segunda-feira, 15 de outubro de 2012

SANTA TERESA DE JESUS


 

1) ESPIRITUALIDADE  TERESIANA:

Antes de iniciarmos algo sobre a espiritualidade teresiana, se faz necessário uma definição mais próxima do que é espiritualidade numa visão cristã dentro da atualidade de hoje.
         Depois  que Cristo subiu aos céus, já se sabia que o Espírito Santo iria vir para transformar os corações dos Apóstolos. Todos estavam ansiosos pela manifestação do Paráclito. A narração do texto dos Atos(Cap. 2), nos apresenta uma transformação dos discípulos de Jesus. Eles estavam com “medo” e de repente se tornaram novas pessoas com uma capacidade desconhecida. De pessoas isoladas em seu mundo particular, se tornaram homens universais. Por esta razão, podemos afirmar que a experiência de Deus é sempre transformante. Quem experimenta  Deus recebe uma força especial que faz que “passe a mar de verdade a partir do sentimento de sentir-se amado”.
         Poderíamos definir espiritualidade cristã como tomada de consciência do amor de Deus por nós. Relação profunda entre Criador e criatura. Há três fatos de maior relevo no cristianismo que são: A Encarnação(Cristo faz parte de nossa vida), A Ressurreição(Cristo vence a morte) e Pentecostes(o Espírito Santo vem e nos ensina a amar). Com estas três realidades, os primeiros cristãos criaram a certeza de que Deus não está longe e que suas existências tinham um sentido profundo.
         A partir da experiência apostólica, podemos afirmar que espiritualidade é todo o esforço que fizemos para permitir que Deus nos ame. Inicialmente, parece ser algo fácil, mas este esforço é um desafio para toda vida. Na realidade o protagonista da vida espiritual não somos nós, mas a graça de Deus.
         A espiritualidade teresiana é algo espetacular e inédito. Precisamos entrar dentro de nós mesmos e perceber o telefone que temos em ligação direta com Deus. As pessoas do mundo moderno são massacradas pelo imediatismo, não podendo nunca se conhecer de verdade. Precisamos nos enxergar como Deus nos enxerga.
         No período que viveu Santa Teresa, havia uma inflação de espiritualidade, isto provocava uma grande confusão na questão de como acontece o nosso verdadeiro relacionamento com Deus. Ela procurou informações do que lhe sucedia  com muitos livros e com os especialistas de seu tempo. Começou a valorizar a oração de recolhimento, onde todas as coisas são como que silenciadas para se perceber Deus em nosso interior.
         O ponto chave na vida de Teresa foi, sem dúvida alguma, a oração, que foi definida por ela no livro da Vida capítulo 8 nº 5: “oração mental, a meu parecer, é um trato de amizade, estando muitas vezes a sós com quem sabemos que nos ama”. Santa Teresa considera sua relação com Deus uma amizade. Quando somos amigos de alguém, vamos aos poucos, nos transformando de acordo com aquele que amamos.
         Santa Teresa foi muitas vezes tentada a se afastar da oração por um falso orgulho ou por falsa humildade(V 7, 1). Ela nos ensina que devemos perseverar sempre na oração, independente de nossos sentimentos. Jamais podemos abandonar a oração, pois ela é o meio eficaz para nossa transformação.
         “Converter-se é voltar a oração”. Não importa nossa situação moral diante de Deus, devemos nos colocar com toda humildade e pedir que Ele nos transforme. A verdadeira amizade exige gratuidade. Hoje queremos negociar com Deus, por esta razão logo desistimos da oração.
         A oração não é uma prática isolada, mas sim conseqüência de toda uma vivência cristã. A vida é o termômetro da oração que existe ou falta na vida do cristão. “Crer é um constitutivo do homem”, eu preciso crer nos sinais do amor de Deus em minha vida, para aumentar o meu relacionamento de amizade com Ele. O Ato de Oração tem como função realizar a presença., é uma exigência intrínseca da amizade, não é questão jurídica.
         “De acordo com teu amor, se fará presente a pessoa amiga”. O Ato de Oração, ou de presença, vem de acordo com o amor que busca presença. A oração é antes de tudo, uma forma de ser do que algo para se fazer. A prática daquilo que rezamos vem como conseqüência do estilo de oração que temos.
         “O que nos obriga amar é a consciência do amor”. Teresa nos ensina que todos somos dotados pelo amor de Deus. Saber-se amado é a força dinamizadora. Oração é afetividade(deixar-se afetar),  integral com aquele que nos ama, é uma forma de ser livre e consciente. A oração  é sobrenatural porque Deus é que atua(1M 2, 7). A distração na oração não é falta, mas sim fruto de nossa debilidade, a oração mais mal feita é a que não fazemos.
         Tudo que Santa Teresa nos ensina tem base na sua experiência. Por esta razão ela era amiga da verdade e nos deixou como herança tudo que teve que enfrentar parta alcançar a união com Deus e percebê-lo em seu interior.
         Muitas vezes imaginamos que a espiritualidade é algo fora da vida. Santa Teresa foi marcada por várias amizades humanas, que foram, aos poucos, sendo transformadas em amizade com aquele que merece toda a nossa atenção. Se nossa relação com Deus é de amizade, ela deve ser sustentada pelo diálogo. A novidade teresiana vai por esta linha: começo a viver a vida do amigo, me interesso por tudo aquilo que faz parte de sua vida. O meu amor particularizado(manchado pelo egoísmo), passa a se tornar universal.
         Todos escritos de Santa Teresa são conseqüência de seu relacionamento com Deus, com a busca da verdade última., por esta razão, ela teve que se vencer, se enfrentar várias vezes. A vida espiritual não é alienação, mas compromisso com a realidade, é transformação pessoal que se expande para fora.
         O encontro com a nossa verdade faz-nos sofrer, assim como esta saída de nós mesmos, isto exige de nossa parte uma profunda experiência de perdão e aceitação da misericórdia de Deus.
         A oração transformante, nem sempre é gostosa como muitos cristãos hoje querem que seja. A contemplação é uma exigência de transformação que sempre trás consigo dor e sofrimento. A partir desta realidade que Santa Teresa nos fala da necessidade de uma determinada determinação para nunca deixar de lado a tentativa de progredir na vida espiritual. Muitas pessoas se afastam da oração porque se baseiam demais nos sentimentos que ela produz.
         Os fatos sobrenaturais na vida de Teresa devem ser relativisados pelo aspecto dinâmico do amor que ela sentiu e transformou sua vida. Vamos nos transformando naquilo que amamos.
         O desafio teresiano para nós hoje é fundamental. Qual é o tempo que estou dedicando ao diálogo com Deus. Como estou vivendo o carisma teresiano(vida de oração e comunidade), dentro da realidade que vivo?
         “A perfeição na oração não está no pensar muito, senão no amar muito” (4M 1, 7).



2) JESUS   E   TERESA:

Teresa era uma pessoa de profunda sensibilidade, carregada de uma hiper afetividade e dinamicidade. Nós somos desafiados a partir da experiência teresiana, a nos conhecermos melhor. Há pessoas hoje que tem muitos valores, mas infelizmente enterram tudo o que possuem por causa do medo ou das críticas ou da preocupação de não acertar.
         Por que nós nos chamamos de cristãos? Nós acreditamos existencialmente na presença de Jesus ressuscitado no meio de nós?
         Teresa se sentiu cristã no momento que teve um encontro pessoal com Cristo, sentiu que Ele precisava de seu consolo. Podemos perceber isto quando ela narra no livro da Vida sua conversão definitiva( V 9, 1): “entrando um dia no oratório, vi uma imagem que haviam trazido para guardá-la, haviam trazido ela para alguma festa que teríamos em casa. Era de um Cristo muito chagado. Quando a vi me cortou o coração, porque representava bem o que passou por nós todos. Foi muito forte o que senti do mal que havia sofrido em suas chagas, que meu coração parecia a mim que partia...supliquei-lhe que me fortalecesse de uma vez para que nunca mais o ofendesse”. A partir deste momento, Teresa irá canalizar todo seu amor para quem realmente o merecia. A experiência de Jesus para Teresa é bastante comprometedora, envolve toda sua vida, não é algo teórico. O conhecimento de Jesus Cristo é sempre comprometedor.
         Teresa nos ensina que não podemos receber o Evangelho sem receber a Boa Nova, ou seja, preciso ser transformado. Qual é a medida de nosso amor? Nós temos consciência de nossa universalidade que nos foi dada no dia de nosso batismo? Vamos parar um momento e vamos nos analisar percebendo em que aspecto de meu seguimento de Jesus eu preciso mudar.
         A vida evangélica é uma luta contra nós mesmos. Teresa deixou uma vida de comodismo, relativamente boa, do convento da Encarnação(Ávila), onde viveu vinte e sete anos, para se tornar uma reformadora. A sua relação de intimidade com Cristo fez que ela propagasse a sua experiência para fora. Jesus entra e nos tira, todos somos transmissores do amor. Quando não realizamos isto, estamos morrendo e fazendo os outros morrerem.
         A experiência cristológica de Teresa nos leva a uma vida de oração e comunidade dentro da vocação que cada um assumiu. Ela sentiu que Jesus estava sozinho e precisava de seu consolo, de sua amizade. A partir daí ela quis estar mais com Ele, considerou que necessitava de sua ajuda.
         Jesus está me chamando? Qual é a resposta que dou com minha existência? O fato dele ter sofrido tanto por mim não altera minhas atitudes? O fato dele ter ressuscitado e  estar presente na Eucaristia não servem de ponto de referência para minha vida? Teresa queria fundar muitos conventos para que Jesus estivesse em muitos sacrários sendo adorado por suas irmãs. Isto numa época em que o protestantismo começava  vingar.
         A medida que o grau de oração aumentava em Teresa, o seu conhecimento e amor por Cristo aumentava na concretização da Vontade de Deus. Conhecer a Jesus é divulgá-lo sem competição. Jesus não é um herói, mas é uma pessoa que ama e quer ser amado em nós. Somos cristãos porque acreditamos na revolução do amor.




3) TERESA  E  A  IGREJA:

O aspecto eclesiológico em Santa Teresa, é uma conseqüência de seu encontro pessoal com Cristo. Se somos cristãos, fazemos parte da grande família de Cristo. Havíamos citado na palestra anterior, que neste período havia muita pluralidade. Sem falar no protestantismo que se propagava nos países baixos, justamente nesta época em que Teresa esta mais inflamada por amor a Jesus.
         Nenhum místico, nenhuma pessoa que tem uma forte experiência de Deus põe de lado as mediações que o próprio Espírito Santo nos propõe. Amar a Igreja, segundo Santa Teresa é algo fundamental até mesmo para nossa realização humana.
         A oração teresiana está voltada para a Igreja. Ela exigia de suas filhas que oferecessem tudo em prol da Igreja e que vivessem a obediência aos superiores. Quantos irmãos nossos hoje se confundem com falsas religiões se perdem nos caminhos que conduzem a uma frágil auto satisfação.
         Se Cristo é exigente para nós, é natural que a Igreja seja também. Isto tudo está relacionado com a nossa felicidade. As críticas que se fazem a Igreja tem fonte no pensamento imediatista de hoje, onde cada um quer fazer a sua própria vontade. Muitos seguem a doutrina reencarnacionista ou de alguma seita oriental para se aliviarem a consciência, sabendo na realidade o que é certo.
         O seguimento de Cristo na Igreja não é relativo, não podemos equiparar ou comparar a Igreja com outras religiões. Deus deu a sua vida por nós em Cristo, este fato não é qualquer coisa. Se a Igreja não fosse uma instituição divina ela já teria acabado.
         “Mil muertes por la menor cerimonia de la Iglesia”(V 33, 5). A partir desta afirmação de Teresa, podemos ver que os místicos valorizam tudo o que pode lhes unir mais a Deus. Sem dúvida Teresa percebeu o caminho da União com Deus ligado diretamente com a vida da Igreja. Nenhuma experiência particular tem valor, se não for em vista do bem da Igreja, de toda a comunidade dos fiéis.
         Nas diversas fundações que Teresa realizou, ela queria incentivar suas irmãs a lutarem pelo aumento e manutenção da Igreja(F 1, 6). O espírito missionário faz parte da vida daqueles que sentem Deus mais próximos de si. Podemos nos perguntar pelo zelo que estamos tendo em relação a Igreja. Valorizamos os ensinamentos do magistério? Ou achamos que tudo seja relativo?


 PADRE GIRIBONE - OMIVICAPE































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