza de seu trabalho. Esta história tem muito a ver com a nossa vida. Muitas vezes interpretamos as coisas negativas que nos acontecem de forma direta, sem perceber o que pode estar por detrás delas.
Quem sabe seria bom ver as coisas negativas que nos acontecem como algo extremamente positivo. Vamos fazer uma nova leitura de nossa vida para superarmos e convivermos com nossas limitações sabendo oferecê-las. O sofrimento oferecido é uma grande fonte de santificação. O Divino Espírito Santo vai mostrando nossas feridas. Ao mesmo tempo que vamos reconhecendo-as, vamos superando-as ou relativizando-as na técnica do oferecimento.
Vemos que a doença pode ser um sinal de glória (Jo 09, 01-03). Deus permite que tenhamos contato com nossas limitações para podermos perceber que Deus está ativo em nossa vida.
“Deus nos ama acima de nossas limitações”. Muitas vezes o que aparentemente pode ser terrível é algo que oferecido a Deus pode se tornar a tábua de nossa salvação. Vemos os instrumentos de tortura dos mártires e as formas como eles os abraçaram com alegria porque foram os meios de santificação que Deus havia permitido para eles. A tradição diz que Jesus ao receber a cruz a beijou. O que vamos fazer com nosso câncer, com nosso diabetes, com nossas doenças emocionais, com os problemas de relacionamento?
Vamos perceber que a porta estreita é o combate de nosso egoísmo que aos poucos nos leva a um amor mais puro. Estamos em uma segunda gestação ou peregrinação ao eterno. Só o bem que praticarmos nesta vida é que vai permanecer.
Tivemos muitas oportunidades em nossa vida de conhecer o Senhor e sua presença. Cada momento de nossa vida é uma nova oportunidade para reconhecermos que somos amados por Deus. Ele nos criou para sermos suas criaturas prediletas, para fazermos parte de sua alegria. O pré requisito para experimentarmos Deus é a humildade. Através dela seremos capazes de nos adentrarmos no mistério de Deus pela fé vivida na obediência. A humildade nos leva a experiência da verdade.
Percebemos no evangelho de São João uma saudação de Jesus Ressuscitado que encerra tudo o que buscamos nesta vida: “A Paz esteja convosco” (Jo 20, 19). Jesus atravessa as barreiras internas e externas da pessoa para oferecer a sua misericórdia. Esta misericórdia é fonte de libertação e cura para todos que procuraram viver os valores expressos por Jesus em seus ensinamentos. Neste momento nasce o sacramento da Reconciliação que tem várias dimensões de cura interna e externa da pessoa. Nós seremos curados quando vivermos o altruísmo, ou seja, a saída de nós mesmos para sermos instrumentos de salvação de nossos irmãos. Devemos nos esquecer para recordar o que somos diante de Deus.
Só teremos paz no momento que soubermos qual é o objetivo de nossa vida. Esta paz nasce na obediência a Deus. Assim como Maria soube dizer sim devemos seguir o seu modelo para sermos felizes. Quando descobrimos o que queremos nesta vida (a eternidade) então vamos iniciar o nosso processo de conversão tentando concretizar em nossa vida o que o Senhor nos pede. São os dois grandes desafios que nos trazem paz: conhecer o que o Senhor quer de nós e a força de tentar concretizar sua vontade. Ter paz não significa viver longe das provações, dos sofrimentos, significa em meio a instabilidade da vida ter a certeza que estamos no caminho da ressurreição. Por sito acontece que muitos católicos se afastam da cruz e alguns vão para falsas religiões. Buscam um “deus do egoísmo” e da vaidade. Podemos afirmar que uma pessoa que não é católica, mas estuda reza e reflete acaba como católica e o católico que não estuda, não reza e não reflete vai para as falsas religiões.
O nosso passado, as coisas negativas que nos aconteceram são como espinhos que constantemente nos ferem. Precisamos da Paz do Cristo Glorioso presente em nossa vida para eliminarmos definitivamente o mal presente em nossa história. Só o Espírito Santo é capaz de nos curar e santificar.
Somos convidados a abrir nosso coração ao Divino Espírito Santo para que Ele nos fortaleça e faça ver a realidade de nossa vida totalmente preenchida pelo amor de Deus. Necessitamos de cura e libertação, não há exceção para esta realidade. Algum problema, alguma fragilidade Deus permite para que a nossa confiança esteja só em sua força. Temos o nosso “tendão de Aquilis” de nossas fragilidades.
Do que precisamos ser curados e libertados? A resposta podemos encontrar no próprio sentido da paixão, morte e ressurreição de Cristo. Se não precisássemos ser libertados e curados Jesus não teria passado tudo que passou para nos salvar e não teria enviado o Espírito Santo para nos auxiliar em nosso processo de santificação.
A primeira cura e por consequência, a primeira libertação acontece quando nos livramos do pecado e de sua ressonância em nossa vida. O maior problema do pecado é o nosso isolamento de Deus, quebra de comunicação, e a desconfiança de que Ele possa nos perdoar e aceitar novamente. O pecado nos torna egoístas. Do pecado somos curados pela experiência da misericórdia que acontece de forma gratuita no sacramento da reconciliação.
A nossa oração e todo o nosso empenho deve ser aplicado no reconhecimento do amor que Deus tem por nós. O ser humano é uma bomba que deseja sentir-se amado e amar. Quando fomos amados na nossa infância, na adolescência, na juventude, na fase adulta, enfim, se estamos nos sentindo amados neste momento, estamos em processo de cura e libertação. Devemos viver a espiritualidade do Kairós (Graça de Deus que nos ama neste momento), para sermos felizes. Do que adianta o passado? Do que adianta o futuro? O que importa é o agora vivido no reconhecimento de que estamos sendo amados. São João da Cruz nos diz que o olhar de Deus é amar. Estamos todos sobre o olhar amoroso do Senhor.
A nossa vida é um grande mistério. Passamos por momentos altos e baixos, de profunda alegria e de profunda decepção. Muitas vezes nos colocamos no centro do mundo, somos egoístas e auto suficientes pensando que somos uma fábrica de realização pessoal. O pecado nos faz fortes, nos estampa uma alegria superficial que é capaz de convencer aos outros e a nós mesmos.
O Espírito Santo vem até nós para abrir o verdadeiro horizonte de nossa vida. Jesus nos diz que iremos conhecer a verdade e a verdade nos libertará (Jo 08, 32). Esta libertação é um processo. Inicia nos aspectos morais de nossa vida até chegar ao íntimo de nosso ser, quando nos sentimos moradas de Deus.
Quando olhamos para Jesus com o olhar do filho pródigo (Lc 15, 11ss), estamos abrindo um grande espaço em nosso interior para sermos curados. Quando Jesus curava os doentes olhava para eles especialmente para a abertura ao amor pela Fé. Jesus curava independente da lei judaica, pois para ele era mais importante a salvação da pessoa que um simples cumprir aparente (Lc 14, 01-07). Toda a mensagem de Jesus se relaciona com a cura do egoísmo. Do pensamento que o mundo gira em torno de nosso eu.
A Fé é capaz de nos curar e de curar os nossos irmãos. Somos consagrados a Deus pelo batismo. Exercemos o sacerdócio comum dos fiéis. O cristianismo é bonito pelo seu altruísmo, pela busca da prática do bem em qualquer ambiente. Somos parte da comunidade daqueles que crêem em Deus Trindade. Devemos rezar sempre uns pelos outros para que aconteça a verdadeira libertação.
Não podemos entender Deus sem utilizarmos o verbo sair. Deus saiu de si mesmo para nos criar com a finalidade de participarmos de sua felicidade. Seremos felizes quando fizermos os outros felizes. Rezar pelos outros também é um método para nos livrarmos de nossas fraquezas e limitações.
Hoje percebemos muitos “cadáveres ambulantes”, pessoas que não sabem sua origem e nem seu fim. Não sabem quem as criou e para o que foram criados. As relações comerciais estão acima das relações humanas deteriorando profundamente o sentido da vida humana. Quando nos perguntamos o que somos e para onde vamos não nos conformamos com o consumismo que nos consome.
Somos cristãos (portadores de Cristo pela nossa vida), dentro de um mundo descristianizado. Às vezes podemos até participar ativamente da Igreja, mas estamos longe de viver os valores daquele que é o centro de nossa Fé. Só o amor poderá construir algo em nossa vida.
Podemos perceber na recuperação dos dependentes e dos detentos, que a mensagem que eles necessitam é a realidade de que embora tenham cometidos muitas coisas más, ainda são amados por Deus. Nós até poderemos fazer uma tentativa de esquecer o nosso Criador, mas Ele é incapaz de passar um momento sem se lembrar de nós. Todas as nossas dificuldades, do passado, do presente e do futuro deveram ser “entregues” a Deus. Elas não nos pertencem, estão fora de nós e poderão até servir para a nossa verdadeira realização. Devemos transformar os limões de nossa existência em limonada. Nós sempre vamos ter nesta vida tentações, provações e consolações. Vivemos na instabilidade em busca da estabilidade no amor. Por esta razão estamos em um processo de conversão. Aqui ninguém está pronto.
Quando olhamos para os mártires, vemos ao lado de suas figuras ou imagens o instrumento em que foram torturados. Eles abraçam estes instrumentos tão terríveis de uma forma tão afável e carinhosa que nos impressiona. Acredito que devemos olhar para a nossa história da mesma forma, os instrumentos de tortura que podem ser os aspectos negativos de nossa existência, devem ser vistos de outra forma. Um dia estaremos todos na eternidade e iremos rir de nossas limitações e ver que muitas vezes valorizamos em nossa vida aquilo que não tinha tanto valor e deixamos de lado o essencial.
Como estamos vivendo nossas relações: consigo mesmo, com Deus, com o próximo e com o mundo? Não podemos nos ancorar em nosso passado. Tudo passa só Deus basta nos diz Santa Teresa por que ficarmos ancorados nas sombras de nossa vida sem vermos o sol do amor que Deus sente por nós?
Diante de Jesus vivo em nossa vida seremos curados. Vamos perceber tudo que nos passou de uma forma diferente. O amor irá absorver todas as nossas limitações. Se estivermos amando o Amor nos transforma, buscamos mesmo na noite o essencial e somos transformados por ele.
O olhar para dentro de nós mesmos é essencial para sermos curados. Os dois verbos entrar e sair são fundamentais. Entramos dentro para sairmos. O cristão se realiza no altruísmo e não no egoísmo.
Quando descobrimos que a nossa existência é importante para Deus e para os nossos irmãos nos comprometemos com a realidade. Percebemos na vida dos grandes personagens do Antigo Testamento. Moisés se compromete com o povo ao ver um judeu ser mal tratado. A compaixão fez com que ele perdesse a honra do Egito para ser um libertador do povo de Israel. A solidariedade nos impulsiona a fazermos o bem e até mesmo nos faz esquecer-se de nossas limitações. Moisés percebeu desde o início que era profundamente limitado para libertar o povo, mas a missão o arrastou a fazer o bem. Elias tem uma profunda contemplação de Deus e não é por isto que não se sente limitado, pede até para morrer diante das dificuldades.
Jesus está presente na Eucaristia. Ele quer nos olhar desde dentro, das nossas dificuldades. Quando nos colocamos na presença de Jesus Sacramentado a nossa vida é transformada. A troca de olhares é fundamental. Precisamos nos abrir a momentos importantes de adoração em nossa vida. A reforma de toda a realidade, da nossa vocação, de todo nosso trabalho começa quando nos colocamos diante de Jesus.
Só o amor pode nos curar. Sabemos de fatos concretos de pessoas que se curaram após se sentirem amadas. Crianças deficientes que mal sabiam falar e após uma adoção com muito afeto se transformaram. Nós ainda não sabemos amar. Confundimos amor com sexo ou exploração da pessoa do outro. O mundo materialista procura materializar os nossos corações. Quando nos materializamos nos afastamos da realidade última de nossa vida, nos afastamos do Eterno.
Quando acontece um acidente não nos importamos com nosso braço quebrado se temos que socorrer alguém que está muito mal em nosso lado. Quando colocamos o nosso olhar no Eterno somos capazes de vencer nossas limitações para vermos o essencial.
A oração é o caminho mais seguro para sermos o que o Senhor quer de nós. Quando nos comunicamos com Ele nossa vida muda e vamos entendendo com misericórdia as limitações de nossos irmãos.

Padre Giribone - OMIVICAPE

sábado, 3 de março de 2012

“NÃO PODEMOS VALORIZAR AS COISAS QUE PASSAM”.


O tempo da quaresma nos convida a uma conversão profunda em nossos valores. O fenômeno da transfiguração de Jesus nos é apresentado no evangelho deste segundo domingo como um desafio e uma consequência dos que aderem ao Reino. O seguimento de Jesus não acontece de uma hora para outra. É uma adesão permanente em um processo que terá sua culminância no final de nossa peregrinação terrena. A transfiguração do Senhor é a prova de nossa transitoriedade e a certeza de nossa futura ressurreição. Jesus se mostra de como ele será após a ressurreição e como serão os que viverem no seu amor e na sua justiça. Este fato é um convite a não nos perdermos nas coisas que passam. Logo estaremos na eternidade e só levaremos conosco o bem que nos torna semelhantes a característica de nosso Criador.
  
EVANGELHO (Mc 09, 02-10):
Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou sozinhos a um lugar à parte sobre uma alta montanha. E transfigurou-se diante deles. Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar. Apareceram-lhe Elias e Moisés, e estavam conversando com Jesus. Então Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: “Mestre, é bom estarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Pedro não sabia o que dizer, pois estavam todos com muito medo. Então desceu uma nuvem e os encobriu com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: “Este é meu Filho amado. Escutai o que ele diz!” E, de repente, olhando em volta, não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus com eles. Ao descerem da montanha, Jesus ordenou que não contassem nada a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos. Eles observaram esta ordem, mas comentavam entre si o que queria dizer “ressuscitar dos mortos”.

“Este é meu Filho amado. Escutai o que ele diz!”

O fenômeno ou sinal da transfiguração de Jesus é cheio de significado para nós. Jesus pelo poder que possui por ser o Filho de Deus se mostra glorioso para o pequeno grupo seleto de seus discípulos. Eles terão uma missão especial que exigirá deles a recordação constante deste fato. Estamos a caminho de nossa glorificação. Esta existência é transitória, é uma preparação para a vida definitiva. Esta experiência, provavelmente, será recordada por eles muitas vezes especialmente nos momentos fortes em que terão que enfrentar a eles mesmos e dar testemunho da verdade de Cristo.
O que significa se transfigurar? Poderíamos dizer que é mudar de figura, mudar de rosto, mudar os valores. Quando passamos a viver a dimensão do amor em nossas vidas vemos a realidade de forma diferente. Olhamos com o olhar do coração. Não somos manipulados pelo gosto das coisas que passam. O materialismo, que visa o lucro, não consegue ver a realidade desta forma se perdendo em um grande vazio afetivo. Nós transbordamos aquilo que o nosso coração está cheio. Se procurarmos amar no sofrimento os frutos de nossa vida será o amor. Encontraremos a raiz da verdadeira felicidade. Se amarmos o transitório ele nos transformará naquilo que passa. Se amarmos o eterno, iremos assumir os valores eternos. Na realidade nos transfiguramos naquilo que amamos.
A transfiguração não acontece sem o sofrimento e a abnegação a vontade de Deus. Sem um real processo de despojamento não conheceremos a verdade de Deus presente em nossa vida. Não existe um meio termo no seguimento de Cristo. Não há como abraçar a vaidade e o orgulho e querer ser de Deus. Para vencermos o nosso egoísmo precisamos de uma nova visão existencial. Somos tentados a viver no comodismo pensando nas possíveis “vantagens” de estarmos com Jesus e nos esquecemos do desafio constante de dizermos sim a Deus frente as nossas limitações.
Ao lado de Jesus surge a figura de dois personagens importantíssimos no plano de salvação de Deus: Moisés é o que recebe a Lei e Elias o que a aplica a Lei dentro da realidade. Podemos concluir que para que aconteça a nossa transfiguração precisamos “conhecer” e “praticar” o que o Senhor nos pede. Através da oração isto será possível. O diálogo profundo com Deus nos leva ao conhecimento sobrenatural da realidade e a termos a coragem de vencermos a nós mesmos.
Jesus está presente na Eucaristia da mesma forma que ele se transfigurou. Devemos amá-lo acima de nossas forças. Precisamos escutá-lo para constantemente avaliarmos a nossa vida. Pela prática da oração seremos capazes de nos despojarmos de nosso egoísmo e vermos nossa existência em um sentido mais amplo. Os cristãos são batizados para se tornarem instrumentos de salvação. Esta não acontece só de forma particular. Por esta razão quanto mais forte for a nossa conexão com o Senhor, mais conscientes seremos de nossa missão.

“Senhor Jesus que possamos buscar os bens eternos no meio dos bens transitórios”.

Padre Giribone - OMIVICAPE