segunda-feira, 25 de março de 2013

TRÍDUO PASCAL


“DEUS FEZ TUDO PARA QUE PARTICIPEMOS DE SUA FELICIDADE”.


A maravilha do cristianismo é saber que não é uma religião que partiu da iniciativa humana. Foi Deus mesmo que veio em busca do ser humano, obra prima de sua criação, para fazer que ele retornasse ao essencial. Ele se fez homem para nos salvar. Veio em nosso meio para mudar a história da humanidade perdida pelo efeito de seu próprio egoísmo. A fé no “Cristo Vivo” manifesta a infinita misericórdia do Senhor em relação as nossas fraquezas. Por esta razão ser cristão de verdade é sempre remar contra a correnteza e lutar contra si mesmo. O maior inimigo que temos é nosso próprio egoísmo.
Estamos iniciando o momento mais importante da liturgia cristã: O Tríduo Pascal. Segundo Santo Agostinho é o Sacratíssimo Tríduo do Crucificado, Sepultado e Ressuscitado. Nele celebramos a vitória de Cristo sobre a morte. Nós cristãos não tememos a morte porque ela é a passagem (PÁSCOA) para a vida definitiva. Os sofrimentos momentâneos que enfrentamos em nossa vida quando oferecidos em forma de oração são meios de preparação para a felicidade eterna. As tristezas momentâneas do seguimento de Jesus vão ter como destino a felicidade eterna. Ele morreu na cruz e apareceu depois para seus amigos. Assim como Ele ressuscitou nós também iremos ressuscitar para a Glória.
Não podemos esquecer que o cristianismo é a única religião que tem como base o testemunho apostólico. Os apóstolos tiveram a experiência de “ver Jesus” depois de sua morte ressuscitado. Esta verdade se torna a base da doutrina da Igreja. Por esta razão os cristãos não seguem uma ideologia ou filosofia de vida. Seguem algo relacionado com suas existências. Algo que exige deles uma constante mudança de vida. O cristianismo é uma religião que visa à prática do bem em vista da vida definitiva. Jesus sofreu para nos mostrar que esta vida é uma preparação para a vida eterna. Deus nos ama muito. A grande prova do seu infinito amor por nós é que Ele além de nos ter criado nos salvou em Jesus Cristo que deu sua vida para nos salvar.
A culminância do Tríduo Pascal não é a morte de Cristo, mas sim a grande vitória sobre a morte na Ressurreição. Assim como Ele ressuscitou um dia também nós teremos esta mesma experiência se vivermos os valores que ele nos deixou dentro de nossa vida concreta. Se crermos na ressurreição de Jesus somos convidados a mudar de vida. Por esta razão nunca será fácil ser cristão.
Deus manifesta sua misericórdia sabendo que somos incompetentes em nossa missão de amar. O cristianismo é religião da misericórdia. Da vinda do Senhor para nos salvar.  Deus coloca o seu coração ao lado do nosso cheio de fragilidades. Vamos nos preparar para esta grande celebração com o abraço do Pai que experimentamos no sacramento da reconciliação que é uma grande forma de nos tornarmos mais livres e felizes. Quando Deus nos perdoa e perdoamos a nós e aos nossos irmãos, acontece na nossa vida uma verdadeira libertação.
Deus nos cria e nos recria para Ele (reconstitui o homem que se perdeu no mal uso de sua liberdade), através dos mistérios da Criação (PAI), Salvação (FILHO) e Santificação (ESPÍRITO SANTO). O homem por si mesmo não poderia se salvar. Jesus Cristo verdadeiro Deus e verdadeiro Homem absorve todos os nossos pecados para nos libertar e nos trazer novamente a possibilidade de sermos filhos muito amados de Deus. O Criador jamais se esquece de suas criaturas. Deus “pensa” com amor em cada um de nós. Não podemos calcular o amor que Ele sente por cada ser humano criado para fazer parte de sua felicidade.
Vamos procurar destacar as três principais celebrações deste Tríduo Pascal para que estas celebrações transformem nossa vida.



CEIA DO SENHOR (Quinta feira Santa):

 


Nesta celebração recordamos o grande momento da instituição da Eucaristia. Jesus antes de se dar no pão explica com um gesto concreto, lavando os pés dos discípulos, o que significa a consequência da Eucaristia: a caridade sem reservas e o serviço fraterno. Jesus está presente no meio de nós através da Santíssima Eucaristia. Sua presença não é simbólica, mas real. O amor de Deus não é parcial nem instável como o nosso fragilizado pelo egoísmo. Jesus se dá na mesa da Eucaristia para que possamos viver o seu mistério dentro de uma relação comunitária. Começamos a ser cristãos quando vamos nos esquecendo de nossos planos particulares e procuramos concretizar o Plano de Deus.  A partilha de dons passa a ser essencial para a concretização do cristianismo. O sacrifício de Cristo sempre será recordado através da celebração da Santa Missa. Quando praticamos o bem mesmo no meio do mal, nos tornamos a extensão do que celebramos. A prática eucarística exige de nós uma constante conversão.

 


PAIXÃO DO SENHOR (Sexta feira Santa):


Já nos perguntamos alguma vez sobre o termo Paixão e por que ele é utilizado especificamente neste dia? O amor que Deus sente por nós é capaz de tudo. Até mesmo da entrega da vida preciosa de seu Filho. São João da Cruz nos diz que quem ama não cansa nem se cansa. É através da Paixão do Senhor que começamos a entender o grau de amor que Deus sente por suas criaturas. Jesus foi até as últimas consequências em sua obediência ao Pai para que todos pudessem ter novamente o que foi perdido pelo pecado.
Quando lemos os romances épicos, percebemos alguns elementos parecidos com o que Jesus fez por cada um de nós. Só que sua radicalidade ultrapassa qualquer romance. Não podemos imaginar a dor física, moral e psíquica que Jesus passou para que pudéssemos receber novamente a adoção de Filhos de Deus.
O que é amor? É o que a “grande mídia” (serpente) nos ensina? Não, amor é entrega. Amor é sofrimento para edificação do outro. É saída de si para complementar o outro. Muitas vezes exige despojamento e auto-superação de nós mesmos em favor do que amamos. Jesus se dissolve em amor por cada um de nós. Santa Teresa ao relatar sua conversão definitiva nos comove com suas palavras na recordação do que Jesus passou por cada um de nós individualmente e pela comunidade. O sofrimento de Jesus não pode ser em vão em nossa vida.
A celebração da Sexta feira Santa é muito importante para nós no sentido que nos recorda um gesto concreto de doação e amor da parte de Deus para com toda humanidade.
Ninguém pode se excluir do fato de que Deus amou tanto o mundo que lhe deu seu próprio Filho para nos salvar. Não estamos sozinhos nesta peregrinação rumo ao Eterno. A solidariedade de Deus chega ao ponto máximo para que possamos ter novamente a plenitude da vida. Neste dia jejuamos e fazemos penitência para sentirmos em nosso corpo o gesto de amor que Jesus passou por nós.



VIGÍLIA PASCAL (Sábado Santo):



A culminância do Tríduo Pascal não é a morte de Cristo. Não é a tristeza de refletimos sobre seu sofrimento e sua Paixão, mas sim a grande vitória da Ressurreição. O mais bonito de tudo isto é que assim como Ele ressuscitou um dia também iremos ressuscitar. Nós teremos esta mesma experiência se vivermos nossa vida na prática do Bem, no amor a Deus e ao próximo. A ressurreição é um processo de aceitação da grande realidade de que somos profundamente amados por Deus. Ela não é um fato isolado, mas compõe toda nossa existência. É uma opção de vida que tem sua culminância quando deixarmos este mundo. Começamos a ressuscitar quando descobrimos o que o Senhor quer de nós e tomamos a decisão séria de concretizarmos em nossa vida sua vontade.
Na vigília pascal rezamos e refletimos sobre a vida que supera a morte. Deus não é um Deus dos mortos, mas dos vivos. Ele nos criou para Ele e só n’Ele encontraremos a verdadeira felicidade. Somos todos chamados à conversão, ao retorno à fonte de nossa origem.
Como cristãos somos chamados a vencer as grandes crises de relacionamento que estamos vivendo para nos unirmos em torno ao Cristo Vivo e presente em nossa história. O homem contemporâneo não se sente amado e não consegue amar. Sem Deus viveremos sempre em uma grande crise afetiva.
Que este momento importante de celebração litúrgica nos sirva para sermos melhores em nossa vida vivendo os valores que o Senhor nos apresenta constantemente em sua Palavra.


“Obrigado Senhor Jesus por tudo que sofrestes para que nós pudéssemos experimentar a alegria da nossa futura ressurreição”.

terça-feira, 19 de março de 2013

DOMINGO DE RAMOS: HOSANA AO FILHO DE DAVI.



“O VERDADEIRO LOUVOR NOS LEVA À CONVERSÃO”.

Com o Domingo de Ramos iniciamos a Semana Santa em que celebramos a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Deus escolheu, em seu plano de amor pela humanidade, o povo de Israel. Deste povo sairia a salvação para toda humanidade a partir da experiência com Jesus o Cristo, o Verbo Encarnado. O maior investimento de Deus para nos salvar aconteceu no Mistério da Encarnação. Jesus vem até nós para participar de nossa vida e nos ensinar o essencial. O nosso maior desafio está em definir a importância real da pessoa de Jesus Cristo em nossas vidas. O povo exaltava Jesus como Rei de Israel, mas não queria uma mudança de vida. Não queria aceitar a verdadeira transformação que Jesus veio ensinar na mudança da forma de amar. O louvor a Deus deve estar ligado a uma profunda mudança de valores. Não basta dizer que Jesus é o filho de Davi. Que ele é o nosso Salvador se nossa vida não está sendo transformada e continua sendo a mesma.

Isaías 50, 4-7: A humilhação e a exaltação que o Filho de Deus irá passar. O sofrimento e a alegria dos que se entregam para Deus.

Filipenses 2, 6-11: Jesus se esvaziou para nos preencher de amor. Não seremos felizes nesta vida se não pensarmos nos outros.

Lucas 19, 28-40: Jesus é acolhido em Jerusalém onde ele mesmo será o cordeiro oferecido em sacrifício pela salvação de toda humanidade. Ele será o primeiro a fazer a passagem da morte para a vida.


EVANGELHO (Lc 19, 28-40):

Naquele tempo, Jesus caminhava à frente dos discípulos, subindo para Jerusalém. Quando se aproximou de Betfagé e Betânia, perto do monte das Oliveiras, enviou dois de seus discípulos, dizendo: “Ide ao povoado ali na frente. Logo na entrada encontrareis um jumentinho amarrado, que nunca foi montado. Desamarrai-o e trazei-o aqui. Se alguém, por acaso, vos perguntar: ‘Por que desamarrais o jumentinho?’, respondereis assim: ‘O Senhor precisa dele’”. Os enviados partiram e encontraram tudo exatamente como Jesus lhes havia dito. Quando desamarravam o jumentinho, os donos perguntaram: “Por que estais desamarrando o jumentinho?” Eles responderam: “O Senhor precisa dele”. E levaram o jumentinho a Jesus. Então puseram seus mantos sobre o animal e ajudaram Jesus a montar. E enquanto Jesus passava, o povo ia estendendo suas roupas no caminho. Quando chegou perto da descida do monte das Oliveiras, a multidão dos discípulos, aos gritos e cheia de alegria, começou a louvar a Deus por todos os milagres que tinham visto. Todos gritavam: “Bendito o rei, que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas alturas!” Do meio da multidão, alguns dos fariseus disseram a Jesus: “Mestre, repreende teus discípulos!” Jesus, porém respondeu: “Eu vos declaro: se eles se calarem, as pedras gritarão”.


“Bendito o rei, que vem em nome do Senhor”.



Esta entrada de Jesus em Jerusalém, cidade que segundo Santo Agostinho é “Visão de Paz” tem um grande significado. O Cordeiro que dará vida pela humanidade se aproxima. Refere-se à aceitação do Messias enviado do Pai para salvar o seu povo. Jerusalém representa a nossa vida. Precisamos de uma profunda amizade com Jesus para ingressarmos no reino de Deus.
Numa primeira análise desta passagem da vida de Jesus sentimos certa revolta contra o povo ingênuo que um dia recebe Jesus e outro dia o condena. Com isto surge um questionamento: como pode acontecer que este povo que aclama Jesus irá gritar para que ele seja crucificado? O fato é que no julgamento de Jesus estavam presentes pessoas de outra categoria. Que não viram ou que não queriam aceitar os sinais que Jesus havia feito que comprovavam sua missão. Hoje não estamos muito distantes disto. As pessoas se guiam mais por propagandas do que pela verdade. Muitas pessoas querem o mais fácil e cômodo para suas vidas. Aí percebemos o grande número de religiões que são criadas pelo comodismo e falta de responsabilidade dos cristãos batizados. Se Jesus for aceito em nossa vida acontecerá automaticamente uma conversão ou mudança de vida.
A experiência de amizade com Cristo envolve toda pessoa. Não o aceitamos pelas conveniências, não buscamos nele nossa satisfação, nem uma mera prosperidade material. Jesus nos apresenta a Cruz como símbolo máximo da redenção. A experiência com Jesus nos leva até a misericórdia de um Deus presente e preocupado com a nossa verdadeira realização. O motivo de ter hoje tantas religiões que falam no nome de Jesus é justamente a falta de aceitação de Jesus Cristo na sua totalidade. Do Cristo que compromete e modifica a vida. Pelas renúncias momentâneas chegamos à felicidade permanente. Pelas alegrias momentâneas chegamos à tristeza profunda. Tudo o que sai desta realidade é um substitutivo alienante. Vemos a grande mídia tentando de tudo para combater a Igreja apresentando pequenas falhas que fazem parte da humanidade das pessoas que a compõem. O que existe de maravilhoso na Igreja não é apresentado pela mídia, porque a sociedade não quer mudar de vida e quer amar só as coisas terrenas.
Jesus Cristo está presente no meio de nós. Através dos sacramentos e de uma maneira toda especial da Santíssima Eucaristia. Ele está presente para nos curar e mudar nossa vida. A experiência de amizade com Jesus tem de nos levar a um amor altruísta. Vamos aos poucos nos despreocupando com uma realização pessoal. Seremos felizes em conjunto não individualmente.
Jesus se esquece de sua condição superior a nossa em todos os aspectos para nos salvar. Quer que tenhamos uma experiência profunda do amor de Deus. Ele nos  leva ao encontro com o Pai mostrando o caminho da solidariedade que vai ter uma conseqüência comunitária.
Vamos procurar nesta semana santa acompanhar Jesus em todos os seus passos e seguir seu exemplo de despojamento em favor dos irmãos. Vamos colocar de lado nossos pequenos planos particulares para aceitarmos em nossa vida o que o Senhor nos pede.
O povo de Israel estava ansioso para a chegada do Messias, o “ungido do Senhor” que traria a verdadeira libertação que esperava. A espera do Salvador, aos poucos foi deteriorada pela influência política e social dos que se serviam da religiosidade do povo para seus benefícios particulares o que vai desencadear na crise que levará Jesus até a cruz.
Podemos cair na tentação de julgarmos os judeus por não aceitarem Jesus. A situação que se desenrolava não era tão simples. Os interesses que envolviam a religião muitas vezes forçavam o povo a outras atitudes que não estavam de acordo com a sua originalidade. Quando a prática religiosa não traduz a vida ela vai se deteriorando.
Talvez tenhamos certa curiosidade para sabermos o que significa a palavra “hosana” e porque ela é aplicada especialmente neste dia dentro da liturgia. Fizemos uma pesquisa no Dicionário Enciclopédico da Bíblia (Editora Herder de Barcelona), para entendermos com mais profundidade o sentido e o significado desta palavra. É uma palavra hebraica que significa “vem em ajuda, dá-nos a salvação”. Esta palavra se encontra no salmo 118, 25 como forma de oração para pedir a Deus sua ajuda permanente depois da vitória. Na festa das Tendas, hosana se converteu em uma oração corrente de súplica e também um grito de louvor. Neste dia se fazia uma procissão com palmas de vários tipos, cantando as orações com a invocação hosana como estribilho. Esta palavra só se encontra no relato da alegre entrada de Jesus em Jerusalém. Todas as fórmulas usadas significam o cumprimento da espera messiânica. Se o povo que recebeu Jesus em Jerusalém estava utilizando esta palavra é porque já estava tendo consciência da sua missão. Algumas pessoas do povo, pelos sinais que Jesus realizava, percebiam uma nova era que se estava iniciando em sua história. A aceitação de Jesus só se faz com humildade e sensibilidade as coisas de Deus. Por esta razão os nossos apegos e pecados interferem nossa visão de Deus e de sua graça em nossa vida.
Jesus vem em nome do Senhor. Ele é o senhor, verbo encarnado que vem aos que se abrem ao novo projeto de salvação. Deus tem uma linguagem paradoxal. Às vezes parece para nossa lógica humana uma linguagem contraditória, mas Ele nos vê como criaturas em particular, com a nossa individualidade e na comunidade com os dons que devem ser partilhados.
Vamos neste início da semana santa acompanhar os passos de Jesus que culminará na Ressurreição que é o grande sinal que comprova sua divindade.


“Senhor Jesus, renovai em cada um de nós a experiência de amor e acolhida para vos receber em nossa vida”.





quarta-feira, 13 de março de 2013

“O AMOR É CAPAZ DE RESTAURAR AS PESSOAS”.



A experiência do perdão é uma experiência de amor. Uma faz parte da outra. Quando nos sentimos amados somos conduzidos ao perdão. O egoísmo, que tem suas raízes na vaidade, nos afasta do perdão e faz que fiquemos detidos nos aspectos negativos de nossa vida e de nossos irmãos. No evangelho deste quinto domingo da quaresma Jesus perdoa e transforma o coração de uma mulher rejeitada pelo efeito de seus próprios pecados. Devolve-lhe sua identidade perdida pelo pecado e pelas acusações dos homens que não conheciam a infinita misericórdia do Senhor. Cristo detesta o pecado, mas ama o pecador.



EVANGELHO (Jo 08, 01-11):

Naquele tempo, Jesus foi para o monte das Oliveiras. De madrugada, voltou de novo ao templo. Todo o povo se reuniu em volta dele. Sentando-se, começou a ensiná-los. Entretanto, os mestres da lei e os fariseus trouxeram uma mulher surpreendida em adultério. Colocando-a no meio deles, disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Moisés na Lei mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?” Perguntavam isso para experimentar Jesus e para terem motivo de o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever com o dedo no chão. Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se e disse: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe a pedra”. E tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. E eles, ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos; e Jesus ficou sozinho, com a mulher que estava lá, no meio do povo. Então Jesus se levantou e disse: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?” Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Então Jesus lhe disse: “Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais”.


“Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais”.

O contato com Jesus é contato com sua misericórdia. O amor de Deus por nós é tão profundo que Ele nos perdoa sempre. Muitas vezes erramos nos tornando juízes de nós mesmos e de nossos irmãos. Quando olhamos para eles com um olhar de egoísmo e vaidade não percebemos a transformação que a graça de Deus pode fazer em nós e neles. Não podemos pensar que somos “melhores” simplesmente por cumprirmos com certas normas morais nos esquecendo da essência do cristianismo que é acolher a todos da mesma forma em nosso coração. Só o amor pode construir algo na vida das pessoas. Não somos juízes, mas somos consagrados pelo nosso batismo. Devemos fazer o bem a todos especialmente os mais empobrecidos física e espiritualmente.
Os fariseus e mestres da lei pensaram em “testar” Jesus. No entanto foram eles testados. Chegaram à conclusão que eles também cometiam pecados. Até maiores do que a mulher surpreendida em adultério. Foram obrigados a ter uma experiência de humildade por se perceberem pecadores também. Quando olhamos para nós mesmos tomamos consciência que somos limitados. Por esta razão a humildade passa ser a chave da nossa santificação.
Bem pior do que o pecado de adultério é falar mal de alguém em nossa comunidade. É denegrirmos a figura dos que também foram criados conforme a imagem de Deus. Antes de julgar devemos rezar e acolher. Tornamo-nos feios quando vemos todas as coisas e as pessoas que estão na nossa volta como feias. Transbordamos para fora aquilo que o nosso coração está cheio. Nesta peregrinação não somos juízes de ninguém, mas devemos estar sempre tentando promover os nossos irmãos.
O mundo está vivendo uma profunda crise de afeto e solidão. As pessoas não se encontram mais. Estamos em uma crise mundial de relacionamento humano. A atitude de Jesus é de acolhida que acaba transformando a vida da mulher. Recebe-a em seu coração sem olhar para suas limitações. Pode ser que ela se converta numa das discípulas até a sua morte na cruz. O sentir-se amada fez que ela se comprometesse com Jesus. Mais perdão, mais amor, mais missão. Ela recebeu em Jesus um tipo de amor desconhecido em sua vida. Pode ser que muitos fatores anteriores fizessem que ela não tivesse ainda conhecido o verdadeiro amor. Hoje estamos empedernidos na sensualidade. Ficamos no exterior de nossa vida sem percebermos a fonte do verdadeiro amor que está em nosso coração.
Jesus teria autoridade para condenar e atirar a pedra na mulher, mas age de forma contrária. Prefere acolher e perdoar. Esta acolhida é fonte de renovação. Que maravilha se todos os cristãos tivessem uma verdadeira experiência de perdão. Especialmente no sacramento da reconciliação que é fonte de paz e alegria. Quando o sacerdote nos perdoa em nome de Jesus sentimos uma grande paz em nosso coração.
Como seria bom se descobríssemos o valor do perdão que supera todas as nossas limitações humanas. Preferimos muitas vezes ficar com a imagem negativa de nossos irmãos sem percebermos que também somos limitados em nosso agir e pensar.
O tempo da quaresma é próprio para mudarmos de vida. De pensarmos de forma positiva sobre nós e sobre os nossos irmãos. De buscarmos uma coerência maior com o que cremos. Só o amor poderá construir algo em nossa vida e na vida das pessoas que convivem conosco.

 “Senhor Jesus, renovai em cada um de nós a experiência de amor e acolhida”.



terça-feira, 5 de março de 2013

“A EXPERIÊNCIA DE DEUS PASSA PELA EXPERIÊNCIA DE SUA MISERICÓRDIA”.



O tempo da Quaresma se caracteriza pela busca dos valores essências da nossa vida associados ao que Jesus nos ensinou no anúncio da Boa Nova. A parábola do “filho pródigo” é considerada uma das parábolas de maior significado para meditarmos sobre a infinita misericórdia de Deus para com suas criaturas. Somos filhos pródigos que muitas vezes nos afastamos do Pai pensando que seremos felizes longe de seu infinito amor. A falsa propaganda nos afasta do amor do Pai nos iludindo que seremos felizes longe dele em nosso egoísmo. O gesto mais bonito desta parábola é a tomada de consciência do jovem que vai retornar a uma vida junto do Pai. Saber o que somos na humildade é o belíssimo caminho de nossa conversão.


EVANGELHO (Lc 15, 01- 03.11-32):
Naquele tempo, os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para escutá-lo. Os fariseus, porém, e os mestres da lei criticavam Jesus. “Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles”. Então Jesus contou-lhes esta parábola: “Um homem tinha dois filhos. O filho mais novo disse ao pai: ‘Pai dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo o que possuía, houve uma grande fome naquela região, e ele começou a passar necessidade. Então foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou para seu campo cuidar dos porcos. O rapaz queria matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isto lhe davam. Então caiu em si e disse: ‘Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morrendo de fome. Vou-me embora, vou voltar para meu pai e dizer-lhe: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados’. Então ele partiu e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o, e cobriu-o de beijos. O filho, então, lhe disse: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. Mas  o pai disse aos empregados: Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. E colocai um anel no seu dedo e sandálias nos pés. Trazei um novilho gordo e matai-o vamos fazer um banquete. Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado’. E começaram a festa. O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. Então chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. O criado respondeu: ‘É teu irmão que voltou. Teu pai matou o novilho gordo, porque o recuperou com saúde’. Mas ele ficou com raiva e não queria entrar. O pai, saindo, insistia com ele. Ele, porém, respondeu ao pai: ‘Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E tu nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos. Quando chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho cevado’. Então o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado’”.

“Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado”.

Certa ocasião fui interrogado por um jovem a respeito do cristianismo. Sobre qual era a essência de sua doutrina. Confesso que inicialmente me questionei profundamente sobre o assunto, mas a resposta veio prontamente: cristianismo é a experiência da misericórdia do Senhor. É o perdão apresentado por Jesus que passa por nossas vidas porque somos amados eternamente por Deus. Se somos amados somos perdoados e temos a capacidade de perdoar.
A parábola do filho pródigo representa o sentido do cristianismo. Podemos ser as três personagens apresentadas nesta história: o pai, o filho mais novo e o filho mais velho. Em determinadas ocasiões da nossa vida, quando praticamos a misericórdia somos o pai. Quando fugimos de Deus para buscarmos uma alegria momentânea somos o filho mais novo. Que vai ter a sorte de voltar novamente. Quando somos o filho mais velho, somos o tipo de pessoa que segue a Cristo por um perfeccionismo sego. Não reconhecendo o amor de Deus.
Olhando para a parábola percebemos que o pai já sabia do triste destino do filho mais novo. Tinha certeza que seu afastamento não lhe traria felicidade. Longe do pai o filho perde seu ponto de referência. Longe de Deus o homem se perde nas ilusões do mundo. O jovem acabou alimentando os porcos. Uma das piores situações para um judeu que não come carne de porco. Ele estava num país distante sem identidade. Como se encontram a maioria das pessoas hoje.
Não fomos criados para a competição e para o individualismo. Estamos neste mundo para vivermos a solidariedade e termos a coragem de partilhar os bens espirituais e materiais que vamos cultivando em nossa vida. Por mais profundo que tenha sido o nosso pecado, Deus continua nos amando e quer que façamos parte de sua felicidade.
O filho mais novo representa cada um de nós que queremos “criar” planos pessoais independentes de Deus. Quanto mais nos afastamos d’Ele, mais nos perdemos em nosso próprio egoísmo que nos leva a verdadeira solidão. Por esta razão precisamos da oração para obedecer a Deus. Pela oração sabemos o que Deus quer de nós e criamos coragem para concretizarmos sua santa vontade.
Há muitos momentos em nossa vida que acabamos procedendo da mesma forma que o filho pródigo. Muitas vezes pensamos nas “alegrias momentâneas” que o mundo oferece e isto nos serve de substitutivo alienante de nossa própria realidade. A grande mídia tenta nos arrastar para estas alegrias mentindo para nós sobre a busca da felicidade. Para sermos felizes precisamos nos despojar das falsas alegrias para alcançarmos a verdadeira felicidade que não se encontra com muita facilidade. Pelo caminho dos nadas alcançamos o Tudo.
Quem é o filho mais velho? Um homem fiel ao pai? Pode ser que a sua fidelidade estivesse baseada no medo e não no amor. Ele é incapaz de perceber o amor do pai por seu irmão que ele acaba desconsiderando dizendo ser filho do pai e não seu irmão. A inveja muitas vezes é motivo de destruição de nossas comunidades. Muitas pessoas que se consideram “perfeitas” acabam destruindo muitas obras que poderiam salvar muitas pessoas. O inimigo de Deus se serve da inveja para nos separar. Faz que criemos mundos isolados longe da vida em comunidade.
Devemos sair do “cuidar dos porcos” para irmos até o “cuidado do pai” que sempre nos ama, pois somos criaturas suas. É melhor estarmos sobre a responsabilidade de quem realmente nos ama do que ficarmos submissos aos que querem nos aprisionar ao pecado que tem como fruto a morte. Este tempo de quaresma deve ser para nós um momento de cairmos em nós mesmos e nos sentirmos profundamente amados por Deus para nos transformarmos em agentes de seu amor na realidade onde estamos vivendo.

 “Senhor Jesus, queremos sempre reconhecer a realidade da grande misericórdia que sentes por cada um de nós”.