segunda-feira, 30 de março de 2015

TRÍDUO SANTO

 


“DEUS FAZ TUDO PARA QUE PARTICIPEMOS DE SUA FELICIDADE”.

A maravilha do cristianismo é saber que não é uma religião que partiu da iniciativa humana. Foi Deus mesmo que veio em busca do ser humano, obra prima de sua criação, para fazer que ele retornasse ao essencial. Ele se fez homem para nos salvar. Veio em nosso meio para mudar a história da humanidade perdida pelo efeito de seu próprio egoísmo. A fé no “Cristo Vivo” manifesta a infinita misericórdia do Senhor em relação as nossas fraquezas. Por esta razão ser cristão de verdade é sempre remar contra a correnteza e lutar contra si mesmo. O maior inimigo que temos é nosso próprio egoísmo.
Estamos iniciando o momento mais importante da liturgia cristã: O Tríduo Pascal. Segundo Santo Agostinho é o Sacratíssimo Tríduo do Crucificado, Sepultado e Ressuscitado. Nele celebramos a vitória de Cristo sobre a morte. Nós cristãos não tememos a morte porque ela é a passagem (PÁSCOA) para a vida definitiva. Os sofrimentos momentâneos que enfrentamos em nossa vida quando oferecidos em forma de oração são meios de preparação para a felicidade eterna. As tristezas momentâneas do seguimento de Jesus vão ter como destino a felicidade eterna. Ele morreu na cruz e apareceu depois para seus amigos. Assim como Ele ressuscitou nós também iremos ressuscitar para a Glória.
Não podemos esquecer que o cristianismo é a única religião que tem como base o testemunho apostólico. Os apóstolos tiveram a experiência de “ver Jesus” depois de sua morte ressuscitado. Esta verdade se torna a base da doutrina da Igreja. Por esta razão os cristãos não seguem uma ideologia ou filosofia de vida. Seguem algo relacionado com suas existências. Algo que exige deles uma constante mudança de vida. O cristianismo é uma religião que visa à prática do bem em vista da vida definitiva. Jesus sofreu para nos mostrar que esta vida é uma preparação para a vida eterna. Deus nos ama muito. A grande prova do seu infinito amor por nós é que Ele além de nos ter criado nos salvou em Jesus Cristo que deu sua vida para nos salvar.
A culminância do Tríduo Pascal não é a morte de Cristo, mas sim a grande vitória sobre a morte na Ressurreição. Assim como Ele ressuscitou um dia também nós teremos esta mesma experiência se vivermos os valores que ele nos deixou dentro de nossa vida concreta. Se crermos na ressurreição de Jesus somos convidados a mudar de vida. Por esta razão nunca será fácil ser cristão.
Deus manifesta sua misericórdia sabendo que somos incompetentes em nossa missão de amar. O cristianismo é religião da misericórdia. Da vinda do Senhor para nos salvar.  Deus coloca o seu coração ao lado do nosso cheio de fragilidades. Vamos nos preparar para esta grande celebração com o abraço do Pai que experimentamos no sacramento da reconciliação que é uma grande forma de nos tornarmos mais livres e felizes. Quando Deus nos perdoa e perdoamos a nós e aos nossos irmãos, acontece na nossa vida uma verdadeira libertação.
Deus nos cria e nos recria para Ele (reconstitui o homem que se perdeu no mal uso de sua liberdade), através dos mistérios da Criação (PAI), Salvação (FILHO) e Santificação (ESPÍRITO SANTO). O homem por si mesmo não poderia se salvar. Jesus Cristo verdadeiro Deus e verdadeiro Homem absorve todos os nossos pecados para nos libertar e nos trazer novamente a possibilidade de sermos filhos muito amados de Deus. O Criador jamais se esquece de suas criaturas. Deus “pensa” com amor em cada um de nós. Não podemos calcular o amor que Ele sente por cada ser humano criado para fazer parte de sua felicidade.
Vamos procurar destacar as três principais celebrações deste Tríduo Pascal para que estas celebrações transformem nossa vida.

 


CEIA DO SENHOR (Quinta-feira Santa):

 

Nesta celebração recordamos o grande momento da instituição da Eucaristia. Jesus antes de se dar no pão explica com um gesto concreto, lavando os pés dos discípulos, o que significa a consequência da Eucaristia: a caridade sem reservas e o serviço fraterno.

Jesus está presente no meio de nós através da Santíssima Eucaristia. Sua presença não é simbólica, mas real. O amor de Deus não é parcial nem instável como o nosso fragilizado pelo egoísmo. Jesus se dá na mesa da Eucaristia para que possamos viver o seu mistério dentro de uma relação comunitária. Começamos a ser cristãos quando vamos nos esquecendo de nossos planos particulares e procuramos concretizar o Plano de Deus.  A partilha de dons passa a ser essencial para a concretização do cristianismo. O sacrifício de Cristo sempre será recordado através da celebração da Santa Missa. Quando praticamos o bem mesmo no meio do mal, nos tornamos a extensão do que celebramos. A prática eucarística exige de nós uma constante conversão.

 


PAIXÃO DO SENHOR (Sexta feira Santa):

Já nos perguntamos alguma vez sobre o termo Paixão e por que ele é utilizado especificamente neste dia? O amor que Deus sente por nós é capaz de tudo. Até mesmo da entrega da vida preciosa de seu Filho. São João da Cruz nos diz que quem ama não cansa nem se cansa. É através da Paixão do Senhor que começamos a entender o grau de amor que Deus sente por suas criaturas. Jesus foi até as últimas consequências em sua obediência ao Pai para que todos pudessem ter novamente o que foi perdido pelo pecado.
Quando lemos os romances épicos, percebemos alguns elementos parecidos com o que Jesus fez por cada um de nós. Só que sua radicalidade ultrapassa qualquer romance. Não podemos imaginar a dor física, moral e psíquica que Jesus passou para que pudéssemos receber novamente a adoção de Filhos de Deus.
O que é amor? É o que a “grande mídia” (serpente) nos ensina? Não, amor é entrega. Amor é sofrimento para edificação do outro. É saída de si para complementar o outro. Muitas vezes exige despojamento e auto-superação de nós mesmos em favor do que amamos. Jesus se dissolve em amor por cada um de nós. Santa Teresa ao relatar sua conversão definitiva nos comove com suas palavras na recordação do que Jesus passou por cada um de nós individualmente e pela comunidade. O sofrimento de Jesus não pode ser em vão em nossa vida.
A celebração da Sexta feira Santa é muito importante para nós no sentido que nos recorda um gesto concreto de doação e amor da parte de Deus para com toda humanidade.
Ninguém pode se excluir do fato de que Deus amou tanto o mundo que lhe deu seu próprio Filho para nos salvar. Não estamos sozinhos nesta peregrinação rumo ao Eterno. A solidariedade de Deus chega ao ponto máximo para que possamos ter novamente a plenitude da vida. Neste dia jejuamos e fazemos penitência para sentirmos em nosso corpo o gesto de amor que Jesus passou por nós.


VIGÍLIA PASCAL (Sábado Santo):

A culminância do Tríduo Pascal não é a morte de Cristo. Não é a tristeza de refletimos sobre seu sofrimento e sua Paixão, mas sim a grande vitória da Ressurreição. O mais bonito de tudo isto é que assim como Ele ressuscitou um dia também iremos ressuscitar. Nós teremos esta mesma experiência se vivermos nossa vida na prática do Bem, no amor a Deus e ao próximo. A ressurreição é um processo de aceitação da grande realidade de que somos profundamente amados por Deus. Ela não é um fato isolado, mas compõe toda nossa existência. É uma opção de vida que tem sua culminância quando deixarmos este mundo. Começamos a ressuscitar quando descobrimos o que o Senhor quer de nós e tomamos a decisão séria de concretizarmos em nossa vida sua vontade.
Na vigília pascal rezamos e refletimos sobre a vida que supera a morte. Deus não é um Deus dos mortos, mas dos vivos. Ele nos criou para Ele e só n’Ele encontraremos a verdadeira felicidade. Somos todos chamados à conversão, ao retorno à fonte de nossa origem.
Como cristãos somos chamados a vencer as grandes crises de relacionamento que estamos vivendo para nos unirmos em torno ao Cristo Vivo e presente em nossa história. O homem contemporâneo não se sente amado e não consegue amar. Sem Deus viveremos sempre em uma grande crise afetiva.
Que este momento importante de celebração litúrgica nos sirva para sermos melhores em nossa vida vivendo os valores que o Senhor nos apresenta constantemente em sua Palavra.


“Obrigado Senhor Jesus por tudo que sofrestes para que nós pudéssemos experimentar a alegria da nossa futura ressurreição”.



segunda-feira, 23 de março de 2015

ENTRADA SOLENE DE JESUS EM JERUSALÉM


“JESUS CRISTO É O REI DE NOSSAS VIDAS”.

A semana santa se inicia com a Missa dos Ramos. Nela recordamos o fato da entrada de Jesus em Jerusalém. Ele entra para a vitória sobre a morte. Seu povo não entendia o significado desta entrada. O sentido da doação máxima que Jesus iria fazer em favor de seu povo e de toda humanidade. A revelação de Deus chega ao seu ápice na pessoa de Jesus Cristo. A nossa libertação só será possível no momento em que aceitarmos a sua pessoa de forma integral. Iniciemos mais esta semana santa recordando o imenso amor de Deus por todos nós e pedindo a graça de uma profunda conversão.


EVANGELHO (Mc 11, 01-10):

Quando se aproximaram de Jerusalém, na altura de Betfagé e de Betânia, junto ao monte das Oliveiras, Jesus enviou dois discípulos, dizendo: “Ide até o povoado que está em frente, e logo que ali entrardes, encontrareis amarrado um jumentinho que nunca foi montado. Desamarrai-o e trazei-o aqui! Se alguém disser: ‘Por que fazes isto?’, dizei: ‘o Senhor precisa dele, mas logo o mandará de volta’”. Eles foram e encontraram um jumentinho amarrado junto de uma porta, do lado de fora, na rua, e o desamarraram. Alguns dos que estavam ali disseram: “O que estais fazendo, desamarrando este jumentinho?” Os discípulos responderam como Jesus havia dito, e eles permitiram. Trouxeram então o jumentinho a Jesus, colocaram sobre ele seus mantos, e Jesus montou. Muitos estenderam seus mantos pelo caminho, outros espelharam ramos que haviam apanhado nos campos. Os que iam à frente e os que vinham atrás gritavam: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito seja o reino que vem o reino de nosso pai Davi! Hosana no mais alto dos céus”!



“Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!”

A entrada jubilosa de Jesus em Jerusalém nos recorda que ele é recebido por aqueles que estão mais abertos ao projeto de Deus. Ele também será condenado nesta mesma cidade por aqueles que não querem se abrir a nova realidade. Por aqueles que preferem à segurança pessoal em vez da insegurança dos que concretizam a vontade de Deus em suas vidas. Os que aceitam a luz rejeitam as trevas e as trevas odeiam a luz. Por isto os seguidores de Cristo sempre serão odiados pela sociedade que é alicerçada na mentira dos bens corruptíveis.
O povo de Israel estava ansioso pela chegada do Messias, o “ungido do Senhor” que traria a verdadeira libertação que esperava. A espera do Salvador, aos poucos foi deteriorada pela influência política e social dos que se serviam da religiosidade do povo para seus benefícios particulares o que vai desencadear na crise que levará Jesus a cruz.
Podemos cair na tentação de julgarmos os judeus por não aceitarem a Jesus, mas a situação que se desenrolava não era tão simples. Os interesses que envolviam a religião muitas vezes forçavam o povo a outras atitudes que não estavam de acordo com a sua originalidade. Dai podemos entender sua dificuldade de assumirem na totalidade o que Jesus lhes apresentava. A sua mensagem envolvia uma transformação muito mais radical do que eles pensavam. Até nos dias de hoje é muito difícil entender a linguagem contraditória do Reino de Deus, do projeto de vida de Deus em relação a cada pessoa humana.
Talvez tenhamos curiosidade para saber o que significa a palavra “hosana” e porque ela é aplicada especialmente neste dia dentro da liturgia. Fizemos uma pesquisa no Dicionário Enciclopédico da Bíblia (Editora Herder de Barcelona), para entendermos com mais profundidade o sentido e o significado desta palavra. É uma palavra hebraica que significa “vem em ajuda, dá-nos a salvação”. Esta palavra se encontra no salmo 118, 25 como forma de oração para pedir a Deus sua ajuda permanente depois da vitória. Na festa das Tendas, “hosana” se converteu em uma oração corrente de súplica e também um grito de louvor. Neste dia se fazia uma procissão com palmas de vários tipos, cantando as orações com a invocação hosana como estribilho. Esta palavra só se encontra no relato da alegre entrada de Jesus em Jerusalém. Todas as fórmulas usadas significam o cumprimento da espera messiânica. Se o povo que recebeu Jesus estava utilizando esta palavra é porque já estava tendo consciência da sua missão. Algumas pessoas do povo, pelos sinais que ele realizava, percebiam uma nova era que se iniciava em sua história.
Jesus vem em nome do Senhor. Ele é o senhor, verbo encarnado que vem aos que se abrem ao novo projeto de salvação. Deus tem uma linguagem paradoxal, que às vezes parece, para nossa lógica contraditória, mas Ele nos vê como criaturas em particular, com a nossa individualidade e na comunidade com os dons que devem ser partilhados. A Jerusalém de hoje é o nosso coração que precisa estar aberto para recebê-lo com alegria.
Vamos neste início da semana santa acompanhar os passos de Jesus que culminará no grande sinal que comprova sua divindade.


 “Senhor Jesus, que possamos vos receber com alegria em nosso coração.”





segunda-feira, 16 de março de 2015

O GRÃO DE TRIGO MORRE PARA SE MULTIPLICAR


“O SOFRIMENTO MOMENTÂNEO QUE ENFRENTAMOS NESTA VIDA NOS PREPARA PARA A FELICIDADE ETERNA QUE TEREMOS NO FUTURO”.

As palavras morte e vida são constantes no ensinamento de Jesus. Na realidade uma não coincide com a outra. Nós desejamos “salvar” nossa vida. Desde o momento da tomada de consciência no início desta vida desejamos alcançar a felicidade. Queremos que ela nunca se extinga. Experimentamos em nosso dia a dia momentos de felicidade que nos trazem muita alegria. Mas também vivemos momentos de sofrimento e angústia. Estes sofrimentos quando oferecidos a Deus são causa de nossa santificação. Só a adesão ao projeto de Deus poderá nos trazer a felicidade interior (paz), que nem sempre coincide com as alegrias exteriores. Devemos examinar as consequências daquilo que vamos fazer para não nos arrependermos no futuro. Quando praticamos o bem temos como resposta o bem que nos traz a alegria profunda que é fruto do amor de Deus em nós.




EVANGELHO (Jo 12, 20-33):
Naquele tempo, havia alguns gregos entre os que tinham subido a Jerusalém, para adorar durante a festa. Aproximaram-se de Filipe, que era de Betsaida da Galiléia, e disseram: “Senhor, gostaríamos de ver Jesus”. Filipe combinou com André, e os dois foram falar com Jesus. Jesus respondeu-lhes: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade eu vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto. Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém me quer servir, siga-me, e onde eu estou estará também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará. Agora sinto-me angustiado. E que direi? Pai, livra-me desta hora? Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. Pai, glorifica o teu nome!” Então veio do céu uma voz: “Eu o glorifiquei e o glorificarei de novo!” A multidão que lá estava e ouviu, dizia que tinha sido um trovão. Outros afirmavam: “Foi um anjo que falou com ele”. Jesus respondeu e disse: “Esta voz que ouvistes não foi por causa de mim, mas por causa de vós. É agora o julgamento deste mundo. Agora o chefe deste mundo vai ser expulso, e eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim”. Jesus falava assim para indicar de que morte iria morrer.



“Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto. Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna”.

A proposta de Jesus é sempre um questionamento para nós. Jesus renuncia a si mesmo para nos salvar. Se quisermos ser seus discípulos precisamos deixar nossos projetos particulares para assumirmos um amor universal. O cristão não se preocupa somente com sua felicidade particular. Quer que todos sejam felizes. A linguagem de Deus é sempre paradoxal em relação a nossa pequena visão da realidade. Os pequenos apegos nos levam à busca de nós mesmos e nos afastam da concretização do Reino em nossa vida. A pior consequência deles é que nos tornamos escravos e alienados. O consumismo acaba nos consumindo.
O tema sobre a morte sempre preocupou e questionou o ser humano em sua história. Com a vinda de Jesus os diversos questionamentos tiveram uma única resposta: Deus nos criou para participarmos de sua felicidade. Esta existência mortal é uma preparação para a vida definitiva. A morte é a porta que conduz à vida. Esta morte é sistemática. Acontece em vários momentos de nossa vida quando renunciamos a nós mesmos para fazermos a vontade de Deus. A cada renúncia que vamos vivendo nos abrimos a uma nova consciência. Começamos a entender o que Deus quer de nós.
São João da Cruz em seus escritos nos traz uma mensagem muito importante: Quando queremos chegar ao Tudo, precisamos ir pelo Nada. A renúncia de nós mesmos é essencial para sabermos quem nós somos. Jesus nos fala do grão de trigo que precisa morrer para perfilhar em outros vegetais que produzirão muito mais frutos do que se ele ficasse preso em sua pequena existência. Aí encontramos a raiz da verdadeira felicidade que o homem “moderno” se esqueceu completamente por confiar mais em si no que no Criador.
A morte e o sofrimento não são queridos por Deus. Surgiram como consequência do pecado. Deus se aproveita deles como meios de santificação, de reconhecimento do essencial.
Todos se questionam diante da morte: os sábios, os ricos, os pobres. A morte é um ensinamento para os que confiam em suas próprias forças deixando Deus de lado. Os cristãos chamam a morte de irmã porque é por meio dela que iremos passar para vida definitiva junto com Deus e todos os santos. Não seremos mais escravos do relativismo imposto pelo mundo presente que se fere a si mesmo. O mundo produz infelicidade para si e para os outros. Procura costurar as coisas boas de Deus com falsos valores.
Jesus para nos salvar passou também pela experiência da morte que não foi definitiva para Ele como não será definitiva para nós. Fomos criados para a eternidade. Por esta razão precisamos saber selecionar os valores e participarmos da missão salvífica de Jesus através de nossa colaboração com a missão de evangelizarmos a todos os povos e a todos os ambientes. Para que isto aconteça vamos passar pela cruz e pelo sofrimento momentâneo na certeza da paz definitiva.
Os gregos quiseram “ver Jesus”. Precisamos de uma amizade histórica com o Senhor para vencermos os nossos egoísmos e vê-lo na realidade e em todos os nossos irmãos especialmente os mais necessitados. Quando vemos Jesus somos obrigados a segui-lo dentro da realidade onde nos encontramos. A missão está sempre relacionada com a revelação. Deus se revela para nos enviar como instrumentos de salvação para os nossos irmãos. O seguimento de Jesus não é uma teoria, precisa passar pelo coração, pelo centro afetivo de nossa vida.
Deus quer que façamos desta existência mortal um processo de preparação para a vida definitiva vencendo aos poucos as nossas limitações. Neste tempo da quaresma precisamos recorrer ao sacramento da reconciliação. Pelo perdão de Deus saberemos nos perdoar e perdoar os nossos irmãos.



“Senhor Jesus, que possamos aceitar a realidade do sofrimento que devemos passar nesta vida para experimentarmos a verdadeira alegria que vem de ti”.




segunda-feira, 9 de março de 2015

JESUS E NICODEMOS

 

“O CRER EM JESUS CRISTO INCLUI UMA MUDANÇA DE VIDA”.


O seguimento de Jesus tem como consequência uma aceitação plena de seus valores em nossa vida. Percebemos no diálogo com Nicodemos que a vida de Jesus passa a ser um exemplo, um modelo de fé para todo aquele que crê. Jesus será levantado da terra, morto na cruz e ressuscitado, para que todo aquele que o olhar, especialmente para os seus valores possa alcançar o prêmio da vida eterna. O seguimento de Jesus não é algo relativo em nossa vida, é uma doação de todo nosso ser na prática efetiva do bem no meio do mal instituído na sociedade. Seguir a Jesus é um grande desafio. Somos tentados a viver no egoísmo e a proposta de Jesus sempre nos questiona na busca do bem comum. Enfrentamos duas forças que lutam entre si. O egoísmo e o altruísmo. Perder é ganhar e ganhar tudo é perder tudo.



EVANGELHO (Jo 03, 14-21):
Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: “Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna. Pois Deus amou tanto o mundo, que deu Filho unigênito para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas  para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê, não é condenado, mas quem não crê, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito. Ora, o julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más. Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas. Mas quem age conforme a verdade aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus”.


“Deus amou tanto o mundo, que deu Filho unigênito para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna”.

Neste quarto domingo da Quaresma Jesus em seu diálogo com Nicodemos afirma sua missão. Quando cremos em Deus, procuramos, dentro das nossas limitações, fazer a sua santa vontade. Não seremos felizes seguindo nossos planos particulares se não colocarmos o que Deus deseja de nós em primeiro lugar. O jejum, a esmola e a oração são meios para podermos sentir o essencial em nossa vida. O sofrimento oferecido nos leva a entender o quanto somos amados por Deus.
A opção por Jesus inclui uma atitude de Fé, Esperança e Caridade. Crer nele nos leva a uma atitude de esperança na vivência da caridade que será a consequência dos que acreditam no seu projeto.
Quando cremos em Deus passamos a ter os mesmos sentimentos. Esquecemo-nos de nosso pequeno mundo egoísta e de nossas pequenas alegrias superficiais para buscarmos a verdadeira felicidade que ocorre na partilhada de nossos bens espirituais e materiais com todos os nossos irmãos. Crer em Deus inclui a prática do bem imediato. Quem obedece a Ele está disposto a remar contra a correnteza do mal que infelizmente impera na humanidade dividida pelo desejo de prazeres momentâneos.
Percebemos nesta passagem do diálogo de Jesus com Nicodemos, que Jesus fala dos que aceitam e dos que negam o projeto de Deus. A Fé é um processo de aceitação da vontade misteriosa de Deus em nossa vida. Os que acreditam em Deus estão mais próximos da luz. Estão recebendo a radiação do amor de Deus com mais intensidade. Embora ela exista da mesma forma para todos. Por esta razão na administração de nossa existência não podemos medir esforços para nos direcionar até Deus e seus valores.  Somos obrigados a praticar aquilo que cremos. Não podemos dizer que acreditamos em Deus e em seu projeto de amor se as nossas ações não estão de acordo com o que professamos.
Quem pratica o mal odeia a luz. A luz é a verdade que questiona nossas ações. Quando estamos acomodados em nossos pecados criamos outro tipo de sensibilidade que nos faz “insensíveis” ao amor de Deus. Por esta razão percebemos que a única religião que é perseguida é a católica por deter a verdade do Cristo que não se mistura com a mentira do mundo. É comum a expressão de cristãos que dizem não se confessarem porque não tem nenhum pecado. Quando não temos luz em uma peça de nossa casa, por exemplo, não podemos perceber a sujeira que pode estar depositada em cima dos móveis do recinto. A prática do bem sempre nos questiona e nos leva à conversão.
Jesus será pregado na Cruz para olharmos para Ele. Termos Ele como exemplo para nossas vidas. As serpentes no deserto picavam o povo que havia se afastado do projeto de Deus, eram duros de coração. Hoje somos picados por diversos “meios” que nos afastam da verdade e destroem nossas relações. Quando o povo de Israel olhava para a serpente pendurada em uma haste, eram curados imediatamente. O Cristo crucificado é o maior espetáculo que podemos assistir em nossa vida. Somos curados do egoísmo quanto sentimos que Deus é solidário conosco. Jesus relativiza aquilo que pensamos ser absoluto em nossa vida. E coloca o Absoluto de Deus em primeiro lugar em detrimento do que não é essencial.
Nunca podemos esquecer que somos peregrinos nesta vida. Estamos todos a caminho da eternidade. Devemos construir um mundo novo mais solidário valorizando de forma correta a grande dedicação que Deus tem pelos seus filhos.



“Senhor Jesus, que o grande sinal da sua cruz redentora transforme nossa vida”.




segunda-feira, 2 de março de 2015

JESUS E O TEMPLO



“JESUS VEIO REALIZAR A VONTADE DO PAI”.
As atitudes de Jesus só poderão ser entendidas no momento em que percebemos o grande objetivo de sua vinda até nós. A ressurreição de Jesus é o fato mais importante para o cristianismo. Nela temos a certeza da nossa futura ressurreição. Jesus é radical em relação ao Templo de Jerusalém que era consagrado ao culto de Javé. Ele não admite mistura de objetivos nas coisas de Deus. Não podemos buscá-lo em seguranças econômicas. O verdadeiro culto é um exercício de abertura ao amor de Deus que muitas vezes é vivido no sofrimento e na miséria. O tempo da quaresma é um convite a uma abertura profunda a graça de Deus vivida no amor solidário.


EVANGELHO (Jo 02, 13-25):

Estava próxima a páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. No templo, encontrou os vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas que estavam aí sentados. Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. E disse aos que vendiam as pombas: “Tirai isto daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!” Seus discípulos lembraram-se, mais tarde, que a escritura diz: “O zelo por tua casa me consumirá”. Então os judeus perguntaram a Jesus: “Que sinal nos mostras para agir assim?” Ele respondeu: “Destruí este templo, e em três dias o levantarei”. Os judeus disseram: “Quarenta e seis anos foram precisos para a construção deste santuário e tu o levantarás em três dias?” Mas Jesus estava falando do templo do seu corpo. Quando Jesus ressuscitou, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e acreditaram na escritura e na palavra dele. Jesus estava em Jerusalém durante a festa da páscoa. Vendo os sinais que realizava, muitos creram no seu nome. Mas Jesus não lhes dava crédito, pois ele conhecia a todos; e não precisava do testemunho de ninguém acerca do ser humano, porque ele conhecia o homem por dentro.


“Que sinal nos mostra para agir assim?” Ele respondeu: “Destruí este templo, e em três dias o levantarei”.


A ressurreição de Jesus é o grande sinal da autenticidade de sua missão. Jesus é o Messias, o Consagrado, o Filho de Deus que irá restaurar todas as coisas não só para os judeus, mas para todos os que aceitarem a Boa Nova da Salvação.
Esta passagem do evangelho sempre nos causa certa preocupação em relação ao uso dos bens materiais, especialmente o que é relacionado ao culto. O templo de Jerusalém era o local privilegiado da manifestação de Deus. Ele representava toda unidade do povo de Israel. A atitude radical de Jesus relativiza o templo material e coloca a sua pessoa em primeiro lugar. Jesus representa cada um de nós neste momento. Deus quer habitar em nosso coração. Quer fazer parte de nossa intimidade. Muitas vezes transformamos nossa relação com Deus em algo formal e nos esquecemos que Ele é nosso amigo que caminha conosco em todos os momentos de nossa existência. O diálogo com Deus pode ser feito em qualquer lugar. A oração nos faz conhecer qual o plano de Deus em relação a nossa vida e nos dá coragem para concretizá-lo dentro da realidade que vivemos.
A afirmação do evangelho de que Jesus conhecia o homem por dentro nos faz refletir na grandiosidade de Deus em relação as suas criaturas. Somos muito importantes para o nosso Criador, somos a obra prima de seu amor. O pessimismo implantado pela sociedade em nossos corações já não consegue nos influenciar. Tornamo-nos novas criaturas, livres na força da certeza do amor do Senhor. Esta é a verdade que nos levará a liberdade e a paz. Não nascemos para sermos escravos da imposição das relações comerciais instigada pela “grande mídia”.
Deus é eternamente solidário conosco. Ele não nos cobra nada. Devemos ter esta mesma atitude em nossa vivência religiosa. O dízimo é uma responsabilidade fundamental quando é direcionado no sentido verdadeiro, mas não pode fazer parte da essência de nossa pregação. É uma oferta de nossa generosidade, de nossa boa vontade de ver as coisas de Deus progredirem para o bem do próximo.
Muitas pessoas querem utilizar o sentido religioso para enriquecer. Deixam a conversão pela ganância o que as coloca fora do plano de Deus. O dinheiro precisa ser nosso servo e não podemos servir ao dinheiro. Ele deve ser utilizado para a nossa manutenção porque infelizmente o homem não foi capaz de criar outro tipo de valor para sua sobrevivência. Os cristãos católicos devem estudar mais a doutrina da Igreja para não caírem em nenhum embuste de prosperidade imediata pregada pelas falsas religiões. Nós temos tudo. Os sete sacramentos são os sinais visíveis da presença de Cristo em nosso meio através da ação do Espírito Santo dentro da Igreja.
A ressurreição de Jesus vai ser a confirmação de tudo o que ele afirmou sobre a sua pessoa. Um dos motivos graves que levaram Jesus a ser condenado à morte foi a relativização do templo que era um “centro comercial” muito importante para os judeus. Beneficiava a vida de muitas pessoas no sentido econômico. A casa de Deus não é um comércio, mas lugar de paz e alegria.
Ser pobre significa ser solidário tanto com os bens materiais como espirituais. Devemos saber que o que temos não nos pertence. Somos parte de uma grande comunidade onde o bem que fizermos irá influenciar na vida de todas as pessoas.


 “Senhor Jesus que o nosso amor se volte para todos que necessitam de nossa solidariedade”.