“NÃO PODEMOS VALORIZAR AS
COISAS QUE PASSAM”.
O
tempo da quaresma nos convida a uma conversão
profunda em nossos valores. O fenômeno da transfiguração de Jesus nos é
apresentado no evangelho deste segundo domingo da quaresma como um desafio e
uma consequência dos que aderem ao Reino. O seguimento de Jesus não acontece de
uma hora para outra. É uma adesão permanente em um processo que terá sua
culminância no final de nossa peregrinação terrena. A transfiguração do Senhor
é a prova de nossa transitoriedade e a certeza de nossa futura ressurreição.
Jesus se mostra de como ele será após a ressurreição e como serão os que
viverem no seu amor e na sua justiça. Este fato é um convite a não nos
perdermos nas coisas que passam. Logo estaremos na eternidade e só levaremos
conosco o bem que nos torna semelhantes a característica de nosso Criador.
EVANGELHO (Mc 09, 02-10):
Naquele tempo,
Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou sozinhos a um lugar à parte
sobre uma alta montanha. E transfigurou-se diante deles. Suas roupas ficaram
brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar.
Apareceram-lhe Elias e Moisés, e estavam conversando com Jesus. Então Pedro
tomou a palavra e disse a Jesus: “Mestre, é bom estarmos aqui. Vamos fazer três
tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Pedro não sabia o
que dizer, pois estavam todos com muito medo. Então desceu uma nuvem e os
encobriu com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: “Este é meu Filho amado.
Escutai o que ele diz!” E, de repente, olhando em volta, não viram mais
ninguém, a não ser somente Jesus com eles. Ao descerem da montanha, Jesus
ordenou que não contassem nada a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do
Homem tivesse ressuscitado dos mortos. Eles observaram esta ordem, mas
comentavam entre si o que queria dizer “ressuscitar dos mortos”.
“Este é meu Filho amado. Escutai o que ele diz!”
O fenômeno ou sinal da transfiguração de Jesus é tem um profundo significado
para nós. Jesus pelo poder que possui por ser o Filho de Deus se mostra
glorioso para o pequeno grupo seleto de seus discípulos. Eles terão uma missão
especial que exigirá deles a recordação constante deste fato. Estamos a caminho
de nossa glorificação. Esta existência é transitória, é uma preparação para a
vida definitiva. Esta experiência, provavelmente, será recordada por eles
muitas vezes especialmente nos momentos fortes em que terão que enfrentar a
eles mesmos e dar testemunho da verdade de Cristo.
O que
significa se transfigurar? Poderíamos dizer que é mudar de figura, mudar de
rosto, mudar os valores. Quando passamos a viver a dimensão do amor em nossas
vidas vemos a realidade de forma diferente. Olhamos com o olhar do coração. Não
somos manipulados pelo gosto das coisas que passam. O materialismo, que visa o
lucro, não consegue ver a realidade desta forma se perdendo em um grande vazio
afetivo. Nós transbordamos aquilo que o nosso coração está cheio. Se
procurarmos amar no sofrimento os frutos de nossa vida será o amor.
Encontraremos a raiz da verdadeira felicidade. Se amarmos o transitório ele nos
transformará naquilo que passa. Se amarmos o eterno, iremos assumir os valores
eternos. Na realidade nos transfiguramos naquilo que amamos.
A
transfiguração não acontece sem o sofrimento e a abnegação a vontade de Deus.
Sem um real processo de despojamento não conheceremos a verdade de Deus
presente em nossa vida. Não existe um meio termo no seguimento de Cristo. Não
há como abraçar a vaidade e o orgulho e querer ser de Deus. Para vencermos o
nosso egoísmo precisamos de uma nova visão existencial. Somos tentados a viver
no comodismo pensando nas possíveis “vantagens” de estarmos com Jesus e nos
esquecemos do desafio constante de dizermos sim a Deus frente as nossas
limitações.
Ao
lado de Jesus surge a figura de dois personagens importantíssimos no plano de
salvação de Deus: Moisés é o que recebe a Lei e Elias o que a aplica a Lei
dentro da realidade. Podemos concluir que para que aconteça a nossa
transfiguração precisamos “conhecer” e “praticar” o que o Senhor nos pede.
Através da oração isto será possível. O diálogo profundo com Deus nos leva ao
conhecimento sobrenatural da realidade e a termos a coragem de vencermos a nós
mesmos.
Jesus
está presente na Eucaristia da mesma forma que ele se transfigurou. Devemos
amá-lo acima de nossas forças. Precisamos escutá-lo para constantemente
avaliarmos a nossa vida. Pela prática da oração seremos capazes de nos
despojarmos de nosso egoísmo e vermos nossa existência em um sentido mais
amplo. Os cristãos são batizados para se tornarem instrumentos de salvação.
Esta não acontece só de forma particular. Por esta razão quanto mais forte for
a nossa conexão com o Senhor, mais conscientes seremos de nossa missão.
“Senhor Jesus que possamos buscar os bens eternos no meio dos bens
transitórios”.
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